2 de janeiro de 2019

20 ANOS SEM BENTEVI


           por Admmauro Gommes

Se você me lançar um desafio 
Desembesto fazendo poesia 
Do tufão eu faço calmaria 
E me viro num bicho arredio 
Faço o sol tremer de arrepio 
Faço ele nascer de madrugada 
Só não peça eu que entre na jogada  
Enfrentando o poeta Bentevi 
O maior cantador que eu já vi 
Fazer verso cantando embolada. 

Nesse ano dois mil e dezenove 
Vinte anos faz que ele voou 
A poesia daqui desmoronou 
Mas seu verso ainda me comove 
Se surgiu outro, que me prove 
Que fazia da letra um bisturi 
Na leveza que tem um colibri 
Inventando um negócio sem igual 
No repente, na rima, coisa e tal 
Como esses de Manoel Bentevi: 

“Naquele tempo odiento e obscuro 
Em que a ciência era trancada em um vaso 
Todo mundo imerso no atraso 
Eu olhei na janela do futuro 
O panorama da vida é muito duro 
E o destino do homem vem traçado 
Eu pra ver se obtinha resultado 
Do além e de coisas mais incríveis 
Penetrei no setor dos invisíveis 
Vi o mundo sorrir do outro lado.” 

Eu olhei na janela do passado 
Vi poetas de toda natureza 
Cantando seu país e a beleza 
Vi Ascenso Ferreira assentado 
Teles Júnior e Jaorish ao seu lado 
Elias Sabino, decano e rabi 
Ariano Suassuna também vi 
Ouvindo a poesia completa 
Daquele que nasceu pra ser poeta 
E assinava somente: Bentevi. 



Manoel Bentevi nasceu no Engenho Verde, em Palmares, no ano de 1911. Autodidata, poeta de cordel e cantador de coco e embolada. Inédito por muito tempo, foi promovido em Pernambuco pelo poeta Juareiz Correya, que destacou e projetou o seu trabalho com a edição especial da revista POESIA (nº 3, Nordestal Editora, Recife, 1982), inteiramente dedicada ao seu nome. Publicou o livro Desmanchando o Nordeste em Poesia (Edições Bagaço, Palmares, 1986) e deixou inédito o livro A Beleza Nordestina. Faleceu em Joaquim Nabuco (PE), onde residiu por muito tempo, no ano de 1999.  

Fonte: Poetas dos Palmares, pág. 82 (Org. Juareiz Correya)