OBRAS


ADMMAURO GOMMES 

nasceu em Xexéu, PE, aos 7 de fevereiro de 1965. Há três décadas, professor da FAMASUL. Filho de Amaro Maurício Gomes e Celina Severina da Conceição Gomes. Casado com Azivane Ferreira Gomes, de quem nasceram os filhos Ademac Allan Maurício Gommes, Poema Ferreira Gommes e Tércio Ferreira Gommes. Professor e poeta. Lecionou nas escolas Mário Gomes de Barros (Novo Lino, cidade em que foi Secretário de Educação, por três vezes), Paulo Pessoa Guerra (Xexéu, onde exerceu a função de Secretário Municipal de Educação (2022), pela quinta vez), Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul – FAMASUL (Palmares), com as disciplinas Teoria da Literatura, Literatura Brasileira e Literatura Portuguesa. Atuando, ainda, nesta IES nos cargos de Chefe do Departamento de Letras, Diretor Pedagógico (por duas vezes), Coordenador dos Cursos e Pós-graduação e Coordenador de Ensino da Faculdade de Ciências Sociais dos Palmares (FACIP). Lecionou Leitura e Produção Textual, Aspectos Sociológicos da Literatura Brasileira e História da Língua Portuguesa na Especialização. Reside em Xexéu (PE). 

Nos últimos anos, A. Gommes tem se dedicado ao estudo da obra de Vital Corrêa de Araújo, cuja poesia transcende a época contemporânea e lança um olhar estético para o futuro da literatura. Investigando a vasta produção de Vital, Admmauro reuniu cerca de vinte estudantes do curso de Letras da Famasul (2013 a 2018), além de vários professores poetas que passaram a analisar a estranheza do verso vitalino. Por conseguinte, entre seleção de textos, crítica literária, produção e reunião de artigos, mais de dez obras foram escritas acerca de VCA, sob a orientação de AG, inclusive Vate Vital (2ª ed.)



Até o final de 2020, havia escrito dois mil e duzentos poemas e 100 crônicas. É membro fundador da Academia de Cultura de Colônia Leopoldina (AL) e da Academia de Letras dos Palmares (PE).  Criou mais de quarenta obras, das quais já foram publicadas trinta e uma:

1. A solidão foi embora (1987)
2. Elegias matinais (1992)
3. Luta dentro de mim(1998)
4. Oito poetas pernambucanos (org- 1998)
5. Poetas do ano 2000 (org - 2000)
6. Pelos sete mares (2001)
7. Brasil: primeiro século de história literária (org - 2001)
8. Poemas do manancial de luz (2002)
9. A literatura e o Brasil do século XVII (org - 2002)
10. História do Xexéu (org - 2003)
11. Poetas do Xexéu (org - 2004)
12. Poetas da FAMASUL (org - 2004
13. Sonetos (2004)
14. Joaquim de Xexéu (org - 2005)
15. Para nunca mais dizer adeus (2006)
16. A mulher da sombrinha e outras crônicas (2007)
17. Estudos Literários e Sociolinguísticos - artigos em língua e literatura (2007)
18. Intradução poética (2008)
19. Sabores do Brasil (2009)
20. Cinco poetas e um luar (org - 2009)
21. O perfil do professor de literatura e as estratégias de produção textual (2011)
22. Síntese da Literatura Brasileira (2013)
23. A estranha poesia de Vital Corrêa de Araújo - org (2013)
24. Fernando Pessoa e o Mar (2015)
25. Direito pelo Direito - Uma questão de Justiça - org (2015)
26. O futuro da poesia - org (2017)
27. A Teoria da Poesia Absoluta (2017)
28. Vate Vital (2018)
29. Deztinos - org (2018) 
30. Caminhos para um novo empreendedorismo na Mata Sul Pernambucana (Org-2020
31. Cápsulas de Sol (150 aldravias) 2020



A POESIA DE ADMMAURO GOMMES


HAICAIS


Mantenha sua calma.
A lâmina do agressivo
corta a própria alma.


O que faz meu grito
tornar insatisfação
silêncio infinito?


Não se lança lume
no passado, que carrega
luz de vagalume.


A grande esperança
é fé que vê o não visto
até que se alcança.


Nem tudo se escreve.
Viva mais, escreva menos:
a vida é breve.


O mundo é pequeno
para tão pouco remédio
e tanto veneno.


Que sofrer profundo:
querer tomar para si
as dores do mundo!        


Nada de parar.
Perder também é lição
(para se evitar).


Há sarna na rua.
Cada um tem uma cruz.
Carregue a sua.


Aprende-se tarde
que quando se esquenta a vida
já é muito tarde.


Depois da paixão
dormi nos bares da vida
com a solidão.


PESSOAS QUE PARTEM
Admmauro Gommes

As pessoas que partem
parecem que partem
alguma coisa dentro de nós.
Como algo de cristal.
Mesmo partidas
continuam preluzindo
                        reluzindo
                           luzindo
                               zindo
                                   indo...
até transformarem-se em saudade.
  

MEDO
Admmauro Gommes

Tenho medo do sol que escurece meu dia
e das noites que escondem estrelas.
Dentro de mim tem um vulcão
que entre os pés da tarde e a boca da noite
insiste em colorir o céu de nuvens e pássaros.
Tenho medo desses pássaros que nascem de mim.
A cada estação
aves voam vermelhas violetas velozes
me rasgando a noite
lâmina de seda e raio de luz
me assustam como fantasmas
ao meio-dia.
Tenho medo do medo de me amedrontar
cada vez mais.
Cada vez menos
uma nuvem encobre meus pássaros.
  

O MEDO VEM DAS PAPOULAS
Admmauro Gommes

Toda escuridão é ignorância.
Um pássaro me assusta.
O medo vem das papoulas
e de sua fragrância.

Na noite intensa
reluta na mente escura
a criatura mais febril e indigesta:
é o homem que pensa.

Sozinho, na multidão de nadas
percorre a estrada perdida
onde os olhos bem abertos
não veem a própria caminhada.

Ignora-se o que é descoberta
e quando o sol se deita
esmorece toda luz interior
e se adormece na bruma incerta.


Do livro
Fernando Pessoa e o mar. Recife: Bagaço, 2015.
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A CASCA DO GRITO 
Admmauro Gommes
                                                              
Os lábios d’água
se abriram em flor
era primavera
quando amoleci
o sólido silêncio.
Corri ao encontro da dúvida
e provei amoras
amores amaros
como as cores frias
como lilases de prata nostálgica.
Mas eternizei os minutos
feitos de mármore e granito
seivas e soluços e quebrei
a flácida casca do grito. 


O CORAÇÃO PULSA DESTINOS 
Admmauro Gommes

O que pulsa no peito
pulsa na mente e nos músculos
acelera os passos da alvorada
e estrelas são derramadas pelo caminho
como se fossem rosas de luz.

Espanta-se a dor para outra galáxia
quando o coração
reveste-se de coragem e cimento
e o dia ressurge
aos cânticos do vento
e música do sol.

Como todas as manhãs
são noites que se cansam de escuridão
um dia também arranjamos fôlego
e deciframos auroras
porque o coração pulsa destinos
e se deleita em aromas e amanheceres. 



Do livro
O futuro da poesia. Recife: Bagaço, 2017. 
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QUEM TEM FORÇA DE VONTADE
Admmauro Gommes

Quem tem força de vontade
Se livra do mal caminho
Se quiser anda sozinho
Para fugir da maldade
Só trata com lealdade
Tudo na vida alcança
Com muita perseverança
Cura até um desamor
E dentro da própria dor
Se retira a esperança.

Com a esperança firmada
Consegue traçar um rumo
Levanta a vida no prumo
Que chega ser invejada.
Prossegue na caminhada
Não visa fazer maldade
Anda com sinceridade
Recupera o perdido
Não se dando por vencido 
Quem tem força de vontade.



DESMIMESMAMENTO
Admmauro Gommes

Não quero que a palavra diga
o que não vem de mim ou me interpretem
desmimesmando.
Portando, crateras de néstogas
e tropel de gímpazos
cordímbula de tráquitos
e moa perdendo suas folhas
no dínamo da última paneta
refigurando a beleza bazela
de Desdêmona injuriada.
Este é o meu retrato mais frazil
feito de liscas e benas maviais.
O mais que disserem de mim será
tráquenas de alguns dorcas retorgentos
ou puramente
a malínea xecônia dos magais. 

  
DUAS TORRES
Admmauro Gommes

Como um avião
explodindo
o coração do mundo
teus sentimentos me acertam
e
num gesto de suicidas
nossos corpos se desmoronam
como torres feridas.

                               
NADA INSPIRADO
Admmauro Gommes

Eis que um amigo me desafia
Sobre o processo de minha criação:
“Duvido que não use inspiração
Um poeta trabalhando a poesia.”
Não sei, talvez, pode ser que um dia
Quando eu estiver emocionado  
Eu lhe escreva um verso apaixonado
Não agora, que a palavra é um dilema
Me perdoe, não escrevo seu poema
É porque não estou nada inspirado.



NOME OCULTO 
Admmauro Gommes

 Não quero
 escrever teu nome na areia
 existem sereias maldosas
 que jogam água fria
 em amores flamejantes.
 Não copiarei
 teu nome num caderno
 sentimento assim
 não se registra com papel e tinta    
 nem se revela
 em frágeis declarações.
 Não publicarei
 teu nome no jornal
 pois a propaganda nada tem a ver
 com a alma deste negócio.
 Cunharei o teu nome no ar
 que ninguém vê
 e não se apaga.


CORTADOR DE CANA

Admmauro Gommes


 

Na minha terra
o cortador de cana tem como missão
suar a camisa
tirando sua vida com as próprias mãos
pelo patrão:
lambe a terra
limpa terra
cava a terra
fertiliza a terra
morre pela terra. 



E a cana-de-açúcar
planta
limpa
lavra
queima
corta
transporta
e transforma tudo
em açúcar, mel e dólar. 

Depois de se plantar

se cortar
se queimar
se matar
e carregar a usina no ombro e no braço
eis sua recompensa:
o bagaço.