28 de fevereiro de 2014

O POETA LANÇA O ENIGMA

Romilda Andrade/FAMASUL (Jaqueira-PE)

Romilda Andrade
Recentemente, li em uma revista a seguinte epígrafe de um escritor Britânico (Lewis Carrol): “Quando eu uso uma palavra, "Humpty", "Dumpty" (disse em um tom tanto formal), isto significa que eu escolho o que ela significa."
Sem nenhuma intencionalidade, me ocorreu naquele momento a resposta que eu tanto esperava a respeito da poética vitalina. Evidentemente, esta resposta não foi o caminho para entendê-lo, mesmo porque me recuso a isto, uma vez que o próprio poeta afirma que “se o leitor me entende, me derrota". Na realidade, Vital é sábio ao proferir essas palavras. No fundo, ele sabe que seus poemas são enigmáticos, o que ao torna ainda mais encantadores, e a busca para decifrá-los, segundo Diógenes, "é o complexo para pessoas inteligentes", aquilo que é contrário a poesias traduzíveis, cuja finalidade não passa de uma alienação para seus leitores.
Mas, voltemos à epígrafe. Descobri então que a beleza de ler Vital não se resumi às definições ou a significação das palavras. É, na realidade, uma tentativa de transformar a razão em sentidos, sob diferentes pontos de vistas; é o momento único e subjetivo entre o "objeto"(poesia) e a pessoa (apreciador), e entende-se por absoluto algo completo (poesia absoluta). Portanto, não há o que questionar.
Para findar este pensamento, gostaria de citar algo que me chamou a atenção! NÉSTOGAS! Deixemos de lado as definições que aqui pouco importam, mas nos preocupemos com as sensações! O que Néstogas te causam? Para uma apreciadora da literatura, chegou a ter um "sabor doce". Eis, porém, que chegamos involuntariamente à finalidade da poesia absoluta: Você é quem decide o que a palavra te diz, certo de que ela é totalmente desprovida de qualquer definição própria. Ratifico aqui as palavras do escritor britânico, o qual tomei como ponto de partida para esta reflexão, "Isto significa que eu escolho o que a palavra significa".
Fica claro, portanto, a magia desta poesia: o poeta não é mais sozinho, ele lança o enigma e o leitor decifra através de suas sensações. A subjetividade, ao lado da criação artística, é que faz a poesia ser entendia não como definição, mas como um processo de sensações a serem digeridas.


ADENDO:
A poesia absoluta nos remete a algo indefinível, que não se baseia em significações para existir. Sua natureza já traz consigo uma acepção subjetiva, que, partindo das sensações, pode-se identificar o “lugar” que nos leva à palavra. Eis então que surge o caminho... para onde nos levarão Néstogas!? – R.A.




19 de fevereiro de 2014

VITAL E A FAMASUL

FAGULHAS E EXPLOSÃO LITERÁRIA NA FAMASUL

“Tomei a liberdade de intitular este texto de Sylvia Beltrão, alinhando as letras iniciais dos nomes citados, justificando que a autora já aproxima sua linguagem poética da vitalina a ponto de eu ter confundido se um determinado texto era dela ou de Vital. Ela é, por assim dizer, uma dessas fagulhas responsáveis pela “explosão” mencionada por VCA, em vídeo disponível no Youtube (VITAL E A FAMASUL).” – AG  

VCA, AG e SB - Por Sylvia Beltrão

TEXTO DE SB - “Esse movimento de Poesia Absoluta não se confunde comigo. Eu posso ter sido a ignição, mas a transmissão foi Admmauro Gommes e a explosão foi na sala de aula do curso de Letras” (VCA). Este é um exemplo claro de que a regra matemática que reza: "a ordem das parcelas não altera o produto" está correta.
Concordo que Vital tenha sido ignição, mas ele também foi transmissão e explosão. Admmauro Gommes, idem. E os acadêmicos? Nós não fugimos a esta regra. Eles nos fizeram entrar nesse embalo! Aceitamos a proposta desses poetas de investirmos intelectualmente em nós. Em conjunto, adotamos a Poesia Absoluta como uma disciplina a mais em nosso curso. Nos dedicamos, abusamos das metáforas inauditas e deixamos de chover no molhado (imitando Admmauro Gommes). Abraçamos a complexidade dos versos, as (in)visíveis entrelinhas e provocamos duplos, triplos, incontáveis sentidos...
Esse sacode poético chegou em excelente momento, precisamos disso como amantes das letras. Está sendo um combustível a mais. Isso fica muito bem explícito em um trecho de uma canção de Jorge Vercillo (Eu e a vida): “Vem me pedir além do que eu posso dar / é aí que o aprendizado está”. Quando nos pedem algo que julgamos ser incapaz de ser realizado, mas mesmo assim nos aventuramos nesse desafio, como retorno, vem a superação, adquirimos saberes e isto é fundamental para quem almeja crescer intelectualmente.
Quando Vital surgiu na FAMASUL, de certa maneira “contradizendo” (no bom sentido da palavra) todo o conceito de poesia, causou espanto em muita gente (eu fui uma dessas pessoas, é bom confessar isso). Provocou, e achou briga das boas! Passamos a estudá-lo, admirá-lo, mas, pelo menos eu, nunca consegui entendê-lo. O objetivo de Vital parece mesmo ser inquietar os sábios, ao ponto de remexer os ids dos mais elevados pensantes. Sempre fracassei nesse assunto de interpretação vitalina e não sinto vergonha em afirmar isso, visto que Marcondes Calazans, um dos grandes intelectuais da FAMASUL, afirmou que “Vital é o complexo para pessoas inteligentes”, imaginem só minha precária situação como uma mera acadêmica... Mas eu não desisto fácil, gosto que me peçam além daquilo que acredito que possa realizar. Isso demonstra confiança de potencial.
Aproveitei ao máximo a experiência da passagem de Vital em minha vida acadêmica. Ele implodiu meus sentidos e os explodiu em forma de metáforas histéricas. Permiti vozes a todos os meus silêncios através dos meus versos. Dei asas ao meu id, deixei que ele se descompassasse mesmo, e nem parei para pensar nas loucuras que ele cometeria. Passei a escrever dez textos em apenas um (e entenda quem puder!). Descobri que isso também faz parte da literatura, graças à contribuição Vital Corrêa de Araújo e Admmauro Gommes, e desta vez, COM trocadilhos! VCA e AG: Néstogas absolutas de Sylvia Beltrão!

17 de fevereiro de 2014

A BOTIJA DE RICARDO

- Admmauro Gommes
 Ricardo Guerra é fiel guardião da cultura jaqueirense. Ele arquiva em sua memória fatos pitorescos e inusitados contados e recontados por sua gente que bem representam a linha do tempo do município da Jaqueira, em Pernambuco. De vez quando, abre a gaveta e começa a esmiuçar causos acontecidos que ele mesmo presenciou, testemunhou ou ouviu de alguém de inabalável reputação. Lembrança de ocorridos fabulosos e história de encantamento.

 Um dos casos mais frequentes que ele gosta de contar é que tem uma botija de ouro fino dentro de seu quarto. Esta fortuna já foi dada a alguém certa vez. Um dia, dona Filó sonhou que estava escondida uma botija de pedras preciosas aqui dentro de casa, bem no meu quarto, diz Ricardo, com um sorriso dourado.
Na hora combinada para retirar o tesouro, estavam presentes Seu Eurico do Bar, seu Marinho Retratista e seu João Tavares. Cada um mais medroso que o outro. De repente, se ouviram passos descendo pela escada e os três amigos se arrepiaram do pé a cabeça: toc... toc... toc... paft! Silêncio profundo. E... strambract! Jogaram um pedaço de tijolo “deste tamanho” que passou raspando a cabeça de seu Eurico e estambocou a parede, bem naquela parte ali, aponta Ricardo. O Candeeiro que seu João Tavares levava na mão, se espatifou no chão. Foi um ai-ai-ai tão grande que acredito que ainda em hoje tem gente correndo com medo da alma penada que jogou a lapa de tijolo na parede.
Pronto! Perderam a empeleitada. Para esses, não terá mais oportunidade. Mas se vocês sonharem e tiverem a sorte de alguém lhes escolher para retirar a botija, pode vir na minha casa que eu autorizo a retirá-la. Aliás, como sou prevenido, já tenho reservado um punhado de cerâmica para depois tapar o buraco. Mas tem um porém: quem conseguir resgatar todo o tesouro deve mudar-se imediatamente, na mesma noite, desta cidade.
Aí eu perguntei: Oh! Ricardo, por que você não arranca esta botija e fica pra você mesmo, já que ela está dentro da sua casa?
Ele me respondeu:
- É que eu gosto tanto de Jaqueira que nenhum tesouro me faz arredar o pé deste lugar.
Palmares, 7 de fevereiro de 2014.