Admmauro Gommes
Escritor, palestrante e professor
de Teoria Literária
da FAMASUL/Palmares (PE)
admmaurogommes@hotmail.com
Recentemente, a pedagogia tem recomendado a contação
de histórias para crianças como algo que incentiva a imaginação e desperta a
criatividade. Defende, portanto, que ao estimular as funções cognitivas, a
aprendizagem acontece com mais naturalidade, quando esse recurso é
empregado.
Diremos pois, que nem só as crianças se encantam
ao ouvir uma bela narrativa e se envolvem com as peripécias do herói. Os
adultos também. Basta encontrar alguém que leve jeito em discorrer sobre um
fato curioso que a atenção é presa pela habilidade do narrador. A forma
descontraída de narrar nos convence, ainda mais quando estamos diante de um
habilidoso e envolvente conversador.
Com tantos meios atuais de que dispõem as práticas
educacionais, o velho método de contar uma boa história continua
fascinando a todos. Mas é bom que se diga que ler um texto é uma coisa. Ouvir o
autor declinar o mesmo episódio, ali na bucha, é outra coisa. São modos
diferentes de narrar. A escrita tem seus pontos positivos: parte de uma
cuidadosa seleção vocabular, além de revisão gramatical e da busca pelo
aprimoramento de um estilo literário. Portanto, diante da voz do escritor,
vendo seus gestos, olho no olho, é como se nós estivéssemos dentro da
cena, vivenciando o enredo ao lado das personagens. A recepção, pela oralidade,
nos fascina de tal modo que tudo que se encontra a nossa volta, alheia ao
relato, passa despercebido. O próprio autor quando expõe o que antes escrevera,
impõe um caráter dramático aos episódios. Isso é impressionante.
Constatei essas evidências depois que li a obra
“Somente a verdade” de José Paulo Cavalcanti Filho, e tive a oportunidade de
conversar com o autor. Foi um momento empolgante ter o narrado em primeira mão,
por uma ocular testemunha. Assim, cenários e demais caracterizações passam a
ser familiares pela proximidade com quem relata.
Quanto ao livro, seu texto é muito bom. Vem da
lavra de quem escreveu mais de mil e quinhentas crônicas. Um veterano contador
de ‘causos.’ Enquanto acendia um charuto e jogava a espiral de fumaça para o
ar, José Paulo inclinava a cabeça para trás, vendo a nuvem que se formava sob
sua cabeça. Naquele enlevo, a memória era acionada, como se abrissem arquivos
e mais arquivos entrelaçados pela lembrança. Pronto. No desfazer da
fumaça, vinha uma história atrás da outra.
Tudo nos mínimos detalhes. Era a visão de quem lá
esteve, destacando a ambientação com extraordinário domínio. Por isso, contava
com propriedade o que presenciou. Bem mais que verossímil, afirmava que os
fatos eram verdadeiros. E eram mesmo. Usava uma gama de recursos
linguísticos e extralinguísticos para que se tornasse o mais real possível, do
jeitinho como a coisa se deu. Narrativas assim, ficam na mente do ouvinte e não
se dissolvem por muito tempo pois as imagens bem elaboradas permanecem impregnadas
na memória. Nem mesmo a fumaça se esvai.