Admmauro Gommes
Poeta, cronista e professor de Teoria Literária
admmaurogommes@hotmail.com
Existe
uma confusão muito grande quando se trata de classificar e entender o que está
além da curva e das rotas normais da tradição. Na maioria das vezes, rotulam-se
novos comportamentos com discriminação. Este modo torto de ver o mundo
representa um olhar distorcido e arcaico e deve ser rejeitado em qualquer
instância, modo e lugar.
Não é por ser diferente que
alguém é inferior, tampouco superior a nada, apenas pela diferença. O teólogo
Bartolomeu Antônio, de Xexéu, lembrou-me esta semana uma frase de Clarice
Lispector, da obra “Um sopro de vida,” que diz: “O que me mata é o cotidiano.
Eu queria só exceções” É que a exceção é peça extraordinária e atraente. A
rotina mata qualquer um de tédio. A regra é comum, geral; o segredo está nas
exceções. É por este motivo que os artistas inventam seus mundos, não raras
vezes carregados de esquisitices, mas nem por isso são bons ou maus. Apenas
inusitados, indicando a marca de determinados estratos sociais ou individuais.
Ser diferente não é tão normal, como dizem, e pode ser alvo de exclusão ou
privilégio. Depende muito do momento histórico em que se vive, como nos tantos
casos de pequenos grupos religiosos, artísticos ou políticos. Acontece que os
mesmos perseguidos podem ser transformados em heróis, tempos depois.
Destarte, tudo que foge do comum,
do padrão, deve ser observado com expectativa pois está próximo do atrativo (ou
da repulsa, que é o avesso da atração). Afasto aqui qualquer julgamento moral e
direciono a discussão para o plano estilístico e/ou estético. O que se reveste
de espanto muda o rumo das coisas e provoca alterações inevitáveis em uma
sociedade que sofre constantes mutações.
O outro, por não ser uma cópia
nossa, causa estranheza. Esta situação se percebe quando alguém anda em
descompasso com a maioria. É o caso de Vênus, um planeta que não gira no
sentido horário, igualmente aos demais. Isso tem me inquietado muito! Como é
que um planeta se “revolta” contra seus pares? Mas é algo excepcional e a
ciência ainda não explicou. Nem ela nem Freud. Aliás, o que o Pai da
Psicanálise explicou minuciosamente foi a condição de o estranho ter sido parte
deslocada de nós mesmos, bem familiar em outro tempo, na infância, talvez.
(Artigo “O Estranho” - 1919) Seria assombrar-se com a própria sombra ou o fato
de Narciso achar feio o que não é espelho?
Normal é fato comum. Os
diferentes nos são estranhos e por não entendê-los, quase sempre os rejeitamos.
Isso é que não é (e não pode ser), normal. Anormal é não reconhecer com
igualdade que os outros têm o direito de ser diferentes.
A dificuldade de lidar com o quê ou quem é diferente de nós é cultural, mas também denota receio psicológico de enfrentar a saída da zona de conforto. O conhecido,o já estabelecido,faz parte de nossos domínios e, por isso, tendemos a agir com preconceito ao que nos tenta tirar da seara do habitual, ainda que esse movimento nos permita expandir.
ResponderExcluirMas justamente pela necessidade de expansão é que devemos seguir o caminho da aceitação ou, no limite mínimo, o da tolerância (palavra com a qual não simpatizo muito) com o diferente. Abrir-se ao novo coloca-nos na senda da (r)evolução moral, científica e estética. Aceitar os próprios preconceitos como confortáveis paralisa-nos as idéias e conceitos, tornando-nos obsoletos com o passar do tempo.
Sim, ser diferente não é normal, mas só o anormal pode nos definir como seres racionais, em ininterrupto processo evolutivo.
lindo texto
ResponderExcluirNão sabia que Vênus ģira ao contrário dos outros planetas!
ResponderExcluirAlguém falou:"Dificil é vermos a imagem de Deus em outras pessoas diferentes de nós."
Hoje a doutora Raquel Gonçalves falava sobre está sua crônica, tecendo os maiores elogios. Aí foi que vim conferir.
Excelente mesmo!
Gostei muito do seu texto, professor!
ResponderExcluirRealmente, "Ser diferente não é tão normal, como dizem".
Posso usar essa sua frase? Rsrsrs Pode ter certeza que não esquecerei de dizer que é sua. kkk