A poetisa Ninah esteve no 1º Período de Letras da FAMASUL (28.11.12) e fez uma brilhante explanação sobre a criação poética e sua maneira de compor. Detalhou os aspectos de seu poema Me abrace, que foi alvo e muita apreciação pelos universitários da referida turma, e tiveram a oportunidade de “entrevistá-la” coletivamente. Ela se definiu como uma poetisa que busca a liberdade e seus textos têm, como prioridade, o cunho metafórico pois, na sua visão, é elemento essencial para a poesia. Ninah agradeceu a participação dos que fizeram comentário sobre seu texto no blog e recebeu elogios, afagos e abraços.
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Ninah |
A POESIA INTIMISTA DE NINAH MARIA
“Posso resumir ME ABRACE como um poema repleto de poesia eminente e fluente em sua inigualável originalidade; o mesmo nos deixa respirando e espirando poesia, imaculada poesia." - Marta Roberta Ramos da Silva (1º período de Letras/2012.2)

ME ABRACE (NINAH MARIA)
"Abraça-me
Abrasa-me."
Juareiz Correya
Me abrace sem nenhum disfarce.
Nenhum carinho de irmão
sem nenhuma piedade
brutalmente, me abrace!
Até que tudo isso passe
até que se ponha o sol
até que eu possa ver meus dedos
dedos cobertos de neve e chuva
entre os humanos pecados, me abrace!
Porque a cidade é fria e você sabe
e eu me sinto desvairada
à mercê de me apaixonar.
Não soltes pelo frio na barriga.
Não provoque o desenlace
até que eu tenha forças
até que tudo acabe exacerbado
mesmo assim, me abrace!
A vela que se quebra do meu barco
assusta os homens
e a chaga que inflama os ossos me consome
pelos meios antigos de homem
descarado como és, me abrace
porque eu sinto vazio
e não é mais a dor que esfria a alma
é a força de braços transparentes
braços ainda dormentes
braços que se tendem afogar
totalmente desacobertados
mas ainda assim, me abrace!
Veja que eu me reviro solta
subo pelas rochas
me equilibro no escuro
é assim que eu sou
fechada em qualquer outro braço
eu não vejo o contrário
os anos me tiraram o pudor
e ainda assim eu sinto o calor depoente
que me abraça, mesmo que descrente
mais não pense!
Apenas me abrace!
Eu estou descobrindo coisas
eu estou descendo em abismos
me arriscando e saindo na escuridão
abrindo janelas
caçando borboletas.
Sou feita e cheia de partes
que acobrem e desenrolam hastes
escondidas outrora em mim.
Eu descrevo meus versos
como se fossem linhas antigas
feitas há muito, muito tempo atrás.
Cerco de mãos vazias de braços omissos
círculos de culpas e dores
e humanidades...
Eu procuro em mim tuas veias
o que de fato poderei sentir
de um dia após o outro
na ideia de dois braços
que têm mentido e negado os laços
de minha palidez visível para o tudo que passou
sofro, pois tem sido só carne.
Antes fosse o calor que sentia na infância
mas não pense tanto como quem ama
olhe nos olhos desconfortáveis do relógio
olhe para o vidro do poeta que se parte.
No desconforto da existência, antes fosse sozinha...
Fujo em teus braços de mago e mágica.
Me dê sua porção.
Me alugue em suas unhas
que me abrem sobre dedos, compridos, sem defeito
mas fique calado, frio e calmo
nos meios de ti... me abrace.