12 de setembro de 2018

COMO OS POETAS PRODUZEM SEUS TEXTOS


Maria Aparecida Santos da Costa
Letras/Famasul

A literatura é uma forma artística de expor nossas ideias, opiniões e sentimentos, através de palavras. É aquela que faz uso de nossa total imaginação, além de usar termos metafóricos capazes de despertar o interesse do leitor.
Ora, os poetas são os responsáveis por transformar os desejos mais difíceis em sonhos reais, que alimentam sua alma através da essência da poesia e que penetra o nosso íntimo arrancando lágrimas e sorrisos. E como já dizia Aristóteles (A poética Clássica), “A obra do poeta não consiste em contar o que aconteceu, mas sim coisas que podiam acontecer, possíveis no ponto de vista da verossimilhança ou da necessidade.”
Podemos tomar como exemplo o que Admmauro Gommes falou sobre o processo de sua criação em “A Pólvora das Angústias:” “A criação de um poema exige sempre grande esforço por parte de quem escreve para condensar um monte de experiências em um único texto. É processo vigoroso de constantes diálogos internos no/do autor. É preciso lançar mão de todos os requisitos que se dispõe, toda experiência de vida e apuro técnico”.
Dessa forma, é possível observar que o texto literário é um processo gradativo e que para chegar a seu produto final, é necessário que haja um trabalho duro por parte dos poetas, não só com as palavras e a habilidade técnica, mas também com sua experiência de vida, afinal, o poeta é o inventor de seus próprios versos e que faz da sua criatividade e dos elementos metafóricos sua arma mais poderosa, porém, por trás de cada verso existe uma história ofuscada incapaz de ser revelada e que talvez o próprio escritor a desconheça.
Aproveitando ainda as palavras de Admmauro, podemos constatar a explicação de como surgiu o título do poema e seu verso inicial, transcrito de um comentário seu que recebi por email: “A ideia que logo me surgiu foi ‘barril de pólvora’ e o verso inicial ocorreu mediatamente: “O fogo das angústias congela desejos.” Gostei do paradoxo “fogo/congela” mas a imagem da pólvora, implícita no fogo, me guiou até o fim. Podemos dizer que esse foi o estopim do processo criativo”. Percebe-se que o autor afirma que o verso inicial do seu texto foi primordial para a invenção dos outros, e o conduziu até o final.
Portanto, é notório que para a produção de uma obra literária não seja necessário de alguém que possua um dom ou de uma força sobrenatural que age sobre os poetas, até porque o grau de perfeição de um texto está na sequência de treinamentos e de esforço pessoal de cada um.  É um trabalho que possui um processo contínuo do escritor em que ele precisa conhecer o que se escreve e onde quer chegar.
Ainda no livro “A poética Clássica”, podemos encontrar “A arte poética de Horácio: o trabalho e a disciplina como fatores criativos”, onde o autor destaca nitidamente isso, afirmando que: “o poeta só atingirá a perfeição se tiver pleno domínio do material criativo, o que não será possível senão através da razão, do trabalho e da disciplina, instâncias diferentes de uma mesma atividade de busca de perfeição artística.”
Dessa forma, o poeta além de criar as mais belas poesias, ainda são os responsáveis pela construção verbal, pois a composição de uma obra literária e o trabalho do escritor não se resumem apenas no momento da criação e sim do domínio da técnica e de sua criatividade que cresce através do trabalho desenvolvido e das experiências que foram adquiridas no meio do caminho. Além disso, um bom texto literário não é aquele que atende aos preceitos tradicionais e que está dentro das normas técnicas, afinal, com a poesia absoluta os textos literários estão indo muito além da métrica, do ritmo e da rima como podemos observar em “Deztinos,” uma antologia que está sendo preparada com poetas a partir da Famasul. Nela, há uma seleção de poemas absolutos, e é notório que ao produzir os textos, os escritores foram provocados por algo que o instigou a fazê-los, e que esse trabalho só teve êxito com o esforço e a dedicação até chegar ao produto final, o que foi necessário passar por um processo de escrita ou talvez de uma reescrita, pois só assim, é possível chegar ao resultado em que o poeta esperava, ou talvez, indo além do que imaginou.
É possível dizer que os poetas, para produzirem seus textos, recebem estímulos diferentes e são provocados por objetos, e movidos por uma força chamada de poesia, que os instiga a escreverem.
O segredo não está no poeta e sim no que ele carrega dentro de si, no seu esforço e na sua dedicação diária. Para quem lê o texto literário não sabe o que se passou na cabeça do autor no momento de sua criação, talvez o título não tenha sido aquele de imediato e o primeiro verso nem se aproxime do que esteja no papel. E mal sabe o leitor o trabalho que houve para fazê-lo, mas para um verdadeiro poeta, a beleza da sua obra não está em quantas folhas precisou arrancar para produzir um texto, ou em quantas noites acordado necessitou para que sua arte ficasse pronta.
A verdadeira beleza está no leitor, ao terminar de ler, afinal, a perfeição de um texto literário está nos olhos de quem o vê e pode ter certeza que não há nada mais gratificante do que isso, para um poeta.



5 comentários:

  1. Respostas
    1. Isso mesmo, Pablo. Vocês fazem parte de uma geração influenciada pela investigação do poético, principalmente pelas inquietações provocadas por Vital Corrêa. Aliás, ele está de livro novo: CATÁLOGO DE ÂNGULOS.

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  2. A motivação para a boa produção de um poema pode fazer um diferencial no seu produto final e a reescrita e um processo necessário para que o poeta tenha segurança de que seu objetivo será atingido.

    Excelente produção textual!
    Parabéns continue assim...

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