Lendo a versão digital de Coração Portátil, que me foi enviada por
seu autor, eu apenas acrescentaria mais duas mensagens à lista memorável de
epígrafes que abrem a quarta edição da obra (2014) de um dos maiores poetas
contemporâneos, Juareiz Correya dos Palmares. São estes: “Mundo mundo
vasto mundo, mais vasto é meu coração" (Drummond) e "Se eu tivesse um
coração, escreveria meu ódio sobre o
gelo, e esperaria que saísse o sol" (Gabriel Garcia Márquez). Isso é só para
começo de conversa, pois o livro já está completo e representa um marco na
carreira do escritor.
Em outro momento, comentei o poema número 3, no meu livro
Intradução Poética (2008). Citei o referido texto (Abraça-me/Abrasa-me) e
tentei explicar o inexplicável, o intraduzível. Transcrevo ao pé da letra como
está naquela edição: “Como exemplo de inovação poética, pode-se citar o caso de
(...) Juareiz Correya. A simples troca de uma consoante (ç/s) provoca um
deslize do abraço para o acaloramento humano, ou seja, do afago ao fogo. Dessa
forma, o eu lírico pede, reclama o abraço e, por extensão, o abrasar-se.
Juareiz Correya |
O que está nas entrelinhas do poema (de apenas dois versos) é bem
mais significante para a economia do texto, que muitos longos escritos que não
dizem quase nada e estão abarrotados de rimas pobres e saturados em si mesmos
por repetirem velhas imagens figurativas, como por exemplo: tu és a flor do meu
jardim. Enquanto isso, em Juareiz, observa-se, ainda, a procura de outras
possibilidades ilustrativas, tendo as palavras como objeto visível, pela
posição em que se encontram, como se fossem dois corpos deitados, um por cima
do outro. Depreende-se da sugestão que só serão abrasados depois de abraçados e
os corpos se completam porque são, exatamente, do mesmo tamanho, possuindo
igual quantidade de letras. O poema sugere um ciclo interminável: enquanto houver
abraços, há fogo e o fogo é a causa e consequência do mesmo abraço, podendo ser
lido do final para o começo: abrasa-me/abraça-me.”
Como se pode ver, não esgotei nem duas veias do
coração do poeta, que é infinitamente portátil.
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