13 de novembro de 2014

MANOEL DE BARROS

OS DESLIMITES DA PALAVRA

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.
Estou atravessando um período de árvore.

(BARROS, Manoel de. O Livro das Ignorãças - 6ª ed. - Rio de Janeiro: Record, 1998)

Um comentário:


  1. Manoel de Barros seria um poeta absoluto, conforme à ótica de Vital Corrêa de Araújo? De qualquer forma, como ele disse, "Não posso mais saber quando amanheço ontem."

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