OS
DESLIMITES DA PALAVRA
Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.
Estou atravessando um período
de árvore.
(BARROS, Manoel de. O Livro das Ignorãças - 6ª ed. - Rio
de Janeiro: Record, 1998)
ResponderExcluirManoel de Barros seria um poeta absoluto, conforme à ótica de Vital Corrêa de Araújo? De qualquer forma, como ele disse, "Não posso mais saber quando amanheço ontem."