Marcondes Calazans
Professor
de História e historiador/FAMASUL
Marcondes Calazans |
Dentro
desta manhã, um sábado (24 de agosto), dia curto que nos divide entre o domingo
e a segunda feira, dia que nos joga mais uma vez a mesma rotina, nós enquanto
trabalhadores da educação que gostaríamos que o fato se resumisse em mera
ficção fosse apenas algo que alguém escreveu (literatura), e eu, sem pressa e
preocupação com o tempo e as responsabilidades do dia-a-dia, despojado numa
rede amarrada de um pé de coqueiro a outro, diante de um oceano esplêndido sem
o senso do ter que fazer a mesma coisa após os dois pseudos dias de descanso,
só contemplar o tempo passar...
Mas
não! Não! Hoje é sábado, amanhã é domingo e depois a famigerada segunda-feira,
dia em que tudo começará de novo. Diferente do nosso amigo Rodrigues, que vive
buscando a cada dia novas rotinas no canto que escolheu viver despojado por
entre as árvores e o cantarolar dos pássaros, os mais diversos, cujo desafio
ele busca preservar com profundo primor e devoção, levando-me a acreditar a
cada momento que, dos seres humanos que conheço é o único sano, em se tratando
de existência plena.
Mas
vamos ao tema. Primeiro conceituando o termo ficção, que segundo o nobre amigo
Ricardo Guerra é mera criação da imaginação, substantivo feminino que nos
empurra muitas vezes ao ato de fingir ou simular alguma coisa. Por exemplo:
temos a novelesca realidade produzida pela televisão e pelo cinema, muitas
vezes nos obrigando a relacionar a imaginação do autor, do roteirista com a
realidade. Quem já assistiu ao filme Matrix pode fazer essa comparação e
concluir que não há limite entre ficção e realidade. No filme, é visível o
roteirista mostrando o homem a serviço da máquina que virtualiza sua imaginação.
Hoje, agora, nesse momento, chego a perguntar-me: O que acontece agora? Eu
estou a serviço da máquina que escrevo ou ela ao meu serviço?
Na
era da pós-modernidade, cujo termo Gilles Lipovetske chama de hipermodernidade,
é possível concluir que a ficção, narrativa inspirada pelo progresso da
ciência e da tecnologia, cujos lances situados em geral no futuro, pretendem
antecipar-se (e às vezes se antecipam) às novas descobertas científicas. O que
dizer do tablet, o computador, o smartfone da tecnologia que revolucionou
o livro de papel colocando milhões de informações numa tábua eletrônica de um
software?... Antes era ficção científica, hoje é mera realidade. Lembro,
no século passado, assistindo ao filme “Jornada nas Estrelas”, a
comunicação via uma pequena televisão onde o capital da nave estelar se
comunicava com seus subordinados, hoje, isso é possível através de um simples
telefone: você filma, fotografa, e em tempo real o mundo fica ciente do
acontecido.
Por
que o homem cria ilusões de realidades, espaços e pessoas inexistentes para
contar histórias que nunca aconteceram? Por que produz imagens que não se
encontram na natureza, de forma a materializar visualmente as ideias que temos
na cabeça?
No
longo período da história da humanidade, o homem, através da filosofia, da
arte vem estudado o limite que existe entre ficção e realidade. A ficção é
fruto de sonhos não realizados e de prognósticos feitos diante da velocidade em
que o mundo vai. “É a camuflagem do limite entre
representação e realidade que dá início e sentido ao problema” Se nenhuma
imagem é o real, como transmitir o real? O problema de linguagem passa a ser
"como contar a verdade?".
É
um tanto difícil estabelecer limites sobre o que pode ser ficcional, e o que
pode ser uma "interpretação real". A Enciclopédia Larousse define
ficção como "ato ou efeito de simular, fingimento; criação do imaginário,
aquilo que pertence à imaginação, ao irreal; fantasia, invenção".
Creio,
piamente, que a Larousse precisa de revisão, pois, sua concepção de ficção tem
vetado os limites da realidade, considerando que na atualidade ficção e
realidade são frutos de um mesmo tempo, de uma mesma época, em que a
imaginação e o fato andam abraçados, às vezes de mãos dadas.
FICÇÃO E REALIDADE NA HIPERMODERNIDADE
ResponderExcluirUma característica importante da natureza é a "impermanência", fruto da transformação constante de toda energia universal em fluxo constante de movimento. A ideia de realidade parte da mente que constrói o "ego"; identidade ávida de segurança a todo custo, criando realidades que tentam estabelecer sentido à vida. Quando da análise de comportamento das partículas subatômicas, principalmente do elétron, que em questão de probabilidade num determinado instante se apresenta como matéria e noutro como onda e, considerando que, a consciência também é fluxo de energia; o limite entre ficção e realidade é uma questão de conceito construído pela mente, dependendo dos condicionamentos decorrentes dos arquétipos sociais.
Não resta dúvidas de que, para o mundo sensível que privilegia as formas e a estética, o relativismo cria a realidade porém, em nível macro, predomina a ilusão.
Desejo informar ao amigo Marcondes que não havia comentado textos anteriores devido a problemas com o computador.
ExcluirO Coronel Reginaldo tem razão. Bem disse o poeta Gregório de Matos, sobre a "impermanência" das coisas:
"Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância."
Concordo,quando o autor afirma que:"a ficção e realidade são frutos de um mesmo tempo... os mesmos andam abraçados, ás vezes de mãos dadas, pois a ficção é nada mais do que uma imaginação de um ser, que são expostas em algumas entrelinhas de um determinado poema"
ResponderExcluiraluna: Gabriela Raianne
ExcluirFicção é "imaginação de um ser." Até aí, tudo bem. Mas qual o limite dessa imaginação no ser? Esta é a questão em debate.
Nenhum limite, caro poeta Admmauro, apor-se limites a imaginação é como querer segurar água corrente com as mãos.
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