Admmauro
Gommes
Poeta,
Professor de Teoria Literária e
Literatura
Brasileira da FAMASUL (Palmares/PE)
Há muito tempo
venho me perguntando se o coração tem a capacidade de se emocionar ou esta é
atribuição apenas do cérebro. As indagações foram aumentando ao afrontar as
expressões “Coração de mãe não se engana” e “Coração apaixonado,” este último é
conhecido jargão do sentimentalismo poético, repetido por tantas gerações.
Qualquer curioso fecharia a presente questão compreendendo que o ato de pensar,
ter sentimentos, memorizar e ser imaginativo é tarefa de um único órgão: o
cérebro.
Eu também
estava convicto da mecanicidade do coração, apenas de bombear o sangue, sem
“pensar.” Quando li na internet um texto da terapeuta Maria Helena
Leite de Moraes: “A
inteligência do coração,” mudei de ideia. Em suas palavras “A mente opera
de uma maneira linear e lógica o que é muito útil e importante no dia-a-dia,
mas às vezes precisamos algo além da análise lógica para resolver algum
problema e aí entra a capacidade intuitiva e emocional que é a inteligência do
coração.” Estas descobertas são atribuídas a John e Beatrice Lacey, do Fels
Research Institute (Filadélfia, Estados Unidos).
Na mesma
linha de pensamento, Giovana Tessaro afirma que “O coração reage ao que
percebe, influenciando todo o corpo, inclusive, o cérebro” (personare.com.br). O
Dr. Rollin McCraty entende que “Há um ‘cérebro no coração, metaforicamente
falando’. O respeitado pesquisador pertence ao Instituto HeartMath, uma
organização sem fins lucrativos que oferece tratamentos com base na conexão
entre o coração e o cérebro. “O coração contém neurônios e gânglios que têm a
mesma função que as do cérebro, tais como a memória. É um fato anatômico”,
disse McCraty (epochtimes.com.br).
Defendem os
especialistas, portanto, que a estrutura do coração é similar à do cérebro,
embora este tenha aproximadamente 86 bilhões de neurônios. O coração possui 40
mil, além de uma completa e espessa rede de neurotransmissores, proteínas e
células de apoio.
Talvez seja
por isso, sem demérito da razão, e sem conotação, que encontrarmos um sentido bem
próximo do referencial quando lemos que “Enganoso é o coração... e perverso”
(Jr 17.9) ou quando damos ouvidos ao coração dos poetas. Na opinião de Sigmund Freud
(Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen), “Os poetas (...) são aliados
preciosos, e o seu testemunho merece a mais alta consideração, porque eles
conhecem, entre o céu e a terra, muitas coisas que a nossa sabedoria escolar
nem sequer sonha ainda. São, no conhecimento da alma, nossos mestres, que somos
homens vulgares, pois bebem de fontes que não se tornaram ainda acessíveis à
ciência.” No meu ponto de vista, “fontes” que não passaram pela mente, pela
razão, mas surgiram do sentimento, do âmago, e da alma, onde a emoção existe
antes de ser palavra.
Neste ponto,
merecem atenção também Julio Iglesias (Coração apaixonado / Só escuta a própria voz
e nada mais), e Wando (Chora, coração). Mais profundo ainda, vale lembrar o exímio
escritor português que disse: “É o coração que faz o caráter” (Eça de Queiroz).
Por fim, resta dizer da “falta” que o coração nos faz quando “desaparece.”
Termino com a genialidade de Gabriel Garcia Márquez: "Se eu tivesse um
coração, escreveria meu ódio sobre o gelo, e esperaria que saísse o sol."
Por estas e outras, devemos acreditar nesse “pequeno cérebro”, pois embora o
coração de poeta esteja sempre confuso, o de mãe não se engana.
Penso mesmo que o coração pensa, pois o de mulher presente as coisas muito antes e posso afirmar que é a voz do coração que fala mais alto no nosso sexo (feminino).
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