BREVE ETERNIDADE
Meio século vencido
num piscar de olhos
em breves demoramentos
como se eternidade.
Rastos de poesia
restos de nostalgia
rotas estranhas
como viagem à lua
criando entulho
atalho ou trilha sonora
onde todo sonho flutua.
(AG, fev/2015)
Em 2015,
o poeta Admmauro Gommes completa 50 anos (7/fev). Para este ano, estão previstas
várias atividades literárias envolvendo a obra deste escritor. Dentre elas, o
lançamento de quatro livros inéditos.
ADMMAURO GOMMES é um escritor pernambucano
(Brasil). Nasceu no município de Xexéu, Mata Sul do estado, aos 7 de fevereiro
de 1965. Desde 1993 é professor de Teoria Literária da Faculdade de Formação de
Professores da Mata Sul (FAMASUL). Exerceu por quatro vezes o cargo de
Secretário de Educação em Xexéu e por três a mesma pasta em Novo Lino (AL).
Criou mais de trinta obras, das quais já foram publicadas vinte e três:
A solidão foi embora (1987), Elegias matinais (1992), Luta dentro de mim (1998), Oito poetas pernambucanos (org- 1998), Poetas do ano 2000 (org - 2000), Pelos sete mares (2001), Brasil: primeiro século de história literária (org - 2001), Poemas do manancial de luz (2002), A literatura e o Brasil do século XVII (org - 2002), História do Xexéu (org - 2003), Poetas do Xexéu (org - 2004), Poetas da FAMASUL (org - 2004), Sonetos (2004), Joaquim de Xexéu (org - 2005), Para nunca mais dizer adeus (2006), A mulher da sombrinha e outras crônicas (2007), Estudos Literários e Sociolinguísticos - artigos em língua e literatura (2007), Intradução poética (2008), Sabores do Brasil (2009), Cinco poetas e um luar (org - 2009), O perfil do professor de literatura e as estratégias de produção textual (2011) e Síntese da Literatura Brasileira (2013)
e A estranha poesia de Vital Corrêa de Araújo (2013). Para 2015, estão previstos os lançamentos de:
A solidão foi embora (1987), Elegias matinais (1992), Luta dentro de mim (1998), Oito poetas pernambucanos (org- 1998), Poetas do ano 2000 (org - 2000), Pelos sete mares (2001), Brasil: primeiro século de história literária (org - 2001), Poemas do manancial de luz (2002), A literatura e o Brasil do século XVII (org - 2002), História do Xexéu (org - 2003), Poetas do Xexéu (org - 2004), Poetas da FAMASUL (org - 2004), Sonetos (2004), Joaquim de Xexéu (org - 2005), Para nunca mais dizer adeus (2006), A mulher da sombrinha e outras crônicas (2007), Estudos Literários e Sociolinguísticos - artigos em língua e literatura (2007), Intradução poética (2008), Sabores do Brasil (2009), Cinco poetas e um luar (org - 2009), O perfil do professor de literatura e as estratégias de produção textual (2011) e Síntese da Literatura Brasileira (2013)
e A estranha poesia de Vital Corrêa de Araújo (2013). Para 2015, estão previstos os lançamentos de:
1. Fernando
Pessoa e o mar (poemas);
2. Néstogas
e outros poemas;
3. Um
livro de teoria literária, ainda sem título definido; e
4. Um
livro de poemas, ainda sem título definido.
No
início deste ano, o autor ultrapassou a marca de ter produzido mil e
quatrocentos textos poéticos. Atualmente, reside em Palmares/PE (Brasil),
cidade conhecida como a “Terra dos Poetas.”
COLÓQUIO COM ADMMAURO GOMMES
Mais depoimentos e comentários:
Um ensaio de RICARDO GUERRA
COLÓQUIO COM ADMMAURO GOMMES
Ricardo Guerra |
Na
minha formação acadêmica no Curso de Letras, na FAMASUL, conheci e tornei-me
amigo de Ademauro Maurício Gomes, um professor de Teoria da Literatura que
também é poeta – e, dos bons. Num conversatório particuloso com retalhos de
sabenças e muito proveituroso para ambos, disse-lhe: - Douto Mestre, tomei a
liberdade de tecer alguns comentários à sua obra.
Como o caro amigo bem sabe, a Literatura
Brasiliana é variada em estilos e tendências. A abordagem da realidade do país
se consolidou com o movimento modernista ocorrido em 1922, no estado de São
Paulo. A chamada Semana de Arte Moderna Brasileira que tinha como uma das
propostas "devorar" a cultura importada que impregnava todas as
manifestações artísticas do país. Resumindo, os modernistas chutaram o balde
das imposições europeia, no tocante a se produzir obras de arte, em todos os
sentidos, como os artistas do Velho Mundo e este movimento se espalhou pela
América Latina de forma magistral.
A Literatura Brasiliana contemporânea lega ao
país uma obra densa e preocupada com os rumos da vida nacional, mas fiel ao
temperamento e cultura do povo. Portanto, digno poeta e dileto amigo, por seu
acervo, conteúdo e qualidade editorial, a Literatura Brasiliana tem lugar garantido
entre as melhores do mundo. Dentro desse panorama pode-se incluir você, poeta e
cronista, Ademauro Mauricio Gomes, ou como é conhecido no universo das artes,
Admmauro Gommes (com o “m” dobrado); natural de Xexéu, quando lá nasceu em 7 de
fevereiro de 1965, filho de Amaro Maurício Gomes e de Celina Severina da
Conceição, casado com dona Azivane Ferreira Gomes com quem tem os filhos Ademac
Allan Maurício Gommes, Poema Ferreira Gommes e Tércio Ferreira Gommes. Sei,
digníssimo amigo, que o seu Curriculum Vitae Literário é extenso, por isso não
vamos perder tempo.
Dê-me a honra de tecer alguns breves
comentários a uma parte da sua obra: A SOLIDÃO FOI EMBORA (1987) Este é o seu o
livro de estreia. Nele você reúne uma seleção retirada de 500 poemas, na época
em que era estudante do curso de Letras da FAMASUL. Apresenta nesta obra ainda
novas formas de expressão, versos vivíssimos e livre associação de imagens e
conceitos, características presentes em toda a sua poética.
ELEGIAS MATINAIS (1992) Opúsculo visando mais
a técnica que a emoção. Foi editado artesanalmente. Você mesmo poeta, digitou
os textos, imprimiu-os e cortou o livro no formato, manualmente.
LUTA DENTRO DE MIM (1998) A luta caracteriza
a guerra entre o espiritual e o terreno, fruto de experiência à luz do
evangelho, quando passa a cultivar a poesia religiosa, mística. Destaque para o
poema O Evangelho em Versos.
PELOS SETE MARES (2001), primeira reunião
envolvendo poemas publicados. Os textos foram selecionados de sete livros.
Destaque para o poema invertido e um artigo sobre a essência da poesia.
OITO POETAS PERNAMBUCANOS (1998), antologia
organizada pelo dileto poeta reunindo autores pernambucanos ligados à FAMASUL.
POETAS DO ANO 2OOO (2000). Nesta obra, você
reúne 32 poetas da Mata Sul Pernambucana e Norte das Alagoas.
BRASIL: PRIMEIRO SÉCULO DE HISTÓRIA LITERÁRIA
(2001). É sua a organização e participação numa antologia do quinto período de
Letras dos acadêmicos da FAMASUL, contemplando o conteúdo da Literatura
Brasileira dos anos seiscentos.
A LITERATURA E O BRASIL DO SÉCULO XVII (2002).
Nova antologia sobre a literatura, em que cada aluno da FAMASUL escreve uma
página de nossa história literária.
POETAS DO XEXÉU (2002). Nesta obra,
publicaste 22 poetas inéditos, residentes em Xexéu. Obra esta que foi traduzida
para o espanhol pelo argentino Omar Aguilera.
POEMAS DO MANANCIAL DE LUZ (2002). Este teu
livro foi divulgado antes da publicação no programa de mesmo nome, da Rádio
Cultura dos Palmares, pelo apresentador Obadias Monteiro. Possui uma temática
exclusivamente evangélica.
HISTÓRIA DO XEXÉU (2003). Juntamente com os
escritores Bernardo Almeida e Marcos Gonçalves de Lima, tu Admmauro escreveste
a História do Xexéu, de maneira simplificada, colhida diretamente "da boca
do povo".
POETAS DA FAMASUL (2004). Antologia que
revela o talento dos poetas da FAMASUL. Parte do livro foi composta em 35
minutos com os universitários do l.º período de Letras. A outra parte é com os
professores.
SONETOS (2004) é o primeiro livro escrito,
publicado 20 anos depois. São os poemas da mocidade, num estilo tradicional,
contendo uma temática amorosa.
JOAQUIM DE XEXÉU (2005). Fizeste uma
homenagem ao Pastor Joaquim Clementino de Paula, que atuou em Xexéu por 27
anos. O livro conta com a parceria de Antônio de Souza Júnior.
UM MAR DENTRO DOS OLHOS (1998). Ainda
inédito, venceu o concurso de Poesias Ascenso Ferreira do Nordeste, em 1998,
promovido pela Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, em Palmares.
A MULHER DA SOMBRINHA (2007). Desta feita,
adentraste a uma seleção de crônicas regionalistas que retratam os diversos
falares da região da Mata Meridional pernambucana. O caríssimo amigo ainda
possui cinco livros prontos a serem publicados, incluindo temas de Teoria da
Literatura, artigos, romances e poesias. Inegavelmente, és um poeta de formação
modernista, não obstante, percorres com elegância e desenvoltura todos os
caminhos e estilos poéticos das mais diversas escolas literárias, com a sua
arte da palavra manifestada numa linguagem em que a sonoridade e o ritmo
predominam sobre o conteúdo.
Essa linguagem poética consiste num desvio
deliberado da forma da língua corrente que recorre à repetição de uma cadência
rítmica, de sons, de rimas e de estruturas sintáticas. Teus livros de poemas
procuram aproximar ainda mais a literatura do grande público, dentro de uma
estrutura sintática e lexical de fácil compreensão, aliás, o que é uma
característica peculiar na obra admmauriana; quando inicia seus textos com 50
poemas sentimentais, 25 sobre a Paz e 25 tratando da arte de escrever, cujo
objetivo é o de despertar no jovem leitor o interesse pela arte poética. Tecer
uma opinião abalizada sobre a tua obra poética é deveras gratificante, haja
vista, a perfeição estética, consubstanciada e recheada da mais pura existência
de erudição da Língua Camoniana, com versos transbordando de sentimentos, os
mais diversos e profundos, fiando poemas que tocam na alma que, por sua vez
transformam-se em poesia; como dizia Manuel Bandeira, "vendo o mundo com
olhos de uma criança" (1997), todavia, sempre deixando no ar abstrato da
sua poesia, aquele sentimento que somente ao poeta é dado sentir ao poemar e
declamar os seus versos. Pois ninguém consegue penetrar no seu âmago, mesmo
insistindo, por mais esforços que se faça ao se declamar através do poema as
poesias intrínsecas e extrínsecas neles contidas, infrutíferas serão as
assertivas para se chegar a sua essência. Isso somente o poeta pode fazê-lo.
O amigo deixa transparecer claramente num dos
seus poemas, o que vem a ser verdadeiramente um poeta, quando poetando assim pensa:
“Ser poeta/ é ter o pressentimento que as coisas podem mudar,/ que um dia vai
melhorar,/ quem sabe, a qualquer momento. /É viver do seu invento/ como quem
inventa cores,/ como quem vive de amores/ e tem a alma repleta,/ transforma
dores em flores/ isso sim é ser poeta.”
Mas tu, como professor universitário, não te
contentas apenas em poetar, queres mais. Como educador, defendes com harmonia e
sabedoria a participação do poema em todas as disciplinas didático-pedagógicas,
através da intertextualidade, quando apresenta um vocabulário com os termos
mais utilizados na teoria literária, como rima, verso, soneto, poesia, poema
etc. Com isso, destinas a obra a professores, estudantes e a todos os amantes
da poesia, - pois se trata de um grande suporte didático-pedagógico -, quando
afirmas: "Por todos os lados pode surgir a intertextualidade, pois ela
acontece mesmo que um olhar pouco atento não perceba sua presença. Mas o
professor habilidoso e ousado há de encontrar sempre um ponto de apoio nos
textos fora de sua área, para viabilizar o trabalho pedagógico. Podem-se tomar
vários contextos como base intertextual, partindo de propagandas comerciais,
embalagens de produtos, letra de música e uma infinidade de elementos visuais
para se relacionar com o conteúdo ensinado".
Em teu livro, A Mulher da Sombrinha e Outras
Crônicas, o erudito poeta começa a adentrar ao fantástico mundo da crônica
regional. A obra oferece ao leitor nordestino, e em particular ao pernambucano
da Mata Meridional, uma literatura puramente regionalista. Destarte, fazendo
ressurgir no cenário local o que de melhor já se teve num passado quase
longínquo e que agora nessa obra, galopa pujante e saltitante, até mesmo
brincante - o jeito de falar e transportar esse sotaque tão pernambucano, tão
nosso, para as páginas de um livro. - Impossível de não ler em um só fôlego a
obra.
É interessante perceber que, apesar do
regionalismo ter um posto importantíssimo na formação da literatura brasileira,
sua produção está quase toda ligada à prosa. Inúmeros poetas trataram da terra
em suas obras, sempre colocando as características regionais e dando ênfase ao
enredo através da linguagem regional. A abrangência dos linguajares existentes
no Brasil faz com que se perceba a necessidade de um estudo aprofundado e
minucioso dos mesmos, em razão das inúmeras dificuldades que estão ligadas à
amplitude e à complexidade inerentes aos fenômenos referentes à língua.
Assim, a crônica admmauriana procura mostrar
uma parte dessa diversidade do falar brasileiro engajado em nossa literatura,
para que seja percebido o quanto a língua tem se mostrado importante e pode se
adequar às necessidades de cada falante. Mantêm-se os significados
preponderantemente semânticos usados tanto para definir as partes do discurso,
quanto para identificar as categorias a que se chegou para melhor classificação
dos recursos utilizados, através da abordagem de algumas particularidades na
comunicação na literatura no Nordeste, que possui características bastante
inerentes que a diferenciam de outras áreas do Brasil.
A Literatura Regionalista, intencionalmente
ou não, traduz peculiaridades locais, expressando os traços do momento
histórico e da realidade social; nela, o local é abordado com amplitude,
podendo-se falar tanto de um regionalismo urbano quanto de um regionalismo
rural. Traços que são marcantes no Nordeste. Na observação minuciosa das tuas
crônicas, percebe-se que mesmo quando o dileto amigo realiza a Volta ao mundo,
a faz com seu olhar vivaz de cronista sem sair da sua bucólica Xexéu, - ou
melhor, dizendo, do seu Ninho de Xexéu - consequentemente com o seu peculiar
linguajar pernambuquês, todavia, num português padrão. Como bem o sabemos, caro
poeta, é a crônica, primordialmente, um texto escrito para ser publicado em
jornais. Estes, como se sabe, são veículos de informações diários e, portanto,
veiculam textos efêmeros.
Um texto publicado no jornal de ontem
dificilmente receberá atenção por parte dos leitores hoje. O mesmo tende a
acontecer com a crônica. O fato de ser publicada no jornal já lhe determina
vida curta, pois à crônica de hoje seguem-se muitas outras nas próximas
edições. Há semelhanças entre a crônica e o texto exclusivamente informativo.
Assim como o repórter, o cronista se alimenta dos acontecimentos diários, que
constituem a base da crônica. Entretanto, há elementos que distinguem um texto
do outro. Após cercar-se desses acontecimentos diários, o cronista dá-lhes um
toque próprio, incluindo em seu texto elementos como ficção, fantasia e
criticismo, elementos que o texto essencialmente informativo não contém. Com
base nisso, pode-se dizer que a crônica admmauriana situa-se entre o Jornalismo
e a Literatura, e o cronista pode ser considerado o poeta dos acontecimentos do
dia-a-dia.
A crônica, na maioria dos casos, é um texto
curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está
"dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma
visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista. Ao
desenvolver seu estilo e ao selecionar as palavras que utiliza em seu texto, a
tua crônica transmite ao leitor a tua visão de mundo, na verdade, caríssimo
poeta, tu expões a tua forma pessoal de compreender os acontecimentos que te
cercam. Geralmente, as crônicas apresentam linguagens simples, espontâneas,
situadas entre a oralidade e a literatura. Isso contribui também para que o
leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele
que lê.
Com a tua sapiência, amigo poeta, juntaste as
vinte crônicas regionais e publicaste-as em livro, livrando-as do esquecimento
dos leitores dos jornais. Numa homenagem humilde e singela ao diletíssimo poeta
e cronista, tomei a liberdade de, brincando de poetar, apresentar um dos meus
poemas, ainda inédito, baseado no conjunto de títulos que compõem a tua obra:
MADRIGAIS DE POETAS EM XEXÉU (1) Oito poetas
pernambucanos Pelos sete mares navegaram, recitando lindos Sonetos chegaram
para ouvir os Poetas do ano. De pronto A solidão foi embora, ficaram a ouvir
lindas Elegias matinais, como gregos na ágora se instalaram, lá estavam os
Poetas do Xexéu em belos madrigais.
A dedilhar seu alaúde, Joaquim de Xexéu os
esperava cantarolando: Brasil: primeiro século de história literária, poemando
prosaicamente acontecimentos de uma cidade libertária, recitava ainda, A literatura
e o Brasil do século XVI, a estes juntaram-se mais três:
Ascenso com sua voz gutural, Admmauro a tocar
clavicímbalo de forma magistral e Ricardo no trompete de forma natural,
contaram e cantaram a História do Xexéu com altivez, com os Poemas do manancial
de luz e Luta dentro de mim, lindas histórias sem fim dos Poetas da FAMASUL...
mais de uma vez.
Agora já eram onze os Poetas Pernambucanos
que não mais voltaram aos Sete Mares seus, lá... ficaram, Para nunca mais dizer
adeus.
Como se pudéssemos concluir - o que se torna
impossível - todavia, podemos analisar o conjunto da obra admmauriana, o que
nos remete a fazê-lo em quase sua totalidade aos seus poemas, haja vista que,
apenas A Mulher da Sombrinha trata de outro tipo de literatura - a crônica -
portanto, o que um poeta pensa ou finge que pensa pode ser, ou não, poesia.
Em seus conhecidos versos, Fernando Pessoa
não alude propriamente à poesia, mas sim à dor que o poeta deveras sente. Ou
como se lê na esplêndida estrofe do autor: “Finge tão completamente / que chega
a fingir que é dor / a dor que deveras sente”. Pois bem: se de fato a sente,
essa dor, fingida ou não, é algo real, pelo menos enquanto dor, mas pode não
ser poesia. Essa dor é, portanto, multitudinária, ou seja, de toda a
humanidade. E se o poeta estiver autenticamente "antenado" na dor
dessa humanidade, ainda que a finja sentir, sentindo-a, ela se torna concreta,
transformando-se então na dor que o poeta "deveras sente".
Cumpre aqui entender que o mesmo fingimento
dói no poeta, pois tudo nele sempre dói. E é através dessa dor, que se distende
e aprofunda o conhecimento do mundo, desse mundo que é vontade e representação.
Poderemos chamar de poeta apenas àqueles que escrevem poesias? Ser Poeta é
aquele ser que escreve poesias, certo... Mas para um Ser Poeta, ser poeta de
fato, é preciso que tenha a alma poetal. Encontrei uma frase, que expressa bem
o que é SER POETA, escrita por um dos grandes mestres das letras, José de
Alencar: "O cidadão é o poeta do direito e da justiça; o poeta é o cidadão
do belo e da arte". Antes de tudo, ser poeta é um estado de espírito. Quem
é poeta, o é internamente. Tem a poesia na alma.
Falamos "poeta", mas normalmente
estamos nos referindo a todo aquele (ou aquela... aliás, o termo POETA, se
aplica tanto "aos", como "as") que têm aquele dom natural
para as artes escritas, seja em poesia, ou em prosa. Tudo depende do lirismo da
alma de quem escreve.
Tu, Admmauro Gommes és poeta, e um poeta que
navega com grande desenvoltura em todos os estilos, incluindo o Poema Quântico
- uma forma de poetar hipermoderna - arrisco até afirmar que é futurista e que
ainda vai dar muitos frutos, pois traz na alma esse sentimento místico. No
primeiro poema, nesse novo estilo, tu poetando dizes:
QUANTA
Quanta SAUDADE GUARDO NO PEITO quando vem
A teoria DE
UM SONHO SONHADO: o
desamor
Da incerteza AGORA
DESFEITO por alguém
E do possível QUANDO ACORDADO surge a dor.
Respondendo ao teu poema, escrevo também este
poeminha quântico:
POETIQUANTUM
Quântica, CROMODINÂMICA Quantum.
Quantidade, CAMPO NEGRO, elétrons
Cósmica ideal, FORÇA UNIVERSAL, do bem e do
mal.
Cabe ao homem DE UM PENSAR
INFINITO, ter humildade
Ser racional. FERRAMENTA MECÂNICA sem
ser fatal.
"Quanto mais precisamente a posição [de
uma partícula subatômica] é determinada, menos precisamente, no mesmo instante,
seu momento [massa x velocidade] é conhecido, e vice-versa." Werner
Heisenberg, 1927.
A frase acima é parte de um texto no qual o
cientista alemão Werner Heisenberg (1901-1976) enuncia o célebre Princípio da
Incerteza - concepção de enormes implicações para a ciência física. Um dos
motivos para essa incerteza, ou indeterminação, está no tamanho minúsculo dos
objetos observados - um elétron, por exemplo. Os próprios instrumentos
utilizados para medir a posição ou a velocidade do elétron interferem no
comportamento da partícula.
Pode-se observar, portanto, na estrutura de
ambos os poemas quânticos diversas poesias nele contidas, ou seja, pode-se
lê-lo sob vários ângulos, pois em todos eles irá se descobrir uma poesia. Fica
ao inteiro critério do leitor. Sempre atento e ligado às novidades
intelectuais, tu nobre amigo Admmauro, passas a fazer parte da intelectualidade
regional da Mata Meridional Pernambucana e, assim como Ascenso Ferreira, já
despontas em ascensão ao cenário nacional. Só espero e, rogo ao Grande Criador,
que Ele te permita colher os frutos da tua obra ainda neste plano astral,
conosco.
Finalmentando, fica a minha admiração, meus respeitos ao caríssimo e
dileto amigo, à sua obra e, os meus mais sinceros agradecimentos por teus
ensinamentos.
Com amplexos fraternos, Da minha bucólica e
aprazível Jaqueira, no Sobrado dos Guerra, em 8 de dezembro de 2014.
Ricardo Antônio Guerra da Silva
__________________________________________
(1) - Poema inspirado
nos títulos da Obra do Poeta Xexeuense: Admmauro Gommes. Livros publicados por
Admmauro Gomes: 1 – A Solidão foi embora; 2 – Elegias matinais; 3 – Luta dentro
de mim; 4 – Pelos sete mares; 5 – Oito poetas pernambucanos (org.); 6 – Poetas
do ano 2000 (org.); 7 – Brasil: primeiro século de história literária; 8 – A
literatura e o Brasil do século XVI; 9 – História do Xexéu (org.); 10 – Poetas
do Xexéu (org.); 11 Poemas do manancial da luz; 12 – Poetas da FAMASUL (org.);
13 – Sonetos; 14 – Joaquim de Xexéu (org.); 15 – Para nunca mais dizer adeus.
Admmauro Gommes é o ser humano mais fácil de compreender e de definir, pois com simplicidade somada à genialidade consegue transformar o complexo em fácil, prova de tamanha realidade é possível constatar contemplando sua trajetória desde estudante da FAMASUL, e a partir de seu profissionalismo como Secretário de Educação do Município do Novo Lino e de Xexéu, bem como professor do Departamento de Letras, em cujo exercício do magistério a todos empolga com a perspicaz capacidade de inventar e reinventar métodos de aprendizagem que tornam a construção do conhecimento algo extremamente prazeroso.
ResponderExcluirO meio século de existência que completa no ano de 2015 parece dizer-nos que ele precisa de duas vidas para que conclua sua tarefa obstinada de escrever e ensinar no atual plano em que nos encontramos.
Para mim, pessoalmente, como testemunha presencial de sua trajetória intelectual, 50 + 50 = a 100 ainda não será suficiente, pois com certeza não completará em forma de tempo tudo o que deseja, pois ele caminha a passos largos sua eterna obstinação, causando cobiça as academias que não têm um ser como ele, que ao escrever com tanta facilidade transforma tempo e história, poema e literatura em eternidade.
O imperativo da arte de Admmauro Gommes é imprescindível para todos os que o conhece, sendo indispensável cada livro que escreveu, cada tema que inventou, cada poema que o inspirou na eterna profusão de suas ideias infinitas.
É uma dádiva fazer parte de sua trajetória brilhante!
PELOS MARES DO POETA
ResponderExcluirRoberto de Queiroz*
Falar sobre Admmauro Gommes não é algo que me parece difícil, pois convivi com ele, por um longo período, durante minha estada na FAMASUL, nas aulas de Teoria Literária e de Literatura Brasileira, disciplinas específicas do curso de Letras, das quais ele era/é titular. E foi a partir das aulas de Teoria Literária que tive contato com a poesia dele. Lembro-me de que em uma dessas aulas ele expôs, a fim de que o classificasse quanto à rima, em todas as possibilidades, este excerto do poema “Aflita”: “Que sempre assim seja o sonho / medonho, coisa inaudita / pois nele te recomponho / aflita, mas tão bonita.” Posteriormente, tive contato com o texto integral, entre textos mais, por meio da leitura da antologia “Pelos sete mares”.
Percebe-se, à primeira vista, que o poema supracitado pertence à vertente de poesia de forma fixa (ou poesia clássica), uma vez que ele é composto de versos heptassílabos, cujas rimas obedecem a um esquema rigorosamente elaborado: disposição (cruzadas), qualidade (ricas/pobres), sonoridade (suficientes), intensidade (graves) e gênero (femininas). Diante do exposto, pode-se inferir que o poema em análise expõe o fato de que o poeta navega com maestria pelo rigor técnico e o esteticismo do mar parnasiano e pela exploração do consciente e do subconsciente do mar simbolista, sem ancorar em nenhum porto desses mares, e sim tirar proveito do processo de criação de um e outro, criando seus próprios mares.
É fato que Gommes navegou por diferentes mares literários, partindo da poética tradicional rumo a uma poética própria (singular), sem, no entanto, romper radicalmente com o passado, nem o discriminar, como fizeram os autores modernistas da primeira fase, em relação aos autores parnasianos e aos românticos. Digo isso porque, além do rigor formal a que alude o texto em apreço, pode-se também observar nele características notadamente românticas, a exemplo do confessionalismo romântico, ou seja, ele traz à baila sentimentos pessoais do autor em dado momento da vida.
Na navegação poética de Gommes, pode-se notar também ecos do mar barroco: a religiosidade (“Luta dentro de mim”); a lírica amorosa (“Canção aos teus olhos”); a sátira ou ironia (“Tudo é plano”); o burlesco ou crônica do cotidiano (“Há sempre um galo”). Além disso, o estoicismo neoclássico ou o desprezo dos prazeres, do luxo e da riqueza (“Desejos”); o realismo ou a ênfase no mundo real (“Desencantos”); o pré-moderno ou o expressionismo literário, isto é, a ênfase das imagens do interior do ser humano (“Maçã”); e a pluralidade de linguagens e perspectivas da modernidade (“Outra forma”) são marcos de sua trajetória poética.
Admmauro Gommes é, sem favor algum, um autor genial. Sua genialidade está justamente na sabedoria de ele não cuspir no prato em que comeu, como muitos o fazem. Igualmente está no fato de ele, além de poeta de alto quilate, ser exímio prosador (cronista, articulista e crítico literário). Tudo isso contribuiu para que ele se tornasse um dos mais talentosos autores deste início de século 21, passando de navegador de outros mares a criador de seus próprios mares. Naveguemos, pois, pelos mares do poeta!
* Poeta, professor de Português e especialista em Letras. Autor de “Leitura e escritura na escola: ensino e aprendizagem”, Livro Rápido, 2013, entre outros.
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