Vital na FAMASUL |
Vital Corrêa de Araújo
Se no tempo de Homero, houvesse existido um manual da epopeia,
codificando normas e estipendiando regras para feitura normal (e normalizada)
de poemas épicos, Homero não (nunca) teria existido como poeta maior. Seria
mais uns milhões de poetastros, que por aí pululam, como o fazem hoje. E Ilíada
e Odisseia seriam o besteirol de antes de Cristo.
No tempo nosso, em que a poesia tem manual de regras, normas de
contagem silábica, dicionários de rima, “regras de arte poética”, para ser
poeta há de se rebelar contra essa besteirolada toda, romper cânones e hímens
de vedação com o falo do lápis da alma em riste; desprezar o tal do ritmo
mecânico silábico e rimado. Deixar a silabada de lado e a rimação sonho e
tristonho. Para ser original. Ser poeta, sim.
As regras, a normatização, os manuais de metrificação, as
cartilhas e tratados de versificação existem (servem) para impedir a liberdade
(como as normas jurídicas).
A universitária Farla Rosendo escreveu (ao que presumo o primeiro
poema ou o único absoluto) um poema (que publiquei na Revista PAPELJORNAL nº3),
pode-se dizer perfeito, um poema absoluto, somente porque em palestras porque
eu disse que o poeta moderno (pode ser qualquer um) nasce a partir de um ritmo
de iniciação: queima dos indefectíveis dicionários de rima e tratados de
versificação.
De imediato, solta, livre o espírito, sua alma foi à forra, e
Farla escreveu um grande pequeno poema, em que cria o sintagma grãos de sol.
É que a regra métrica, a exigência rímica, para forja do ritmo
mecânico ou metronomal congela a imaginação, enjaula a criatividade, deleta o
espírito e impera o reino quantitativo de estrofação canônica, número de
sílabas regulares de versos, coincidências sonoras iguais de sons finais (dos
fonemas). O poeta é presidiário do poema.
Poeta não imita nem segue regras que aprisionem o espírito ou que
previamente guie o seu poema. Poeta cria, inventa, imagina (inclusive as regras
e inovadoras gramáticas). Livremente.
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