O historiador e professor Marcondes Calazans propôs o seguinte tema para debate neste mês de setembro:
O ENCONTRO DO REAL COM O SIMBÓLICO E O IMAGINÁRIO
“Para refletir sobre o mundo que já não se vê
nos dias atuais pelo estressante corre-corre e religar coração e mente as
lições dos contos de fadas. Uma aproximação poética do ser no cotidiano através
do simbólico que tem um significado e um objetivo transcendente, e com ele
buscar o elo entre o vivido e o imaginado.” – M. Calazans
Vamos participar!
A TOADA NÃO FINDA
Marian Eulália
E como se não bastasse
Admmaurear pra aquecer
Ricardear pra começar
Sylvilizar pra continuar
Marcondear pra abastecer
Vitalizar pra enriquecer
Wilsoniar pra não esquecer
Que o bom da poemada
é que não falta quase nada
E não finda com esta toada
O negócio agora é que tá bom
e se tá bom
é bom continuar
aquilo que se começa
não se finda com tanta pressa
e estou aqui a poemar...
Admmaurear pra aquecer
Ricardear pra começar
Sylvilizar pra continuar
Marcondear pra abastecer
Vitalizar pra enriquecer
Wilsoniar pra não esquecer
Que o bom da poemada
é que não falta quase nada
E não finda com esta toada
O negócio agora é que tá bom
e se tá bom
é bom continuar
aquilo que se começa
não se finda com tanta pressa
e estou aqui a poemar...
ResponderExcluirSer ou não ser: eterna questão.
A busca cega pelo ideal de felicidade, às vezes, faz com que se ultrapassem as linhas do real e se distancie muito do que seja possível. Não que eu veja limites para o sonhar, mas que todo desejo deve ter alguma possibilidade de acontecer, mesmo que seja remota. Na ilusão do tudo pode, confunde-se a realidade com falsas possibilidades, quando a mídia “vende” felicidade em 12 vezes sem juros e entrega imediata (mas descartável!).
Deseja-se ser o outro, imagina-se ter o status do outro e se esquece de viver a própria felicidade. Um conselho de longe, nos vem da Grécia, na frase “Conhece-te e ti mesmo.” Este devia ser a base para compreensão do simbólico e aceitação do real. A transcendência do símbolo é deveras importante para nos situarmos como elemento social, carente de referências que deem um significado à existência humana.
Na opinião de Roberto D´arte, para Sócrates, “conhecer-se é o ponto de partida para uma vida equilibrada e, por consequência, mais autêntica e feliz.” Portanto, precisamos do símbolo para nos encantar, mas não necessitamos dele para nos iludir.
Numa perspectiva nietzschiana, podemos observar que a realidade é apenas aquela onde os sentimentos se delineiam pela capacidade de aprendermos.
ResponderExcluirPara quem respira poesia, acredito que a realidade se confunde com o próprio imaginário, e que esta conjuntura não nos confere restrições ou limitações para permearmos outros universos.
Aí você pode perguntar: é algo sobrenatural? Talvez possa até ser! Afinal o que é real para quem vê poesia em tudo?
Quando tratamos de transcedência, no sentido desta reflexão, creio que afugentamos a ideia do viver entre paredes e pessoas. Eis o verdadeiro teor de liberdade!
ExcluirA linguagem, para Guimarães Rosa, é o próprio homem. Daí, respirar poesia é simplesmente viver e isso já é tudo. Se lançarmos a pergunta para uma distância maior, seria: Afinal o que é real, na realidade?
A resposta pode ser contraditória de pessoa para pessoa, mesmo assim, a "ficção social", aquela imposta pela sociedade para agirmos de tal forma, permanecerá misturada com a realidade que vemos. A vida, como um todo (que nos ajude São Fernando Pessoa), é um fingimento deveras.
Em outras, palavras, real é o que eu imagino que assim seja.
Como bem disse Dom Diego, ou Dieguito como queria Marcos Gonçalves, isso adentra a transcendência.
SABER X SABEDORIA.
ResponderExcluirSe olharmos a nossa volta, principalmente os que já passaram de meia centúria de anos, assim como eu, não veremos mais o nosso “real”, ficou apenas o “simbólico” “imaginando” que ainda está lá dentro das nossas lembranças. Muita coisa transformou-se, esta “coisa” podemos chamá-la de “real”, todavia, se quisermos encontrá-la novamente, melhor será invocar a sabedoria, mas esta senhora não se encontra nos livros e nem nos mestres professores, com estes você acha o saber. Dona sabedoria mora no corriqueiro da vida, como nos ensina a sábia Cora Coralina.
Para Jacques Lacan, psicanalista francês, o real é o impossível, não cessa de não se inscrever. O simbólico é o registro em que se marca a ligação do Desejo com a Lei e a Falta. E, o imaginário é o lugar das identificações. A sua grande sacada foi perceber que muito do que é dito ou escrito corresponde ao contrário.
Para religar “coração e mente às lições dos contos de fadas”, como propõe Marcondes Calazans, entendo, salvo melhor juízo, que devemos através da nossa consciência cósmica, buscarmos dentro no nosso “eu” a nossa habilidade, inspiração, – alguns nela não acreditam - técnica ou capacidade intelectual em produzirmos nossos pensamentos e expormos eles através de obras literárias, poemas, contos, romances etc. Ao fazermos isto estamos “falando” com nós mesmos e dialogando como o mundo exterior, com o nosso próximo. Afinal como afirma Aristóteles: “o homem é um ser animal social” que carece de outras pessoas para atingir a sua plenitude.
Ricardo Guerra.
ExcluirExcelente esta lição de sabedoria de Ricardo Guerra.
O mundo e tudo o que nele há, existe primeiro dentro de nós. Os símbolos e as tradições persistem e convivem em harmonia ou conflito, conforme nossa aceitação ou repugnância com os fatos imaginários ou reais. O desencanto diante das coisas surge da inadequação com o que se espera e como as situações se apresentam na ótica de cada um. Assim, a ficção surge da frustração? Conforme o polígrafo Marcondes Calazans, “A ficção é fruto de sonhos não realizados e de prognósticos feitos diante da velocidade em que o mundo vai.” Diante do exposto, lanço a questão: A ficção se apresenta como uma espécie de fuga?
Corremos tanto que esquecemos de dar valor ao que realmente tem valor nas nossas vidas. Em certos momentos a ficção se apresenta como se fosse a realidade. E é! Somos seres multiculturais, arraigados por ideologias vastas, densos pré(conceitos) e intensos abismos. Mas, para Karl Marx, só há uma ideologia: o capitalismo. E sendo todos nós seres movidos por capital, que sentido daremos ao fictício se ele parte da imaginação? No capitalismo não há espaços para o fictício, o capital é real, é concreto, é factual. Já Leonardo Boff acredita que cada ponto de vista é a vista de um ponto e sendo este o pensamento, há inúmeras formas de ideologizar. Para Boff: "Cada um vê com olhos que tem", demandando a individualização das leituras através das óticas pessoais. Como diz Admmauro Gomes: "O mundo e tudo o que nele há, existe primeiro dentro de nós". Assim, cada pessoa é um ser dotado de um mundo construído por ela mesma conforme as experiências que traz consigo. É como dizem: "Cada cabeça é um mundo!" E se o mundo que temos em nós for conflituoso tudo a nossa volta também o será, se o nosso interior estiver embebido de paz, tudo que nos circunda também o será. Vai depender mesmo da situação em que vivamos, das experiências que trazemos, das esperanças que alimentamos, dos sonhos que teremos. Será mesmo a ficção uma espécie de fuga para os contrastes de nossa passagem ou será um encontro do nosso mundo com a nossa realidade?
ResponderExcluir
ExcluirMuito bem, Professora Marian. O seu comentário vem enriquecer esta discussão. "O ser ou não ser," continua sendo a questão.
É certo também que "esquecemos de dar valor ao que realmente tem valor nas nossas vidas" e somos levados a valorizar as aparências, influenciados diretamente pela mídia. Isso cria nova forma de ficção: a que se impõe para agradar aos outros e a ser o que não somos. E cada vez mais se impõe na pós-modernidade o cenário dos seres em disfarce. Realmente, a ficção se mistura tanto com a realidade que seus limites se obscurecem.
Reedito minha questão: "A ficção se apresenta como uma espécie de fuga?" ou, como instiga Marian, "...será um encontro do nosso mundo com a nossa realidade?"
Arrisquei...
ExcluirUma palavra desencontrada, desnorteada
e por que não dizer, desvairada, ensimesmada, acabrunhada, alfandegada?
Mas jamais apagada, desconformada ou desiludida.
Palavra
Somente palavra
Por si só,
Desmistificada, explicada, entorpecida,
Eita palavra danada,
Palavra boa da vida!
Palavra querida
Palavra amiga,
Palavra parafraseada,
Palavra ensombreada,
Palavra!
Simplesmente palavra...
Oh palavra que me deixa sem palavras... (Marian Eulália)
O sono chegou,
ResponderExcluirA farra acabou
A noite esfriou
A cama chamou
E eu?
Eu fui deitar
À cama esquentar
O pedido atender
A noite agarrar
E o sono enfim se acabar!
Marian Eulália
ExcluirMinha cara poetisa.
Seu texto dá para trabalhar a intertextualidade. É só trocar "E eu?" por "E agora, Marian?"
... a festa não acabou. Avante!
Continuando a proposta de Admmauro Gommes:
Excluir... a festa não acabou
o dia sequer raiou
a noite só serenou
a primavera chegou
a chuva não acabou
o frio não foi embora
mas é chegada a hora
da gente se aninhar
Mas se eu não quiser?
O frio pode até
fazer eu me perder
Me perder de você
E quando eu te querer
Você nem vai voltar
Será que a nossa festa
Tinha tanta pressa
Por que foi se acabar?
E agora Admmauro???
ExcluirAgora...
Eu lá lia também
E agora você?
Eu leio agora pouco
Eu lá lia também
Eulália também.
Nessa leitura de mundo
Que venha o que vier
Não importa o que eu queira
Ou o que eu não mais quiser?
A festa vai começar
Não depende meu querer.
Oi Pessoal
ResponderExcluirAguardem.
ExcluirEstou acompanhando
ExcluirÉ isso ai professor Wilson. Este blog é muito bacana! Vamos acompanhar... Abraço!
ExcluirOs grandes escritores têm a sua língua, os medíocres a sua gramática. (José Lins do Rego)
ResponderExcluirRicardo Guerra.
ExcluirFoi muito oportuno, Ricardo, lembrar "Zelins."
Então, linguavejamos!
RICARDO
ResponderExcluirE agora, Ricardo?
A festa começou,
a luz acendeu,
o povo chegou,
a noite esquentou,
e agora, Ricardo?
E você, agora?
você que tem nome e sobrenome,
que respeita os outros,
você que é poeta,
você que ama e, desperta!
E agora, Ricardo?
Que tem muitas mulheres,
Com muitos carinhos,
com o discurso afinado,
que bebe demais,
que fuma demais,
que não cospe nunca.
A noite esquentou,
o dia raiou,
o ônibus passou,
o riso chegou,
não tem teogonia
e tudo começou
e tudo aceitou
e tudo brilhou.
E agora, Ricardo?
Sua palavra amiga,
seu instante de lucidez,
sua gula demais,
sua bibliofilia,
quase uma bibliolatria,
sua mina de argila,
seu terno de linho branco,
sua coerência,
seu grande amor – e agora?
De posse da chave
abriu a porta,
ela estava lá;
quer nadar no Pirangy,
mas o rio está poluído;
quer voltar a Pernambuco,
o Leão do Norte não está mais lá,
e agora, Ricardo?
Se você falasse sussurrando,
que não fosse farfalhando,
se você brincasse um frevo indolente,
se você acordasse
com uma valsa jaqueirense,
se você declamasse uns versos salientes,
se você vivesse eternamente...
Mas você não vive, você é morrente,
Você, Ricardo, é intransigente.
.
Acompanhado no claro,
qual uma estrela em ascensão,
com a sua teologia,
com o seu solar seguro
cheio de gente,
todo dia para conversar em profusão.
Com o seu cavalo branco,
que anda em passo elegante,
seguindo sempre adiante
todo alegre, radiante.
Com o seu cão perdigueiro,
junto a você... caçante, ofegante!
Você foge para onde, Ricardo?
Ricardo, para onde?
ExcluirDesconfortante é saber que, depois que a festa começa (Ricardo), termina (Drummond) ou tenha pressa de acabar (Marian), a pergunta não cala: "Para onde?"
Todo conhecimento acumulado durante a História da Humanidade não deu resposta precisa a esta indagação.
E ainda assim continuamos sem saber: "Ser ou não ser continua ou não sendo a questão?"
ExcluirSe na festa cheguei
ResponderExcluirSem saber onde estava
Para onde irei?
Se bebemos demais
já não nos vimos mais
Para onde irei?
Se antes eu tinha pressa
Agora ninguém me espera
Para onde irei?
O que será de mim
A festa terá um fim
Para onde irei?
Será que exagerei?
Extrapolei?
Para onde irei?
ExcluirOnde? Onde?...
Pedi a um amigo nosso para responder a esta questão. Veja o que ele disse:
“A onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda.”
- Manuel Bandeira
Na festa cheguei,
ResponderExcluirBebi, comi, palestrei.
Eulália-ei,
Admmauri-ei
Quero mais sair da festa não.
Ô festa boa da gota serena.
Pronto... nem findei.
ExcluirEi, (Eul)aliás, ainda faltam ricardeei, marcondeei, sylviei, vitalizei e muitos ei-ei-ei.
Ei, ei, ei
ResponderExcluirE num é que cansei?
Cansei de calar
Cansei de parar
O momento é agora
Poemar pra libertar
é chegada a hora
O trunfo alcançar
Se poemar é troféu
Quem sou eu para ser réu?
Quantas coisas me instigam!
Aqui estou eu a poemar
Se poemei, ou poemaram
Não sei, não me falaram
Estas coisas não se dizem
E bons ventos me atingem
Se não poemei um dia
É que a causa da minha alegria
Não me intrigaram como agora
ternas lembranças de outrora
E agora estou a poemar
E como se não bastasse
Admmaurear pra aquecer
Ricardear pra começar
Sylvilizar pra continuar
Marcondear pra abastecer
Vitalizar pra enriquecer
Wilsoniar pra não esquecer
Que o bom da poemada
é que não falta quase nada
E não finda com esta toada
O negócio agora é que tá bom
e se tá bom
é bom continuar
aquilo que se começa
não se finda com tanta pressa
e estou aqui a poemar...
Quem vai continuar?
ExcluirPOEMATIZAR
Esta toada não finda
No verso de Marian
Antes que termine a noite
E surja nova manhã
Antes que Ricardo venha
A Burarema cantar
Fazer a musa baixar
Como se fosse dengosa
Pra confirmar esta prosa
Eu quero poematizar.
Poematizar?
ExcluirPoemar?
Poemizar?
Poemada!
Toada!
Brincadeira boa danada!
Não finda
e não pode findar
Ouso agora ricardear
Admmaurear vou eu no mar
Sylvilizando estava
Wilson encontrava
Marcondes então se aproximou:
- Que festa é esta?
- Por que ninguém me chamou?
- Entre!
- Fique à vontade!
- A poesia que nos convidou!
Que encontro diferente!
Se estamos sonhando
Por que é que tanta gente
Ainda não despertou?
Se isso for um sonho
quisera não mais acordar
O mar estava tão belo
Coisas lindas nos esperam
Vamos lá, nadar?
Nadar no mar
No mar nadar
Viver
Sorrir
Cantar
Ser feliz
E a brincadeira não mais terminar...