11 de abril de 2017

ZORAIA, PORTUGAL E POESIA

Flores do jardim de Zoraia
Admmauro Gommes
Poeta e professor de literatura
admmaurogommes@hotmail.com

Conversando com Zoraia, uma ‘portuguesa’ natural de Xexéu, mas que reside na Ilha da Madeira, descobri outras zoraias que ela esconde. Iniciamos o bate-papo porque me disse que estava sem tempo para terminar de escrever um livro. Desculpou-se afirmando: “Nos dias de pouco movimento dedico-me às flores de meu jardim.” Durante a conversa, soube que desenvolveu outro talento para fazer gravuras em azulejos e tinha sido convidada para expor suas espécies raras. Suas orquídeas vanda e tutti negra, petúnia, catylas, proteias, sapatinhos da Índia, cactos, urze... Uns amores de plantas! Ou melhor, até amores-perfeitos. Então repliquei que isso também é poesia e sua produção valia mais que um livro publicado, pois se reeditava diariamente. 
O modo como ela faz e com o carinho que faz é o que conta, porque todo artifício que manuseia o belo, dialoga com o poético. Isso, por si, demonstra o grau de poeticidade que aflora de uma cultivadora de flores ou de uma esteticista que vê no toque facial traços de rara beleza.  É que a poesia está em tudo. Em cada pedaço de vida, em cada olhar, em cada esperança ou desesperança. E porque é arte, é parte integrante do cotidiano. Embora dito isto, faço breve distinção entre poetas que escrevem e poetas que cultivam a poesia no seu íntimo mas não conseguem externar o sentimento através das palavras. Esses escolhem pétalas para escrever auroras. Aqueles, palavras, pois necessitam desses instrumentos linguísticos e do domínio estético.
Mesmo fazendo estas considerações, reafirmamos que a poesia está em qualquer lugar: nos chinelos, como disse Manuel Bandeira; ou no esgoto, para usar a expressão de Manoel de Barros. Mas também pode estar no jardim. O olhar de quem observa é que dá a carga poética a qualquer objeto, como o carinho com que Zoraia cuida das orquídeas.
Observando as flores que ela me enviou pelo Whatsapp, entendo que são verdadeiros mimos e que ninguém precisa inventar poesia; ela já existe nos seres como imanência. Lembrando Mário Quintana, não se deve correr atrás das borboletas; basta cuidar do jardim que elas vêm ao nosso encontro.
Por ser essência, a poesia nos procura, nos circunda e nos absorve, pois somos reveladores dessa cosmicidade intransponível, indizível, indecifrável, e necessária para que a vida tenha sentido. A poesia está ligada à mágica da existência e ao deslumbramento que nos inquieta diante das coisas incompreensíveis. A sensibilidade é que faz o poeta, este cultivador de flores ou de essências.


3 comentários:

  1. Lindo texto dedicado a nossa amiga Zoraia! Confesso que fiquei com inveja. Será que vou ter de ir a Portugal, fazer um jardim pra merecer o prefácio do meu livro? Kkkk

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    1. Caríssima Maria:

      Não precisa ir a Portugal. É só mandar seu livro que farei o que pede. Embora que não devemos esquecer que o exemplo de Zoraia é contagiante. Lembrando o exímio orador e filósofo romano, Marco Túlio Cícero, citado recentemente por Ricardo Guerra, “Se temos uma biblioteca e um jardim temos tudo.”

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  2. Verdade! Zoraia é muito especial, uma verdadeira artísta, talentosa, e vencedora. Amo-a muito. Só não veio me visitar em sua vinda ao Brasil. Rsrsrsrs

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