10 de maio de 2015

ADMMAURO GOMMES NO DIÁRIO

Este texto foi publicado no jornal 
Diário de Pernambuco 
de 8/5/2015





O NOVO SEMPRE VEM


 Admmauro Gommes
A. Gommes
Sobre minhas tantas indagações acerca do que me cerca, talvez o que mais me incomode seja o advento do novo. Este trem carregado de ogivas que, por prudência, dele preciso me afastar, mas por necessidade, necessito agarrar-me ao seu para-choque que abre fronteiras e descortina encantados mundos. Permaneço vigilante para ver se o reconheço, se percebo as suas aparições antes que seus trovões me acordem no meio da noite. Sempre na vanguarda do tempo, ele tem a casca imanente do inusitado, do que chega pela primeira vez sem avisar, do que não se espera.
       Um exemplo prático é quando me surpreendo, amparado por toda tecnologia da atualidade, dentro da previsão que amanhã será dia aberto e céu sem nuvem, e de repente cai um chuvada daquelas. A novidade me pega de surpresa, desprevenido, pensando que não ia chover, e chego em casa todo molhado. E, ainda por cima, ouvir um sermão de alguém antigo que sabe muito de futuro: “Tá vendo, eu não disse que ia chover?” Ganhar na loteria. Isso também se espera quando se joga. Ganhar sem jogar (porque achou um bilhete premiado) é diferente!
O novo que é novo quebra toda a previsão. Não falo da construção de um edifício que passou dez anos para ser montado. No dia da sua inauguração, proclama-se o que já vem existindo havia uma década. Isso não se enquadra no que eu me espanto e chamo de novidade nem tem a ver com o que Maiakóvski revelou: “Estou esperando o renascimento do medo.” É disso que eu falo: do indescritível medo do que sai da casca do (n)ovo.
Aos poucos, a vida vai roubando o prazer de nos encantar diante do inusitado. O filho que ainda está no ventre, já tem seu rosto revelado em ultrassonografia colorida, sabe-se a cor de seus olhos, da pele, ou se terá alguma doença hereditária. O sorriso do pai, ao ver pela primeira vez um recém-nascido, é frustrado, pois a criança já é um velho de nove meses!
Mesmo apoiado na ciência da previsibilidade, continuo assustado, porque já vi muitos erros de ultrassonografias. Tenho medo, mas não devo. Como diz a canção de Belchior: “Mas é você/ Que ama o passado/ E que não vê/ Que o novo sempre vem...” Portanto, diante do inevitável, é salutar que sempre algo nos espante e nos impulsione para o improvável amanhã. Quem viver, “virá”.


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