Diário de Pernambuco
de 8/5/2015
O NOVO SEMPRE VEM
Admmauro
Gommes
A. Gommes |
Sobre minhas tantas indagações acerca do que me
cerca, talvez o que mais me incomode seja o advento do novo. Este trem
carregado de ogivas que, por prudência, dele preciso me afastar, mas por
necessidade, necessito agarrar-me ao seu para-choque que abre fronteiras e
descortina encantados mundos. Permaneço vigilante para ver se o reconheço, se percebo
as suas aparições antes que seus trovões me acordem no meio da noite. Sempre na
vanguarda do tempo, ele tem a casca imanente do inusitado, do que chega pela
primeira vez sem avisar, do que não se espera.
O novo que é novo quebra toda a previsão. Não
falo da construção de um edifício que passou dez anos para ser montado. No dia
da sua inauguração, proclama-se o que já vem existindo havia uma década. Isso
não se enquadra no que eu me espanto e chamo de novidade nem tem a ver com o que
Maiakóvski
revelou: “Estou esperando o renascimento do medo.” É disso que eu falo: do indescritível
medo do que sai da casca do (n)ovo.
Aos poucos, a vida vai roubando o prazer de nos encantar
diante do inusitado. O filho que ainda está no ventre, já tem seu rosto
revelado em ultrassonografia colorida, sabe-se a cor de seus olhos, da pele, ou
se terá alguma doença hereditária. O sorriso do pai, ao ver pela primeira vez
um recém-nascido, é frustrado, pois a criança já é um velho de nove meses!
Mesmo apoiado na ciência da previsibilidade, continuo
assustado, porque já vi muitos erros de ultrassonografias. Tenho medo, mas não
devo. Como diz a canção de Belchior: “Mas é você/ Que ama o passado/ E que não
vê/ Que o novo sempre vem...” Portanto, diante do inevitável, é salutar que
sempre algo nos espante e nos impulsione para o improvável amanhã. Quem viver,
“virá”.
Excelente crônica. Irei trabalhá-la com meus alunos.
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