15 de julho de 2013

A NUDEZ DO POETA


ADMMAURO GOMMES COMENTA LIVRO DE ROBERTO DE QUEIROZ


O poema não é máscara que esconda a face de ninguém, mesmo que se procure ficar por trás das palavras, há de ser revelado nas entrelinhas, um pouco de quem verseja. A obra A nudez de escrever, de Roberto de Queiroz, provoca este entendimento. O autor sugere que o texto o denuncia, mostrando como se é internamente. Mas quando isso acontece, faz-se, como é de se esperar, pela força das metáforas, o que não diminui a veracidade, pois no que se vê percebe-se a existência de certas verdades, ou meias-verdades (que muda tudo).
Mesmo assim, ele se expõe diante do espelho das letras e surge quase nu de seu sentimento, transparente, mas não todo exposto, como defendem os versos do livro citado (p.39): “Escrever é se despir/ (si próprio e o sentimento)/ daquilo que há no âmago (...) que se expõem ao grafar.” Tudo vai muito bem, mas quando ele introduz a palavra “âmago,” carregada de ambiguidade, veste-se de novo em seu manto opaco, pois “âmago” oculta, indecifra qualquer sentimento, não permitindo que se descubra a límpida realidade. Como quem quer e não quer, finge querer revelar-se, mas, é “fingimento deveras.”(...)

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Obs.: No dia 11 de julho/2013, os jornais Diário de Pernambuco e Folha de Pernambuco (pág 20) publicaram este texto completo.

5 comentários:

  1. O poeta utiliza-se de metáforas para expor seus sentimentos ou realidade social, onde isso fica claro nas entrelinhas no poema escrito.Então ROBERTO DE QUEIROS estar de parabéns ao escrever o livro: "A NUDEZ DE ESCREVER"
    ALUNA: Gabriela Raianne

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    1. Gabriela:

      Da próxima vez, comente como Nome/URL (não precisa preencher URL).

      Grato por sua participação.

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  2. O fascínio da literatura é justamente esse jogo de vestir-se e despir-se do poeta. Esse jogo torna-se mais atrativo ainda quando o escritor consegue o feito de despir-se até mesmo da própria pele, vestindo-se com mantos metafóricos. Dessa maneira o desejo pela leitura é despertado. Temos como definição de literatura uma arte que trabalha com a imaginação, um forte aliado dela é o eu-lírico (a voz que fala o poema e atua como uma forma de escape poética). Como consequência, o poeta escreve sobre o que quiser e esquiva-se das críticas simplesmente assim: a culpa é do eu-lírico! Admmauro Gommes está coberto de razão quando afirma: "O poema não é máscara que esconda a face de ninguém, mesmo que se procure ficar por trás das palavras, há de ser revelado nas entrelinhas, um pouco de quem verseja". Na verdade, não importa qual o traje que o poeta vista suas palavras, o leitor é investigativo e encontrará a essência do poeta costurada no próprio tecido.

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  3. Na verdade, a poesia faz parte da área do conhecimento que tem como embasamento a figuração, a criação do ser mediante a palavra. Literatura, portanto, é a arte da imaginação. Quanto mais distante da realidade, mas se encontra uma forma de representá-la dentro do que Aristóteles chamou de mimese: imitação. Imitação de quê? Da própria existência/essência do poeta e dos seres que lhe rodeiam. Nesse jogo, o poeta esconde revelando e revela escondendo. Como bem diz Roberto de Queiroz, no poema que dá título a obra em apreço:

    Escrever é se despir
    (si próprio e o sentimento)
    daquilo que há no âmago:
    é ter nu o pensamento,
    na incógnita essência da alma,
    na mais nua que há no intento;
    e ao leitor resta ver
    (nela) o que é fingimento,
    (nela) o que é humor negro,
    em plena aflição ou contento.
    Mas, nesse nu de escrever,
    a maior cizânia está
    no achar que o nu do escritor
    é normal ao publicar:
    natural e naturismo
    perdem o intimidar,
    até para os não confrários
    à inerência do pautar,
    que não querem se expor
    mas que se expõem ao grafar.

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    1. EM TEMPO:

      O vocábulo “confrarios” foi criado pelo autor. É uma reinvenção do vocábulo “confraria” (= grupo de pessoas com interesses e objetivos comuns). Assim, os versos “até para os não confrarios/ à inerência do pautar/ que não querem se expor/ mas que se expõem ao grafar” podem ser traduzidos como “até para os que não pertencem ao grupo dos escritores profissionais renomados, nem querem se expor, mas que se expõem, mesmo sem querer, quando escrevem”, embora não se exponham por completo.


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