Admmauro Gommes
Escritor, Poeta e Professor de Teoria
Literária
da FAMASUL/Palmares (PE)
admmaurogommes@hotmail.com
A
moda exerce um fascínio muito grande sobre o ser humano: altera comportamentos
e opiniões. O que ontem era uma sensação, hoje pode não valer nada, ou
vice-versa. A lembrança é que me denuncia. De vez em quando, recordo-me de
alguma coisa que era comum na infância, como por exemplo, o quebra-queixo, doce
caseiro, à base de coco e açúcar queimado. Mas isso pertence a outra época,
deixou de ser atração há muito tempo. Será?
Uma
das novidades de nossos dias é a arte retrô, ou seja, a que traz de volta o
sucesso passado, como roupas dos anos oitenta ou geladeira enfeitada de
pinguins. Além do retorno da vitrola. Não sabe o que é vitrola? É uma radiola.
Não sabe o que é isso, também? É um aparelho eletrônico que reproduzia long
play. Ou seja, disco de plástico rígido que foi substituído pelos atuais cds.
Ufa! Se você tem menos de 18 anos, acredito que estou usando uma linguagem
proibida para sua faixa etária.
Vamos
mudar de assunto. Esta semana, uma amiga minha, que tem uma loja na praça de
alimentação de um shopping, me informou que chegou uma grande novidade: petit
gateau (o nome é bonito, mas significa apenas pequeno bolo, em francês). Um
tipo desses está sendo anunciado constantemente na televisão como a última das
maravilhas, mesmo tendo surgido, por um erro na cozinha, há pelo menos duas
décadas. O toque de requinte é que o gateau serve-se quente, mas vem
acompanhado de sorvete.
Como
eu tenho uma leve irritação na garganta, que me afasta constantemente de
alimentos congelados, disse que não o aceitava. Só por esse motivo. Então, ela
me ofereceu outra, dizendo: Esta sim, não é gelada e não faz mal. É o produto
mais novo da doceria nacional. E continuou a propaganda: já vem embalado
em plástico higiênico, em tabletes. Uma delícia. É feito de especiarias
retiradas de raspas de coco, caramelizado e muito nutritivo. Aí, não resisti.
Quero provar. Quando abri a embalagem, tive uma surpresa: era quebra-queixo. Um
doce retrô.
Isso
me fez puxar pela memória e estacionar na infância. Que bom! O quebra-queixo
voltou. A tapioca já havia retornado, de antigamente, renovada em mil sabores
no recheio. Atualmente, é uma das receitas preferidas dos nutricionistas porque
tem baixo teor de sódio, sem gordura, rico em carboidratos e de fácil digestão.
E mais, não tem glúten. Que coisa! Mas não devemos nos espantar. Como diz
Eclesiastes, “Nada há de novo debaixo do sol.” Nem mesmo o quebra-queixo.
Fez-me lembrar da PICICA, muito feita por nós nordestinos, não sei se o sr. Gommes, experimentou, vale a pena se alimentar e relembrar os tempos de infância, pois foi assim que me senti ao ler o texto.
ResponderExcluirNa verdade, Mário, o ser humano é um monte de recordações. Quando as lembranças boas nos retornam, ainda bem. Se não, é como diz o compositor: "Saudade amarga qui nem jiló."
ExcluirTambém sei que, nada será como antes, o amanhã, como hoje, nada se repete, uma vez que vem recheado de um outro velho sabor. Saudade saudade foi o que restou,do quebra-queixo de seu Biu, a cocada de Maria galega. Obrigado Professor Ademmauro! Viajei no tempo, e por lá saciei a gula nos tabuleiros da doce infância. Viva!
ResponderExcluir
ExcluirSomente quem conheceu o sabor dos tabuleiros de doce, Ripe, compreende que a nostalgia vai além de simples lembrança. Ela tem o poder de estagnar o tempo e nos permitir provar do mesmo doce de antigamente (pelo menos via memória).
A leitura leve e tão doce desse artigo teve a cara daquela visita a tarde na casa da vovó. Obrigado professor por nos fazer recordar em suas palavras daquilo que torna a vida mais simples e prazerosa.
ResponderExcluirGrato pela leitura, caríssimo Bartolomeu.
ExcluirComo diria Alexandre Magnani, “A vida é curta, mas não precisa ser pequena.” Para uns, recordar o passado é sofrer duas vezes; para nós outros, que tivemos o afago na casa da vó, recordar é reviver. Abraço.
Texto que me fez relembrar minha infância...perfeito! Estou me "abastecendo" dos seus textos para Semântica, a ciência do significado. Ó cabra bom do juízo! É na lata! Rsrs! Parabéns, Admmauro e abração!
ResponderExcluirÉ verdade, professora: a literatura oscila sempre entre som e sentido, campo propício à Semântica. Isso foi o que me motivou cunhar a palavra “hipermetaforização” (do literário), como sendo a busca por infinitas interpretações a partir de um mesmo termo, em contexto diverso.
ExcluirGrato pelo comentário.
Na minha opinião, não há nada mais retrô do que meu nome: Maria, passei minha adolescência e juventude convivendo com o trauma de ter que dizer: meu nome é Maria! nome comum demais, coisa de pobre! para mostrar que era intelectual coloquei em minhas filhas nomes difíceis, originados de outra línguas, só não sei se elas sentem prazer em ter que repetir letra por letra todas as vezes que tem de dizer o próprio nome.
ResponderExcluirHoje, depois que Madonna colocou o nome da filha dela Maria, esse nome virou moda, todas as mães se orgulham de coloca-lo em nas suas meninas.
Enfim estou feliz!
Estou na moda!
Meu nome é Maria!