5 de novembro de 2016

O PREÇO DAS COISAS E DAS PESSOAS

Admmauro Gommes
Poeta, cronista e Professor de Teoria Literária da FAMASUL/Palmares/PE
admmaurogommes@hotmail.com

Há quem diga que todos têm um preço, no entanto, nem todos dispõem da quantia que se cobra. Que isso não tenha completa aprovação, mas mantém grande proximidade com o que acontece no campo das relações humanas, nas permutas sociais. Este entendimento reforça a ideia de que, no shopping da vida, tudo tem etiqueta e valor de comércio. A cédula, no entanto, varia, ou não está acessível a quem deseja comprar. 
Existe até quem se coloque em promoção, por alguns centavos (Judas vendeu-se por trinta moedas), enquanto que outros dizem não ser mercadoria e por isso não estão negociáveis, consideram-se mais importantes (mais caros) que os demais. Eles mesmos enaltecem sua cotação. Em determinadas circunstâncias, fazem acordos estranhos que, ao final, requerem uma espécie de quitação. Isso, no âmbito social (e não no financeiro), responde pelo nome de gratidão ou lealdade. Uma das faturas mais altas que se impõe, na atualidade, é da palavra empenhada, em ser um ‘homem de palavra”. Manter a honestidade e a honra tem sido motivo de cobranças e juros abusivos diante de uma sociedade que fragmenta os valores tradicionais.
A dedicação de uma vida inteira a uma causa não é um preço? Quem passa toda a sua existência defendendo uma bandeira, também não tem seu peso aquilatado? Quanto pagou Sócrates por defender suas ideias? Preferiu tomar cicuta, bebida mortal, a ser envenenado pelos posicionamentos contrários à sua filosofia. 
Mas nada se compara ao preço de cruz que Jesus pagou, mesmo recebendo ofertas estrondosas no pináculo do Templo, quando a ele foi oferecido o mundo inteiro, bastando que Cristo adorasse a Satanás. Nestes dois casos, existe uma quantia moral e espiritual muito elevada sobre os ilustres nomes, aqui citados, porquanto, não havia cifra terrena que pudesse lhes convencer do oposto às suas convicções. Só eles continham em si a moeda de resgate. É por isso que muitos cristãos afirmamos ser comprados pelo sangue do Cordeiro. Como dizem as Escrituras, isso foi pago.
Quando há paga, há recebedor. Ainda assim, existem coisas que possuem uma valia enorme, objetos de herança, que não se permutam nem pelo dinheiro do mundo todo. Mas representam um bem inestimável, aos olhos do proprietário. É o que acontece com muitas pessoas, que são donas de seu próprio valor, mesmo que este seja incambiável. Diremos, por fim, que muitos, por terem um caráter inabalável, não estão sujeitos a “uma taxa de câmbio fixada pelo governo.” Estes carregam, em si mesmos, uma fortuna inegociável.


Texto publicado no site NOVA MAIS (2/11/16)



Nenhum comentário:

Postar um comentário