Por Admmauro Gommes
Poetisa Maria do Socorro Barros y Durán |
Um poema não
precisa ser longo para ser grande. Como diz Vital Corrêa, um verso bem
construído vale mais que uma odisseia. Foi o que pensei ao ler “Xexéu” de
Socorro Durán. Aliás, esta poetisa vem crescendo visivelmente, à luz da
contemporânea estética literária. Diria que, como chuva serôdia, aquela que
tardiamente vem para deslumbramento do agricultor, Durán apareceu há poucos
anos como poetisa, embora poetisa fosse a vida inteira. É que reconheço nela,
assim como vejo em Wilson Santos, um talento que desponta após longo tempo
convivendo com a poesia sem que se reconhecesse a si mesmo como poeta.
De repente, destampam-se e
eclodem autores deste quilate em percepções muito sensíveis, próprias apenas
dos que convivem com o sentimento alinhado ao domínio da palavra. Como essas
espécies de escritores são muito exigentes com a sua criação literária,
retardam a divulgação do que produzem. Ainda bem que a fase da autocrítica
severa se rende à necessidade de sobrevivência pública da poesia.
Confirma-se o exposto em Socorro
Durán, quando a simbologia de uma ave denominada Xexéu adquire aspectos
sublimares e conduz o poético ao estado de libertação: “Um pássaro/ de asas largas/ olhos grandes/ arrebentou minhas amarras/
libertou-me/ e conduziu-me/ à terra dos bem-te-vis.” Nesta construção, cada palavra tem múltiplo sentido, pois não há
nada gratuito, que se apresente apenas em favor da rima ou da métrica. Assim,
as linhas são repletas de plurissignificações. E o mais importante é que a
economia literária não aponta com exatidão o endereço do destinatário. É nisso
que ganha força a arte, não se fechando em única leitura. As ideias ficam à
deriva das tantas possibilidades de interpretação.
“Libertou-me”, portanto, é uma
confissão de muita valia, porque o eu-lírico se imaginava preso (minhas
amarras), mas por intermédio do implícito voo do pássaro, encontrou a vereda
libertária e escapou para um lugar de prazer indizível. Aos olhos da
poetisa, alcançou-se “à terra dos bem-te-vis.” Com esta metáfora imensurável e
indecifrável (daí a excelência de um poema grandioso), conquistou-se um espaço
que ainda não se havia revelado dentro de si, mas que, sob surpresa
percebeu-se a sua existência.
Esse
é um lugar encantado, como Pasárgada, lembrando Manuel Bandeira. Para se
chegar lá, permite-se ser conduzido por um guia inesperado. Pode ser uma Asa Branca, na
concepção de Luiz Gonzaga, Sabiá, em Gonçalves Dias, na Canção do exílio, ou
Xexéu, para Socorro Durán. Oswaldo Montenegro diria: “Voa Condor, que a gente
voa atrás.” Com tanta poesia, em pouco tempo, nós pediremos socorro a Durán.
Professor, gostaria de seu contato
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