31 de março de 2016

XEXÉU DE SOCORRO DURÁN

Por Admmauro Gommes

Poetisa Maria do Socorro Barros y Durán 
Um poema não precisa ser longo para ser grande. Como diz Vital Corrêa, um verso bem construído vale mais que uma odisseia. Foi o que pensei ao ler “Xexéu” de Socorro Durán. Aliás, esta poetisa vem crescendo visivelmente, à luz da contemporânea estética literária. Diria que, como chuva serôdia, aquela que tardiamente vem para deslumbramento do agricultor, Durán apareceu há poucos anos como poetisa, embora poetisa fosse a vida inteira. É que reconheço nela, assim como vejo em Wilson Santos, um talento que desponta após longo tempo convivendo com a poesia sem que se reconhecesse a si mesmo como poeta.
De repente, destampam-se e eclodem autores deste quilate em percepções muito sensíveis, próprias apenas dos que convivem com o sentimento alinhado ao domínio da palavra. Como essas espécies de escritores são muito exigentes com a sua criação literária, retardam a divulgação do que produzem. Ainda bem que a fase da autocrítica severa se rende à necessidade de sobrevivência pública da poesia.
Confirma-se o exposto em Socorro Durán, quando a simbologia de uma ave denominada Xexéu adquire aspectos sublimares e conduz o poético ao estado de libertação: Um pássaro/ de asas largas/ olhos grandes/ arrebentou minhas amarras/ libertou-me/ e conduziu-me/ à terra dos bem-te-vis.Nesta construção, cada palavra tem múltiplo sentido, pois não há nada gratuito, que se apresente apenas em favor da rima ou da métrica. Assim, as linhas são repletas de plurissignificações. E o mais importante é que a economia literária não aponta com exatidão o endereço do destinatário. É nisso que ganha força a arte, não se fechando em única leitura. As ideias ficam à deriva das tantas possibilidades de interpretação.
“Libertou-me”, portanto, é uma confissão de muita valia, porque o eu-lírico se imaginava preso (minhas amarras), mas por intermédio do implícito voo do pássaro, encontrou a vereda libertária e escapou para um lugar de prazer indizível. Aos olhos da poetisa, alcançou-se “à terra dos bem-te-vis.” Com esta metáfora imensurável e indecifrável (daí a excelência de um poema grandioso), conquistou-se um espaço que ainda não se havia revelado dentro de si, mas que, sob surpresa percebeu-se a sua existência.
Esse é um lugar encantado, como Pasárgada, lembrando Manuel Bandeira. Para se chegar lá, permite-se ser conduzido por um guia inesperado. Pode ser uma Asa Branca, na concepção de Luiz Gonzaga, Sabiá, em Gonçalves Dias, na Canção do exílio, ou Xexéu, para Socorro Durán. Oswaldo Montenegro diria: “Voa Condor, que a gente voa atrás.” Com tanta poesia, em pouco tempo, nós pediremos socorro a Durán.

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