COLUNISTA











Caro amigo Admmauro Gommes, dando prosseguimento às informações históricas pertinentes a Jaqueira-PE e região, acrescentamos:

20 de dezembro/2014
30. JAQUEIRA-PE INSERIDA NO TERRITÓRIO DO QUILOMBO DOS PALMARES

Considerada como a mais importante sublevação negra no Brasil, o Quilombo dos Palmares se instalou e se desenvolveu na área geográfica onde está situado o atual município de Jaqueira, bem como todos os demais com os quais este faz fronteiras. Desde a postimária da centúria XVI, passou a ocorrer fugas e libertação de escravos que seguiram em direção aos caminhos palmarinos.

Segundo Décio Freitas (1973), a região Sul da Capitania de Pernambuco era uma terra incógnita, sobretudo a remota zona das terras altas dos Palmares, uma imensa selva virgem que se iniciava na parte superior do Rio São Francisco e findava sobre o Cabo de Santo Agostinho.
A grande quantidade e variedade de palmeiras, nativas da região, lhe deu o nome. O autor mencionado, transcrevendo documento do século XVII, nos faz ver que se tratava, segundo a descrição da época, de... Um sítio naturalmente áspero, montanhoso, agreste, com tal espessura e confusão de ramos que, em muitas partes, é impenetrável a toda luz, a diversidade de espinhos e árvores rasteiras serve de impedir os passos e intrincar os troncos...
A área do Quilombo dos Palmares, refúgio para os escravos africanos fugidos, tinha um faixa litorânea de 260 quilômetros de extensão, sendo desta um planalto de pouca altitude, ladeando uma nesga do litoral mais ou menos considerável de terras altas.
Ao se refugiarem nos Palmares os escravos tiravam partido do tipo da região que em todo tempo na história constituiu o ponto forte das classes subalternas quando se sublevam: a montanha inóspita, precisamente porque ali não chega o braço do Estado ou, pelo menos, quando chega é com grandes dificuldades.
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10 de dezembro/2014
29. HABITANTES DO QUILOMBO DOS PALMARES

Com a confusão imperando na Capitania de Pernambuco, a partir de 1630, com a invasão dos holandeses, houve um acentuado crescimento do Quilombo dos Palmares, pois com a guerra, desorganiza-se, por momentos, a produção de açúcar, relaxa-se a vigilância sobre os escravos e estes aproveitam a oportunidade para fugir, às centenas.
À primeira vista, o Quilombo dos Palmares parecia desorganizado e confuso, pois viviam ali negros nascidos em diversas tribos africanas, com diferentes costumes, ao lado de outros, haviam chegados crianças, ou tendo nascido no Brasil, traziam também já a marca de cultura dos brancos. No Quilombo, moravam também índios, muitos deles também ex-escravos, mulatos e até brancos, provavelmente fugitivos da justiça. De todo este amálgama racial, surge um tipo de organização social muito parecida com a de algumas tribos africanas, muito embora com algumas modificações pela influência dos palmarinos que vieram de outros grupos. (Júnior: 1979).
O escravo refugiado no Quilombo dos Palmares deixava de ser uma “peça”, “uma coisa falante” passava a recobrar a sua dignidade de ser humano. Quando atacado podia multiplicar as emboscadas ou se tornar inatingível mergulhando na selva.
O Quilombo dos Palmares se assentou em base em dezenas de aldeias e até o final da centúria XVII serviu de território livre a escravos foragidos de inúmeras tribos africanas; se desenvolveu consideravelmente. No seu ápice, em 1670, suas lavouras e mocambos chegavam a cobrir o que é hoje o Estado de Alagoas, porção oriental de Pernambuco, além de Sergipe. Um vasto território compreendia o Quilombo, como dito antes, com 260 quilômetros de extensão por 132 de largura, em faixa paralela à costa, onde residiam 50 mil habitantes. Prosperou de tal forma a sua economia que mantinha comércio com as vilas próximas, como Sirinhaém, Porto Calvo e Penedo.
Com a expulsão dos holandeses de Pernambuco, a partir de 1654, os portugueses e aliados locais se uniram para destruírem o Quilombo que combatia com bravura e vigorosa resistência. Dentre os heróis da “Tróia Negra” se destacaram Ganga Zumba, Ganga Zona e Zumbi. Este último o mais famoso de todos os seus guerreiros da época, pois se tratava de negro de singular valor, grande ânimo e constância rara; este é o espectador dos mais, porque sua indústria, juízo e fortaleza aos nossos serve de embaraço, aos seus de exemplo. (op. cit.)
Com a chegada da centúria XVIII, após o término das prolongadas lutas internas contra os invasores flamengos e os escravos negros e, visando à consolidação e ocupação do espaço geográfico, bem como da integridade territorial de Pernambuco, começa uma fase de retomada de penetração e ocupação econômica das terras férteis da zona da Mata Sul. Mesmo havendo uma recessão na centúria em epígrafe, em virtude do rompimento do monopólio colonial com a introdução do açúcar das Antilhas na Europa, aconteceu, normalmente, o processo de expansão demográfica na zona açucareira.
Embora as informações disponíveis nos arquivos históricos não nos permitam aferir os movimentos mais significativos da ocupação até o meio da centúria XIX, sabe-se, no entanto, que, dada a fertilidade das terras da zona da Mata em estudo, as várzeas ao longo dos cursos d’água foram áreas prediletas para as implantações populacionais.
Ainda no primeiro quartel da centúria XIX, existiu onde hoje está localizado o município de Palmares um aldeamento de indígenas “domesticados”, cujas atividades básicas se orientavam à caça e a pesca. Esse aldeamento recebeu o nome de Trombetas, denominação a respeito de cuja origem havia a seguinte lenda: passara um grupo de soldados, ao tempo da Revolução Praieira de 1848, e ao atravessarem um atoleiro então existente perto do aldeamento, fora perdida uma trombeta, que se dizia haver submergido no atoleiro, sendo inúteis todos os esforços para encontra-la. Em decorrência o aldeamento passou a se denominar Trombeta. (Diário de Pernambuco, Recife, 09 de junho de 1979, p. 04)

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4 de dezembro/2014
28. BLOCO "O BOI DE BIÉ"












O jaqueirense Bié era uma pessoa muito animada. Quando chegava à época do carnaval, tocava, ou pelo menos tentava tocar, uma sanfona velha e desafinada, já bastante desgastada e com o fole furado. Mesmo assim, era um grande folião e entusiasta do reinado de Momo.
Era um homem simples, pobre e humilde, que ganhava a vida como agricultor e trabalhador no corte da cana de açúcar nas safras sazonais, na região de miséria do Ópio de Pernambuco, na Mata Meridional Pernambucana. Morava na antiga Rua do Cemitério e nas sextas-feiras sempre fazia, à noite, em sua casa, uma dança, para tomar umas e outras talagadas da branquinha destilada da Saccharumofficinarum e alegrar a vizinhança.
O que ele mais gostava mesmo era quando chegava fevereiro e com ele o Carnaval. Então era a época de desfilar com os seus blocos: A Ema de Bié, O Boi de Bié e A Laussa de Bié, ou La Ursa (personagem popular do nosso carnaval de rua que assusta às crianças e pede dinheiro; teve origem na expressão la ursa, animal que um domador italiano levava pela corrente  pelas ruas a pedir dinheiro). Assim, nasceu o refrão “A Laussa quer dinheiro quem não der é pirangueiro”, caindo o R de "Ursa" na linguagem popular, como costuma acontecer.
Cada dia de Carnaval, Bié saía com um bloco diferente animando e fazendo o seu folguedo. Comandava a “orquestra” com a sua sanfona furada, acompanhado de um melê (espécie de surdo, feito num toco de árvore usando uma borracha de câmara de ar de caminhão como pele), um triângulo, um reco-reco e um violão.
Num desses longínquos Carnavais do passado, Bié, junto com o seu bloco O Boi de Bié, tomou o trem de passageiros e foi até a cidade de Marayal, desfilar e cantar pelas ruas de lá. As pessoas gostavam de ver e sempre lhes davam bebidas e algum dinheirinho. A festa corria solta como passarinho ligeiro e tome bebida, cerveja, cachaça Rainha Pernambucana, bate-bate de maracujá etc.
Quando entravam em algum estabelecimento comercial pedindo bebida e lhe serviam cachaça ou bate-bate, Bié sempre dava para o Boi beber, ou melhor, a pessoa que estava carregando a fantasia do boi. Quando, porém, lhes oferecia cerveja gelada, ele a bebia.
Meio-dia, sol quente, calor de rachar tamanco de madeira, então o Boi foi se embriagando e quando o bloco estava bem no meio da rua principal da cidade, apertou uma diarreia e deu vontade do Boi defecar. E aí, o que fazer?
O Boi não teve dúvidas, se acocorou no meio da rua e, lá se esvaziou; só que um policial que estava observando a festança viu. Quando todos já saíam de fininho, a “autoridade” disse:
- Alto lá, estão todos presos! Eu vi o que o Boi fez e isto não está correto, Já pra cadeia todos vocês!
Prenderam todos do bloco, músicos, passistas e o Boi; somente depois, com a intervenção de um político local, soltaram-se e voltaram para Jaqueira.
Pensam que Bié ligou pra isso? De jeito nenhum. No outro dia, ele já estava desfilando garbosamente com outro dos seus blocos, dessa feita, com A Ema de Bié.




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28 de novembro/2014
27. QUANTOS ANOS TENHO? 
Descobri que poucos anos ainda me restam, muitos já os vivi, foi um longo e bom passado. Os poucos anos que ainda me aguardam, espero que sejam tão bons quanto os foram seus irmãos. Agora a ficha caiu: entendo que quase tudo o que por mim passou despercebido, eu os perdi. Não volta mais.
Não careço mais de enfrentar as pequenezes e os opróbrios da vida. Não tenho mais tempo de esperar a chuva passar, vou aproveitar para molhar-me e bebê-la. Não careço mais ter vergonha em ser honesto e honrado. Meu parco tempo que me sobra desfrutarei com pessoas de alma límpida, que não cobiçam nada, senão buscarem-se a si mesmas. Não tenho mais tempo para discutir o sexo dos anjos e nem os gozos dos dogmas sem sexo, nem a alma das plantas e dos animais irracionais, ou não. Muito menos de pensar em ti. Meu tempo estar-se expirando, as decepções, depressões e ascensões não têm mais nenhum valor. Cansei de procurar a fome dos desamparados para matá-la. Já não exijo mais nada de mim, contento-me com a experiência e a filosofia. Não tenho mais tempo para ouvir lamentos e explicar conceitos inconcebíveis. Terminando-me está quase o show.
Os últimos relampagueamentos dos meus neurônios tornam-me transparentemente cristalizantes. Vivi como quis viver. Quantos anos tenho? Não os tenho mais, passaram. Mas, gostaria de regressar ao útero materno e iniciar-me novamente num orgasmo cósmico.

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21 de novembro/2014
26. O PÉ-DE-JENIPAPO 


Quando Nossa Senhora, Mãe de Jesus, andava nesse mundo, estava ela sentada descansando à sombra de um pé-de-jenipapo, carregadinho de frutas maduras. Então, vai passando o diabo pela estrada e diz:
- Ô Dona Maria, me dê uma fruta dessas!
Nossa Senhora lhe respondeu:
- Dessas que estão caídas no chão eu não dou não, mas fique você esperando, quando o último jenipapo do pé cair, pode ficar com ele.

 Até hoje, o coisa-ruim espera debaixo do pé-de-jenipapo. Pois os frutos do jenipapeiro nunca caem todos do pé, sempre ficam alguns de uma safra anual à outra.
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14 de novembro/2014
25. COLHEITEIRO DE SOBRAS
(Ricardo Guerra)

Meus pensamentos colhem sobras de flores.
Não uso palavras formais para colher amor,
Prefiro elas nuas, com sotaque carregado.
Conheço o segredo das coisas sem importância:
Do bafo quente de terra molhada da chuva.
Da lua nua de barriga prenhe.
Dos meus quatro irmãos-ventos.
Das folhas das árvores não balançarem à meia-noite.

Eu nasci programado pra gostar de coisas fúteis:
Dos desperdícios de tantas estrelas.
Das incontáveis galáxias dentro de mim.
Dos espíritos das matas e dos rios
Apaixono-me pelas sombras e sobras inúteis.
Apaixonei-me, ainda, pela música e suas infinitas notas.
Na capacidade de improviso no pentagrama musical.
Da paixão dela bailando consigo mesma.
Do pio das aves agourentas.
Dos rios de águas barrentas.
De dialogar e filosofar por telepatia.
Gosto dos doidos e dos seus mundos mágicos.
Dos alcoólatras em transe de semideuses.
Do amor, não percebido dos cães.
Do meu jardim, centro do Universo.
Da energia transmitida das plantas.
Da seiva venenosa de muitas delas.
Das carnívoras que são como eu:
Um colheiteiro de sobras.


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Quando dois poetas decidem brincando fazer um poema.

8 de novembro/2014
24. GALOPE DA NÊGA DO DOCE
(Admmauro Gommes & Riccardo Guerra)












Amigo Ricardo, rei da Burarema
Há coisa que sempre encanta o matuto
Um bebo na praça fumando charuto
Em um batizado depois da novena.
O mundo é grande a vida é pequena
Há muita ciência pra gente pescar
Um chá de carqueja pra desinflamar
A queda do bicho parece um coice
Danou-se, danou-se a nêga do doce
Nos dez de galope na beira do mar.

Famoso Admmauro do reino encantado
No Recanto das Águias não fica ao léu
Na pedra do reino seu nome é gravado
Como um grande poeta filho de Xexéu
Mais de vinte livros ele já escreveu
Tem a força de Hércules ou de um Teseu
No meio dos vinte: “Cinco Poetas e um Luar”.
De jaqueira lhe faço um convite arretado
Para em Maceió com tudo acertado
Cantarmos galope na beira do mar.

Quem tem um amigo não vive à toa
Está rodeado e nunca está só
Pode viajar para Maceió,
Campina Grande e João Pessoa
E vara o mundo chegando em Lisboa
Na força do bicho chamado jaguar
E com bacamarte dá tiro no ar
Ao lado do amigo que é seu Ricardo
Que lá de Jaqueira é o maior bardo
Nos dez de galope na beira do mar.

O mundo endoidou, mas não me convenço
Que até minha "Nêga do Doce" Danou-se
Partiu proferindo palavras, encantou-se
Para um mundo dos poetas ao qual eu pertenço.
Convidei Admmauro para ir me ajudar
E saímos os dois pelo mundo na procura
Não tínhamos nenhuma noção por onde começar
Encontramos o tabuleiro e a Nêga a vadiar
E ela não estava nem aí para tanta frescura
Ficamos cantando galope na beira do mar.

Você que conhece a fala dos reis
E sabe da grota que mora o brejeiro
Como é que um médico vem do estrangeiro
E vai entender o seu jaqueirês?
Vai se confundir com o nordestinês
Nessa confusão pode se engasgar
Na hora da cura é capaz de matar
Não vai entender caxumba e querela
“Pobrema de estambo e da espinhela”
Nos dez de galope na beira do mar.

O meu jaqueirês é uma língua arretada
Até o estrangeiro aprende depressa
Três dias de feira e ele logo a professa
Ouvindo a língua matuta e falada
Depois o doutor toma umas quatro lapadas
Da boa “temperada” do Alfredo Colar
Depois do efeito se dana a conversar
Miolo de pote e outras coisas também
Com os matutos se assim o convém
Nos dez de galope na beira do mar.

O seu idioma que é universal
E tem os traços de uma tradição
Careta e gesto em toda expressão
Trazendo um brilho que é sem igual
Quem não entender que é natural
Se engasga na pinga na porta do bar
Confunde caatinga e “cheirim” de gambá
Caxumba, papeira e cabeça de prego
Passando colírio para quem é cego
Nos dez de galope na beira do mar.

No meu idioma tudo é muito bacana
Meus irmãos matutos e uma nova língua
No meio da feira tomando uma pinga
Tendo como tira-gosto uma madura banana
Matuto é cabra sabido e muito legal
Em todo lugar ele gosta de estar
Observando e sempre aprendendo
Com sua viola pra cima e pra baixo
Eu também sou matuto por isso entendo
Nos dez de galope na beira do mar.

O matuto tem tal compreensão
Que as nuvens do céu sabe entender
Se amanhã é de sol ou vai chover
Se é dia de plantar milho ou feijão.
Ele sabe governar uma nação
Mesmo com um jeito estranho de falar
Há quem não consiga com ele conversar
Mas é um cabra tão inteligente
Que do Brasil um já foi até Presidente
Nos dez de galope na beira do mar.

Anatomia de matuto jaqueirense é assim
Pau da venta, zói, queixada e perna é canela
Beiço, cangote, suvaco, viria e guela
Mas não gosta das coisas cheias de pantim
Tem um jeito bonito da gota de falar
É bucho, chibata, cambito e pêia
Tripa gaiteira, buchada e zurêia
O bacamarte sempre tá pronto pra atirar 
Mas não mangue dele pois vai se arretar
Nos dez de galope na beira do mar.

Eu hoje fiquei malassombrado
Num pesadelo eu vi a caipora
E acordei depressa, sem demora
Pensei ver o Saci bem ao meu lado
Eu acho que tava vendo tudo errado
Rodrigues era um gato maracajá
Vital Corrêa imitava um sabiá
O Coronel cantava uma embolada
E Joel dava aquela gargalhada
Nos dez de galope na beira do mar.

Poetas preferem pois praticar poesia
Particularmente pelo prazer permanente
Pensando poder prosseguir previdente
Perfazendo percurso pela porfia
Permita-me, porém, parar para pensar
Preciso poetar por proficiência
Peço-lhe perdão pela paciência
Palavras prolíficas prefiro procurar
Pronto parei profundamente para praticar
No dez de galope na beira do mar.

Caro amigo Ricardo que é Guerra
Mas proclama a cultura de uma paz
No galope você provou que é demais
Cantando as belezas de sua terra
Cada verso que você encerra
Tem uma riqueza no seu linguajar
Por isso terminemos com esse pelejar
E não posso mais acompanhar você
Pois me faltam palavras na letra pê
Nos dez de galope na beira do mar.


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3 de novembro/2014
23. A BARRACA DE ZÉ DOS MANGAIOS

Zé dos Mangaios tem de tudo quanto é catrevage para vender na sua barraca coberta de lona, bem no meio da feira de Jaqueira Ele garantiu que: “ Inté já incomendô inergia im pó pra vendê a grané”.

            E bainha pra foice roçadeira
            Tem corda de náilon boa de dá nó
            E lona pra cadeira espreguiçadeira.

Parafuso de toda qualidade e polegada.
Faca peixeira da boa e também tem facão.
Espoleta de bacamarte festeiro e espingarda.
Feito de couro, para faca peixeira, tem até o surrão.

Chapéu de couro e abano pra fogão e fogareiro.
De muitão, tem pinhão e ximbra, pra menino brincar.
Feito de lata de querosene tem o bom candeeiro.
Pólvora elefante e chumbo pra passarinhar.

Remédio pra curar animal com bicheira braba.
Pra cachorro pequeno e grande ele vende a coleira.
Martelo e bassouras de palha e de piaçava.
Para o fogão a gás tem ainda a mangueira.

Barbantes de todos os tipos e pra facas tem pedra de amolar.
Pás e, para pedreiro, tem colher e desempoladeira.
Bainha de couro, colher de pau e grelha para carne assar.
Estrovenga, machado, enxadeco, cavador e foice roçadeira.

Bala pra espingarda e revólver, fechadura pra porta e porteira.
Veneno para matar rato e saúva. Feito de agave tem espanador.
Pra pegar catita e guabiru tem ratoeira feita de madeira.
Pra passarinho a ração e, para do milho fazer pamonha, tem ralador.

Luvas de couro e plásticas, arame farpado e chapéu de palha.
Enxada Tramontina, para nivelamento e prumo tem marcador.
Para animal de carga tem cia, rebenque, rabichola e cangalha.
Pé-de-cabra, chave de fenda e para fogão a gás seu queimador.

Pra tanger uma tropa de burros e mulas tem um bom “rêio”.
Corda de caroá e agave; pra marceneiro, prego de toda polegada.
Para um bom cavalo andador, cela, espora e todos seus arreios.
Rifle papo amarelo certeiro, pra se usar em qualquer empreitada.

Ferrolhos de todos os tipos e grampos para pregar arame.
Foice pra cortar cana-de-açúcar e artesanatos de couro.
Tem até mesmo enxada pequena pra plantar inhame.
Para o caboclo sabido: A “erva do cabra vivedouro”.

Certa vez um matuto perguntou:
- O senhor tem remédio pra rato?
              Zé dos Mangaios, respondeu e perguntou:

- Tenho, mas ele está doente do quê?



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27 de outubro/2014
22. O CAIXÃO DE DEFUNTO NA CARROCERIA DO CAMINHÃO
Bagaceira era motorista de caminhão e estava empregado na Usina Frei Caneca, quando recebeu a incumbência de ir buscar um caixão de defunto na cidade dos Palmares, para levá-lo até o engenho Várzea Velha, local onde havia morrido uma pessoa, que também era funcionário da usina.  
Quando saiu de Palmares com destino ao engenho, já estava começando a escurecer e o tempo ameaçava de chover. Era mês de dezembro e nessa época na região sempre vêm as chuvas de Santa Luzia, ou como também são conhecidas, as chuvas do caju.
No meio do caminho, ele deu bigu a um conhecido seu por nome de Pramode. Este resolveu viajar na carroceria do caminhão e ao subir deu de cara com o caixão. Não se importou com isso.
Então começou a cair uma chuvinha criadeira e como Pramode não tinha onde amparar-se da chuva, resolveu abrir o caixão e se acomodar dentro dele. Entrou, deitou-se e cobriu-se com a tampa.
Mas na frente, Bagaceira deu novamente bigu a várias outras pessoas que subiram também na carroceria do caminhão e já ficaram arrepiadas de medo ao ver o lúgubre esquife, mas como eram umas dez pessoas começaram a conversar e seguiram a viagem calungando no caminhão.
Pramode que estava deitado dentro do caixão, pegou no sono e não viu que a chuva havia passado.
Somente veio a despertar quando o caminhão passou por um catabi na estrada e ele acordou. Então, abriu a tampa do caixão e perguntou:
- A chuva já passou?
Foi um cu-de-boi-dos-diabos! Não ficou uma só pessoa em cima da carroceria. Todos, com exceção de Pramode, pularam fora do veículo em movimento.
Uns três quebraram as pernas, outros os braços, uma coitada de uma velhinha que também havia pegado bigu e vinha também calungando, deu um pulo tão da bexiga lixa que nem chegou a cair no asfalto, deu uma carreira tão grande que ultrapassou o caminhão.
O motorista Bagaceira, assustado, parou o veículo mais na frente e foi ver o que estava acontecendo. Então, Pramode, que estava dentro do caixão, falou:
- Ô povinho medroso sô. Parece que nunca viram um caixão de defunto!

GLOSSÁRIO:
Bigu = carona
Calungando = viajar em cima da carroceira de caminhão.
Catabi = buraco nas estradas.


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18 de outubro/2014
21. POLÍTICA x POESIA

Se a juventude deve participar da política? Como?
Se nem mesmo sabe a diferença entre presidencialismo e parlamentarismo?
E ainda nem descobriu pra que serve um senador com mandato de oito anos.
E o Senado, serve pra que mesmo?
Se nem sabe que dos 182 países que fazem parte da ONU,
apenas o Brasil remunera o cargo de vereador.
Se nem sabe que o pior tipo de gente acaba virando político profissional?
Se nem sabe que os programas televisivos em canal livre são alienantes?
Se não gosta de ler e de se informar
 sobre o que está acontecendo na política local,
regional e nacional?
Se as ideologias comunista-socialistas
são cadáveres desenterrados na “América Latrina”
e mesmo assim dominam todos os setores chaves em Pindorama?
Se fica espantada com o assalto perpetrado aos cofres públicos,
com o voto dela, juventude.
Que usa camisetas com estampa de Guevara,
fuma maconha e deixam o cabelo crescer,
tentando mudar o mundo?



Prefiro ficar poetando-indagando,
E a tristeza do amor que acabou,
Do vazio que ficou?
De um adeus melancólico e sofrido
Que no passado estagnou aturdido?
Que teima em não passar,
Que quer ser resgatado, acalentado.
Que se recusa a ser finado?

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12 de outubro/2014
20. HOMONÍMICO
Caro Admmauro Gommes, semana passada “gerei” um poemeto para exemplificar na disciplina Semântica a Homonímia – que é o estudo da relação de duas ou mais palavras que possuem significados diferentes, porém, possuem a mesma forma e som, ou seja, os homônimos. Estas se dividem em: Homófonas – acento/assento, conserto/conserto; 

Homógrafas – pode/pode, olho/olho; Perfeitas – rio/rio, são/são/são. (Você me desafia constantemente, gosto disso)


Acendi a chama do meu coração
Querendo ascender minh’alma ao astral
Como acentuando um vocábulo obscuro
Tomei assento junto ao léxico

Aprecei correto o sentido da metáfora
Apressando meus passos no mundo das letras.
 Cacei sentido filosófico no poema
Tentando cassar o valor de um beijo
Cego de paixão por ti fiquei
Mas a razão segou-te dos meus sonhos

Em minha cela contemplativa olhei
Ao chão uma sela usada em nossa fuga
Quando raptei-te do castelo dos nossos sonhos

Sem nenhum senso em vão vaguei
Recenseando a cada passo teu respirar
Céptico de não encontrar-te, acertei.
Posto que meu coração séptico esteja a parar

No barco do amor a cerração me cega
Quando cerro os pinhos e grito
Bem alto e ao vento, na dor que me pega

E diz: “Ventimbora danada”, pois sem ti estou “frito”.

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6 de outubro/2014
19. LITERATURA REGIONALISTA,
ASPECTOS HISTORIOGRÁFICOS E LITERÁRIOS
(Ricardo Antônio Guerra da Silva)
Condicionada pela tradição cultural e pelo devir histórico, a literatura tem, no entanto, uma dimensão que não se define somente pelas circunstâncias em que se produz. Nela, o talento individual do artista e a sensibilidade para os problemas de seu tempo são determinantes para mostrar, discutir ou criticar os principais aspectos de uma cultura.
Centrado nessa ótica, a literatura é, pois, o conjunto de todas as manifestações verbais (orais ou escritas), e de intenção estética, seja do espírito humano em geral, seja de uma dada cultura ou sociedade.
Os chamados romances regionalistas ou sertanistas (na verdade, romances de temática rural) parecem, à primeira vista, nascer da nostalgia do autor em relação ao rústico mundo interiorano, onde passara a infância.
Na Mata Meridional Pernambucana, conhecida popularmente por Mata Sul Pernambucana, a literatura voltada para estes temas sempre foi escassa, e o sábio tempo se encarrega atualmente de assim, aos poucos, fazê-las raras, mas sem desaparecer.
No passado, o filão dos temas regionais levou a uma vasta produção literária onde o aspecto documentário se sobressaía com frequência, como os escritos por Euclydes da Cunha, Gilberto Freyre e recentemente por Manuel Correia de Andrade. A costumeira oposição entre romance regionalista e psicológico resolveu-se em termos puramente estéticos, no plano da criatividade linguística. Uma acentuada preocupação com a originalidade da forma e as invenções estilísticas surgiu, por outro lado, como traço em comum entre ficcionistas de orientações bem distintas.
Após a revolução artística, fruto das novas tendências modernistas, no período de 1922 a 1930, surge uma Literatura Brasiliana de caráter social e de um realismo regionalista. Essa nova tendência brasileira apareceu depois do famoso Congresso Regionalista do Recife, em 1926, organizado por Gilberto Freyre, José Lins do Rego e José Américo de Almeida. O Congresso tinha como proposta básica organizar uma literatura comprometida com a problemática nordestina: a seca, as instituições, o latifúndio, a exploração de mão de obra, o misticismo fanatizante e os contrastes sociais.
A região nordestina foi fruto de uma ação continuada de construção de uma identidade nacional que toma aqui um aspecto regional. É assim que a oba freyreana resgata o tradicional, através de uma viagem ao passado. Baseando-se em suas próprias memórias, o autor de Casa Grande & Senzala vai esboçando, com uma mistura de erudito e popular, um contraponto à urbanidade do Sudeste brasileiro.
Com a realização do Congresso Regionalista de 1926, seus idealizadores tentaram construir um bloco teórico unido e coeso que, dessa forma, desse conta das inúmeras representações sobre o Nordeste. “Sir” Gilberto Freyre, socializa, destarte, uma nova versão Nordeste, norteado pela “cientificidade” da Sociologia. A região se personaliza num continuum identitário carregado nos prenúncios de “verdade das Ciências Sociais”. Em flagrante confronto com o movimento Modernista da Pauliceia Desvairada.
Euclydes da Cunha e Manuel Correia de Andrade são dois literatos tipicamente regionalistas, o primeiro retrata em Os Sertões a saga do nordestino e o seu fanatismo religioso. O segundo, com mais de cem livros publicados, o Nordeste das plantações de cana-de-açúcar e os conflitos existentes entre o sistema estamental-sesmeiro-escravista, baseado nas dinastias familiares, e o novo sistema industrial.
Poder-se-ia acrescentar ainda, José Lins do Rego, com os romances regionalistas: Fogo Morto e Menino de Engenho. De uma longa lista de autores regionalistas, não poderia ficar de fora dela José Américo de Almeida, com a sua obra-prima A Bagaceira, atualmente com mais de trinta edições em língua portuguesa, edição crítica e versões em espanhol, francês, inglês e esperanto. Sua obra, com dezessete títulos, abriga ainda ensaios, oratória, crônica, memórias e poemas.
Em 1897, o jornal “O Estado de São Paulo” encarregou Euclydes da Cunha de fazer a cobertura jornalística da Guerra de Canudos, no interior da Bahia, causada por Antônio Vicente Mendes Maciel, o famoso líder místico conhecido por Antônio Conselheiro. Vê-se, portanto, que a sua obra literária, tecnicamente, é uma reportagem sobre o sangrento episódio.
“Os chefes, porém, não se iludiam. Premunidos de cautelas, concertaram uma defesa urgente. Pelos dias ardentes, viam-se os sertanejos esparsos sobre o alto dos cerros e à ourela dos caminhos, rolando, carregando a terra a picareta e a enxada numa faina incessante. Construíam trincheiras. O sistema era, pela rigidez, um ideal de fortificação passageira: aberta cavidade circular ou elíptica, em que pudesse ocultar-se e mover-se à vontade o atirador, bordavam-na de pequenos espaldões de pedras justapostas, com interstícios para se enfiar o cano das espingardas. As placas de talcoxisto, facilmente extraídas com todas as formas desejadas, facilitavam a tarefa. Explicam o extraordinário número desses fojos tremendos que progredindo, regularmente intervalados, para todos os rumos, crivando a terra toda em roda de Canudos, semelhavam canhoneiras incontáveis de uma fortaleza monstruosa e sem muros. Eram locadas, cruzando os fogos sobre as veredas, de tal modo que, sobretudo nos longos trechos onde aquelas seguem aproveitando o leito seco dos riachos, tornavam dificílima a travessia à tropa mais robusta e ligeira. E como previssem que esta, procurando escapar àquelas passagens perigosas, volvesse aos lados assaltando e conquistando as trincheiras que as orlavam, fizeram próximas, no alto das barrancas, outras mais distantes e identicamente dispostas, em que se pudessem acolher e continuar o combate os atiradores repelidos. De sorte que, seguindo pelos caminhos ou abandonando-os, os antagonistas seriam sempre colhidos numa rede de balas.” (CUNHA, 1962, pgs. 112, 115).
Todavia, não se pode apenas apreciar a obra por este prisma, visto que se trata de uma impecável literatura informativa, de inegável padrão estético erudito lusófono, porém, abrasileirado, bem característico da linguagem jornalística da época, vindo a despertar, curiosidade na imprensa europeia.
“Entre as obras da literatura brasileira traduzidas para o alemão, talvez tenha sido esta a que obteve maior ressonância, o que se pode verificar pelas resenhas, sempre elogiosas, que saíram em vários dos mais importantes jornais e revistas do país” (Berthold Zilly, 2006, pg 149).
Já o escritor Manuel Correia de Andrade, no auge dos seus 84 anos de saber acadêmico como membro da Academia Pernambucana de Letras, em A Guerra dos Cabanos continuava incansavelmente retratando o Nordeste Brasileiro não apenas nessa, mas em sua vasta obra literária.
“A Guerra dos Cabanos foi a continuação do levante de Torres Galindo, por seus aliados em Pernambuco e Alagoas que a estenderam por uma zona menos povoada de mais difícil acesso, o que impossibilitava rápida ação do governo contra eles. Seus principais chefes em Pernambuco eram Manuel Afonso de Melo, na região do Una (Palmares) e Antônio Timóteo, em Panelas, destacando-se em Alagoas, João Batista de Araújo, em Barra Grande e Alexandre Gomes de Oliveira, que era diretor dos índios de Palmeira e alardeava dispor de “600 caboclos pra combater os federalistas”... A situação, porém, agravou-se seriamente logo após, quando os cabanos recolhidos às matas passaram a usar o método de guerrilhas, e as tropas, não conhecendo o terreno, sofriam perdas e desanimavam. Estas, por sua vez, não eram covenientemente renovadas, recorrendo o Governo ao alistamento dos soldados de primeira linha que davam baixas, proibindo o recrutamento de criminosos condenados, como já fora feito em outras ocasiões. Em novembro de 1832, começou o Presidente da Província Pernambucana a convocar os Guardas Nacionais, atingindo as circunscrições de Goiana, Igaraçu, Paud’Alho, Limoeiro, Una (Palmares), Sirinhaém, Água Preta e São José da Coroa Grande, a fim de que auxiliassem os habitantes do centro na luta contra os rebeldes, que no dizer estavam destruindo as propriedades, podendo, se não fossem dominados, lavar toda a Província. Estas solicitações não eram bem atendidas por não haver solidariedade entre os habitantes de várias regiões da Província e muitos temiam abandonar suas terras para ir lutar em lugares distantes, sabendo como eram difíceis as condições no campo de luta”. (ANDRADE, 2005 pgs 59, 66).
A obra é resultado de reflexões sobre a formação brasileira e de pesquisas da nossa história, realizadas a partir da ideia de que a história do Brasil foi escrita em função dos interesses da classe dominante e do eixo central do país e chama a atenção para o fato de que a nossa formação histórica e literária dava mais importância a fatos de menor relevância ligados à classe dominante, esquecendo ou procurando impedir que se estudassem àqueles ligados ou desenvolvidos pela classe dominada.
Podemos, destarte, afirmar que a obra A Guerra dos Cabanos, classificada como literatura de informação é de imensurável valor para a região da Mata Meridional Pernambucana e comparando-a com Os Sertões, equivale-se em teor estético, portanto, são obras de inestimável valor literário, como confirma o Jornal Alemão VossischeZeitung, anteriormente citado, referindo-se à literatura euclidiana. Devendo ser estudadas e dissecadas através de um exame ou consideração minuciosa no seu âmago.
Outro ícone da nossa literatura regionalista meridional, Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira, começou a adentrar aos caminhos literários colaborando em jornais em 1912, em Palmares e Recife. Em 1922, tornou-se colaborador nos jornais recifenses Diário de Pernambuco A Província. Dois anos depois, passou a escrever para os periódicos Mauricéia, Revista do Norte, Revista de Pernambuco, A Pilhéria, Revista da Cidade e Revista de Antropofagia, tornando-se, assim, uma espécie de correspondente regional.
Vê-se, portanto, que sua grande obra poética ainda estava por vir, pois seu primeiro livro de poemas, Catimbó, somente seria lançado em 1927 e em seguida, os demais: Cana Caiana, Poemas, Outros Poemas, Eu Voltarei ao Sol da Primavera etc.
Não obstante esta preciosa bibliografia, a Mata Meridional Pernambucana, atualmente ainda encontra-se carente de uma literatura reflexiva e informativa, voltada principalmente à sua história de lutas gloriosas. É preciso estudar mais as inúmeras revoltas e insurreições ocorridas no período das Regências no Segundo Império, sucumbindo, portanto, frente a outras não menos importantes e anteriores ao período, como a Inconfidência Mineira, conhecidíssima, devido ao envolvimento direto dos seus poetas árcades, todavia, abortada antes mesmo de se consolidar, ou seja, que morreu na fase conspiratória, mas que ganha páginas numerosas em nossa historiografia brasiliana. Enquanto isso, outras páginas da nossa história permanecem quase apenas nos documentos dos arquivos à espera das traças que as sepultarão para sempre no esquecimento mais completo. 
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29 de setembro/2014
18. MODUS VIVENDIS

Os guerreiros cabanos da minha terra,
Já vieram feitos, nunca careceram de instrução.
São valentes, destemidos, moram na serra.
Duvido que no seu bornal falte munição.

As chuvas de minha terra, podem até tardar
Mas nunca faltam; as de janeiro chegam em
fevereiro, março, abril, mas ninguém duvida
Que elas vão chegar.
O homem da minha terra vive feliz, melhor
Que outro em qualquer lugar.

Nas matas da minha terra, tem um pé de espeto encantado.
Dizem que ele é meio dispranaviado,
E, quem o desafia, ele come seu fígado assado.
Tem as Caiporas, o Pai da Mata, a Mãe da Lua,
A coruja rasga mortalha que voando flutua

Na escuridão da noite por cima dos muitos roçados.


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21 de setembro/2014
17. E EU COM ISSO?

E a beleza do poema,
Da pena do poeta,
Das pernas das morenas?
Do beijo roubado, escondido no cinema,
Do fundo do meio do mundo,
Do sensível olhar interno do menino?
E a beleza do sorriso da inocente criança,
Que brinca com anjos invisíveis,
Que dialoga com o Ser Supremo?
E que entende o mundo do poeta,
Dimensão dentro de outra dimensão?
E a beleza da flor no orvalho da manhã,
No clarear de um novo dia?
E a tristeza do amor que acabou,
Do vazio que ficou?
De um adeus melancólico e sofrido
Que no passado estagnou aturdido?
Que teima em não passar,
Que quer ser resgatado, acalentado.
Que se recusa a ser finado?


E eu com isso?


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17 de setembro/2014
16. COMÍCIO EM BECO LARGO NA FEIRA DE JAQUEIRA


Seguindo o raciocínio do surgimento do novo linguajar jaqueirês, lá pra boca da noite, quando o sino da matriz blimblomba um blimblombar alegre das seis badaladas da hora da Anunciação do Anjo...
         Quando a feira já terminou, passa um carro de som anunciando que hoje vai ter comício.
O locutor anuncia:
- Num perda, neste sabo grande comício dos canidatos do prefeito.
Eita! Que hoje o dia tá animado que só pinto no lixo.
Um pouco depois, chega um caminhão de eleitor, com os votos tudo vendido e umas sirigaitas lambisgóias morenosas pintadas de ruge, dos beiços vermelhos que só picolé de morango, com umas calças pé de xibiu e umas camisetas politicais. Outras de saia acabando na véspera e o dia todo de fora.
Mas, como será um desses comícios?  
O povo começa a reunir-se num terreno baldio que outrora foi uma praça, localizado em frente à Igreja da padroeira da cidade.
Os candidatos vão chegando com seus sorrisos falsos e desbotados, cumprimentando todo mundo com um aperto de mão e uma batidinha no ombro do eleitor.
O locutor tabacudo de converseiro comprido começa a falar e anuncia a presença da deputada Estelita Rabufino, cuja prestigiosa presença vem dar apoio aos candidatos e correligionários do seu partido o P.Q.M.B. – Partido Que Matou a Besta (ou, os bestas).
Daqui a mais quatro anos, ela aparece novamente no mesmo lugar, pedindo votos pra si, à reeleição – é claro, se os seus atuais candidatos vencerem esta eleição.
A charanga dos trombones, trompetes, bombos e taróis desafinados começa a tocar. Depois de “assassinarem” duas músicas, uma pausa para que o locutor tabacudo de converseiro comprido prossiga com o seu script mal elaborado, quando este anuncia o primeiro candidato a vereança.
- Povo de Jaqueira c’u os de Frei Caneca e c’u os povo dos sítios e ingenhos. C’um vocês... Para candidato a vereador pelo P.Q.M.B. o nosso amigo, Toim Vaselina.
O povão aplaude-o.
O velho Chevrolet “Veraneio” 1972, transformado agora em carro de som, toca o jingle da campanha do candidato. Em seguida Toim Vaselina começa o seu discurso.
- Meus amigo e minhas amiga. Povo de Jaqueira, pra quem num me conhece, o meu nome é Antônio Varzealino da Silva, mas sou mais conhecido como Toim Vaselina. Peço a ocêis que se adicida a votá in neu! Pra mode eu cuma vereador puder ajudar ocêis quando pricisá de eu c’uma passage, pagar um papé de inergia, um cachete pra alivihança duma dor de dente, inté mermo c’um caixão de difunto e outras ajudanças.
Vou trabaiá dereito do lado do nosso futuro prefeito, aqui presente, e ele tomém vai trabaiá junto c’um eu. Meu númuro é 79.821.  
Agora quem quiser vir comigo, vou dar de presente um litraço de coca c’um queijo tiporeino redondo.
- Brigado e boas-noite a todos e a todas.
Os demais candidatos a vereador, que o sucedem, quase todos, usam em seus discursos os mesmos argumentos – parece até disco arranhado em vitrola com agulha gasta.
Já quase no final do comício, o locutor tabacudo de converseiro comprido anuncia:
- E agora, c’um vocês, a nossa deputada Estelita Rabufino Fudência de Gatunagem.
Girândolas de fogos de artifícios iluminam a noite atrás do F-4000, que serve de palanque, barulho de trombones, trompetes, bombos e taróis desafinados irrompem no local.
O povão aplaude.
Com sua oratória-político-persuasiva-enganatória-puxa-sacomental, a deputada inicia o seu discurso elogiando todos os candidatos ali presentes e, em especial, o candidato a prefeito.
Finalmente, o candidato a prefeito Mané Aimora fala por último. Um cara dextamanhinho, parecendo um toco de amarrar jegue. Desses matutos ineivados que tem como característica principal receber em seu sítio os candidatos que o procuram em tempo de eleição, pedindo o seu apoio, e “banqueteá-los” com uma boa dose de cachaça da primeira destilação e como tira gosto, bolacha creme craque.
E o candidato pra não fazer feio, tem que aceitar. Ele também é metido a versejador, sempre que falava em comícios ficava mais alegre do que papagaio na chuva, não perdia a oportunidade de versejar.

Dessa vez, assim discursou:

- Povo da minha terra, ocêis já me conhecem.
Mai pra quem chegou agora
Me deixe me apresentar:
Meu nome é Mané Aimora,
Sou fi naturá desse lugar.
Sou um matuto trabaiadô
Que às quatro da manhã já tá no roçado,
Prantando, limpando, fazendo tudo por lá.

Puvera Deus que eu ganhe essa inleição,
Pois num tenho zambê nem latumia,
Nem luxo nem putaria,
Nem falta nem defeitura.
Por isso vou pra prefeitura
Mode administrar bem tudo o que há.

Comigo num tem sem-quê-e-nem-pra-quê
E nenhum caiquiado.
Nem mei borocoxô.
Me dá o istopor
No mei do terê-tê-tê
Quando vejo meu inleitor
Sofrendo os diabo.

Sou um home bom e respeitado.
Mai dou coice de rifle ruim.
E meto o sarrafo em cabra safado
Se por acaso debochar de mim.

Sou desatador de nó cego, sou mei dispranaviado
Com esses cabras babão que são do outro lado.
Sou mais quente que sopa de rodoviária
Com essa cambada de safados
que cagou na palmilha do bispo.
Por isso digo com muita robustura,
Quando tiver na prefeitura
Vou acunhar tudo de ladeira abaixo.

Num atulero fazimento de pouco de seu ninguém,
Dessas redonduras canaviadas, sofridas e calejadas.
Num atulero e num gosto de frescura e farniquito tamém
Nem tão pouco bacafuzada.

O cabra pode ser dextamanhinho ou dextamanhão.
Maior que esse F-4000 ou outro caminhão.
Fico mei disleriado e murdido da lacraia,
Com a gota serena no couro e o escambau,
Depois quebro tudo no pau
E vou descansar na praia.

Cuma prefeito, prometo reabrir a estação
Pra mode ver o trem passar carregado de montão,
Levando tudo que é gente e mercadoria nesse mundão.
Trazendo o pogressio, com ele pra beneficiar a nossa gente
Pois Jaqueira tá precisando de um prefeito competente.
E esse cabra sou eu, você todos já sabem.
Por isso fico sirrindo, alegre, filiz e contente.

Mai quando eu tiver na prefeitura,
Não vou esquecer de quem em mim votô.
Vou dá trabaio a todo mundo:
A home, mulé e minino que seja meu inleitor.

Finalmentando, eu digo: muito apreceio uma morena de saia.
Dou tanto cheiro no cangote por riba do toitiço dela,
Capaz de desgringolar a muela se for cheirosa a donzela.
Num  matuto medroso de fugir da raia.

         O povão gostava de ouvir as besteiras que ele versejava e a cada verso aplaudia Mané Aimora. Mas tem uma coisa que ele detestava mais do que tudo na vida é o seu apelido: Caco de torrar peido. Dá-lhe uma entrada de ar que é capaz de dá-lhe um passamento e, se ele pegar o sujeito que assim o chama, é capaz do cabra durar pouco que nem manteiga em venta de cachorro.

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Caro Admmauro:
Segue um raro relatório da lavra de Luís Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias, sobre a nossa região, mas precisamente Jaqueira-PE.
Abraços,
Ricardo Guerra.

8 de setembro/2014
15. RELATÓRIO DO DUQUE DE CAXIAS
SOBRE A COLÔNIA MILITAR DE PIMENTEIRAS 
– ATUAL EDUCANDÁRIO SÃO JOAQUIM, EM JAQUEIRA-PE.
Educandário São Joaquim
Relatório do ano de 1861, apresentado à Assembleia Geral Legislativa na 2ª sessão da 11ª Legislatura por

A Colônia de Pimenteiras, já desaparecida, ficava localizada na margem do Rio Pirangy-Grande, na atual cidade de Jaqueira, no Pernambuco. No relatório de Luís Alves de Lima e Silva (futuro Duque de Caxias), datado de 1862, o então Ministro da Guerra comenta sobre essa Colônia: "(...) O decreto de 9 de Novembro de 1850 criou esta colônia, que se acha colocada à margem direita do rio Pirangy-Grande.

Conta atualmente um diretor, um ajudante, um cirurgião, um capelão e um sargento-escrivão. Tem mais um segundo sargento, oito cabos, três anspeçadas e 23 soldados, afora seis cabos e soldados destacados, juntando-se a esse pessoal quarenta e duas pessoas de família, entre mulheres e filhos, residentes na povoação da colônia, com mais algumas famílias de paisanos.

Dentro da légua em quadro da demarcação, está estabelecida uma população maior de 800 pessoas livres, acrescendo apenas 15 escravos de um e de outro sexo.

Os edifícios ali existentes são: 1 capela, 1 cemitério com sua capelinha, 1 casa de arrecadação, 1 ferraria, 2 olarias em mau estado, 1 casa de fazer farinha e mais 8 casas envidraçadas. Além disto, achavam-se em construção, à última data, 1 enfermaria de alvenaria, 1 casa para oficinas, e 5 à 6 casas de taipa, pertencentes estas a particulares.

Em suas últimas comunicações reclama a diretoria os seguintes melhoramentos: 1 capela definitiva, 1 quartel e prisão, 1 serraria movida por água, 1 pontilhão sobre o rio Pirangy, a demarcação da légua e distrito da colônia e sua subdivisão em lotes; sendo para isso indispensável uma consignação de dinheiro.

Apesar da crescida população que tem a colônia, e da uberdade das suas terras, não se acha ainda o estabelecimento em circunstâncias de poder dispensar os auxílios do governo para entrar na lei comum das povoações. Entretanto, não é possível deixar de reconhecer que tem ido em progresso (...)."


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1º de setembro/2014
14. AUSCULTAÇÃO NO CORAÇÃO DA FEIRA

Madrugada de sábado, no bater das asas e no amiudar do cantar do galo, quando surgem os primeiros raios de sol, começa a feira de Jaqueira. O sino da igreja da padroeira da cidade “blomblimba’, (re)lembrando aos feirantes que eles também têm outras obrigações a cumprir.
No meio das ruas ou nas calçadas, as esteiras e as lonas, panos estendidos, tamboretes ou armações de metais ou de madeiras servem de vitrine para as mercadorias; os mercadinhos, as lojas e as mercearias abertas aproveitam o movimento.
Ruas cheias de gente, os pequenos ambulantes e os compradores desfilam devagar. O menino carregador de frete, com seu carro de mão trafega na mão e na contra mão – é um táxi manual - transporta as compras para as casas dos feirantes locais, levam de tudo e saem gritando:
- Ó u mei... Ó u mei... Ó u mei...
Na feira das frutas, cuidado pra não escorregar nas cascas de bananas, melancias, mangas e jacas, são lisas feito quiabo ensaboado. Descuidou e... Pimba! dana a bunda no chão.
Na barraca de aguardente temperada com raízes do Alfredo Colar, chega Ana Futuca na Rabada, cachaceira de longa data. Vem logo pedindo uma lapada da boa e saborosa temperança, fabricada uns quinzes dias antes e já curtida. Quando devidamente “caneada” diz ela:
- Se feijão fosse cozido com pinga a gente tomava só o caldo.
Em seguida, chega Zeburano, mulato forte como um boi de puxar arado, com quase dois metros de altura, trabalhador rural e cachaceiro dos bons. Começa a puxar conversa com Ana quando chega um “bebinho” importuno, desses galegos assados e “injuados” e logo começa a “frescar” com a cara de todos.
O “bebinho,” depois de muito importunar na barraca do Alfredo, faltou a paciência em Zeburano e ele pegou o cabra pelas duas orelhas, o levantou do chão e depois o sentou num tamborete e disse: 
- Você fique quetinho, fique quetinho cuma quem tá tirano um retrato, num sabe? Senão, vou te dar um cascudo tão da bixiga lixa na sua testa, que vai rachar as solas do seu tamanco.
Depois se virou para seu Alfredo Colar e disse:
- Esse cabra hoje aqui num bebe mai, mas vai ficar aí sentadim sem se mexer que nem uma istauta, inté nói terminá a nossa aguardentação.
O bêbado importuno ficou lá de castigo. Zeburano pediu outra dose de temperada e proferiu os seguintes versos:

Meu avô tomava um gole,
Meu pai tomava um golim,
 Pelo jeito que eu tô vendo,
 Eu tô do mermo jeitim!
Mai quando chega um bêdo safado
Mitido, inxirido e amostrado
Nói bota ele de castigo
Pra mode vê se aprende o certo e o errado.

Finalmentando disse:
- Homi, seu minino, o cabra vem lá duzinferno acompanhado do cão, tocar rabeca nos meuzuvido. Pode isso... Pode?



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24 de agosto - 2014
13. ANDANÇA MADRUGAL CONTEMPLATIVA 
Até parece que estou fazendo a minha caminhada diária madrugal de sete quilômetros de Jaqueira a Frei Caneca e vice-versa, quando vem amanhecendo o dia e ouço os pássaros, os grilos, o coaxar dos sapos e jias e o barulho da Cachoeira Santa, no Rio Pirangy, próximo ao Poço do Cachorro.
A barra do dia vem “quilariando”.
Um preá atravessa o meu caminho assustado.
Um bando de anuns vem saudar-me e dar bom-dia, com o seu canto de aviso que tem alguém por perto.
O papa-capim pousado no pedão, come as sementes do capim colonião. 
O nêgo-tiziu pula em cima da estaca do cercado. 
O cururu pêi-pêi, com seu coaxar chama a fêmea na ribeira do Pirangy para o acasalamento.
A rã coaxa avisando que vem chuva forte.
A galinha d'água de dentro da moita canta o seu piu longo e característico.
A rolinha fogo-pagô está no seu ninho em cima do pé de ingá-do-brejo.
Um casal de quero-quero voando alto e com o seu canto estridente avisa que está procurando um lugar para construir o ninho.
O elegante rabo-mole pousado no fio telefônico se assusta ao meu passar e, voa com elegância, cruzando o rio para o outro lado.
O último dos bacuraus atrasado e pousado na estrada voa para se esconder dos primeiros raios de sol.
A lagartixa catende balança a cabeça afirmativamente, olhando-me.
O magnífico calango verde caminha tranquilo pela estrada comendo insetos aqui e ali.
O vira-lata magrelo, deitado no meio do terreiro, em frente ao arruado de Canudos, late ao ver-me aproximar dele.
E o bicho homem ao cruzar por mim dá "Bom-dia".
Eis a minha rotina diária “madrugadoura” contemplativa, das coisas que quase ninguém vê e sente.
Mas... eu, sim. 



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15 de agosto - 2014
12. LEMBRANÇAS DA REZADEIRA VÓ TONHA 
“Vó Tonha” (todo mundo a chamava assim) tinha mais ou menos um metro e meio de altura, magrinha, com o rosto cheio de rugas, usava um lenço azul celeste amarrado na cabeça e sempre um vestido todo branco, comprido que ia até os tornozelos. Dizia que já não sabia mais sua idade, mas que, quando ainda tinha forças para caminhar longas distâncias, havia viajado a pé para Juazeiro do Norte-CE, todos os anos mais de setenta vezes, para conversar com o seu padrinho, o Padre Cícero Romão Batista. 

Ela morava sozinha, num sitiozinho bem pobre, criava algumas galinhas, alguns poucos patos, um gato e um cachorro vira-lata. Lá pras bandas da Usina Taquara, todos lhe pediam a bênção:

 - Bênção Vó Tonha.
E ela respondia:
- Deus te abençoe e potreja meu fío (ou minha fía).
Nas suas conversas, dizia ela:
- Quem cura num sou eu, é Deus. Acho que é um dom, pruquê derna de minina já brincava de rezá nas bunecas. O segredo é de Deus.

Nunca, porém, cobrou para rezar. "Eu não vendo a palavra de Deus", explicava Vó Tonha. Era muito respeitada por todos os moradores da região, pelo poder de cura das suas rezas e pelos seus poderes em apagar incêndios. Quando alguns trabalhadores rurais da cana-de-açúcar ateavam fogo no canavial da usina, por pura perversidade e o incêndio ficava sem controle, imediatamente o usineiro, ou o gerente da usina mandava um veículo ir buscá-la no seu pequenino sítio, para que ajudasse com suas rezas a apagar o fogo.
Ela descia do veículo, ajoelhava-se no chão em frente do incêndio descontrolado, fazia o sinal da cruz, rezava umas orações inaudíveis, olhava em direção ao fogo e dizia:

O fogo num passa daquele lugá meu fio.

Apontando com a mão esquerda até onde o fogo deveria extinguir-se. E o fogo lhe obedecia, nunca passava do local apontado por ela.

Para curar “carne triada”, pegava os seus apetrechos de costureira – um paninho, agulha e linha branca.

- Vou rezando e cuzendo o pano e quando a reza terminá dou o úrtimo ponto na custura e a pessoa duente tá curada, com os puderes de Deus, meu fio.

- Pra curá murdida de cobra piçunhenta nos animá, quando se terminar de rezar se cospe na boca do bicho, se for gente, sem que a pessoa perceba, eu passo ao finar da reza, saliva nos beiços do doente; só se cura murdida de cobra cum reza e saliva. Ensinava ela.

Já velhinha e cansada, quase sem poder andar, quando chegava alguém pedindo pra ela rezar a sua vaca, seu cavalo ou até mesmo a sua mula doente, ela rezava de dentro do seu quarto e dizia:
- Antoce é só vosmicê apontá pra que lado fica o currá, mermo que tiver ri atravessando u camim.

Infelizmente, Vó Tonha já veio a falecer, mas o seu sítio e os seus animais continuam lá, sem que ninguém esteja morando em sua casa.
Poucas pessoas têm coragem de ir por aquelas bandas. Algumas delas já viram as galinhas, os patos e até mesmo o gato e o cachorro sendo alimentados por alguém invisível. Afirmam os crédulos e os incrédulos que a velha senhora ainda mora na sua casinha pobre e continua tomando conta dos seus bichos.

Coisas de Jaqueira da nossa infância. 


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9 de agosto - 2014
11. CONVERSAÇÃO À SOMBRA DA AMENDOEIRA
Embaixo da secular e frondosa amendoeira, em frente da estação ferroviária da cidade de Jaqueira, bem no meio do pátio da feira, seu Mariano e seu Mané Gaspar, dois velhinhos, estão a conversar, quando chega Quequé, o mestre carpina do lugar, contando como foi perseguido no dia anterior pelo famigerado lobisomem que estava sendo avistado nos sítios das redondezas.
- Marrapaz! Diz ele. Eu vi o pançudo ontem.  Eram mais ou menos umas quatro pras cinco horas da madrugada, já vinha quilariandoas primeiras barras do dia quando eu vortava do sítio de Ricardo Guerra, na Serra do Espêi, montado na minha égua Margarete. Avistei atrepeça de longe, umas vinte braças. Tava deitado no meio da encruzilhada da grota do cajá e se arrebolava na terra que dava pra ver a poeira se alevantando, acho que tava se espojando. Se arrebolou, se arrebolou pra lá e pra cá, mais desorientado do que cotôco de rabo de lagartixa torado.
 Adispôis, o iscumungado me viu e partiu dadonde estava pra me pegar; abufelei-me na fé de Deus e chamei os santos de que soudevocioneiro – São Jorge e São Girôme.
 Daí meti as esporas no suvaco da égua, a bicha se empinou toda, deu um pulo pra frente e fez carreira de serra abaixo comigo em riba da sela... abri no ôco do mundo.
 Olhei pra trás e lá vinha o peludo quase me pegando, daí puxei de banda disgaviei do caminho e na carreira que vinha entrei dentro do açude do fundão. Me lembrei que lobisomem não gosta d’água.
 Foi a minha salvatura. Pois ele esbarrou na beirada da água e ficou ciscando o chão, dando cada gemido que estremecia os serrotes de pedras ao redor do açude.
- Viiixi Maria!
- Escapei fedendo. Minha égua Margarete nadou comigo em riba dela que parecia mais uma jangada cearense.
Saímo do outro lado do açude e tamo aqui pra contar a estória.


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30 de julho de 2014
10. ONOMATOPEIA - Ô NOME BUNITO DA GÔTA!
Nesse mundo de meu Deus, tem gente pra tudo e ainda sobra um pra dizer besteiras. Cuma esse magote de jogador de futebol que fai nossozuvidos de pinico.
Homi, seu minino, esses cabras tão tudo inventando uma liguagi duszinferno, inté parece que tão criando e, bem criada uma língua nova. Tamém, puvera Deus que eles sejam bons de bola, pois de gramática e raciocínio lógico são umas desgracença só.
É uma farta de intinuância do estopor calango.
Já pensô que invêz de ser jogador eles fossem jornalista. Deusolivre e guarde.
Óia que a minha corja de matutos jaqueirenses num falam assim não. A gente trupica no purtuguêis mai acerta no jaqueirêis, disgavia da gramática, sarta de banda pru riba dela, adispôis driba azesquerda ou asdereita e cria um neologismo novinho em fôia vivinhi e si bulindo o infiliz das costa ôca.
É cuma um gô de praca, num sabe?
Dia desses dei de garra a prosear cum uns cumpadres meus, tudo matuto assim cuma eu, e criamos esse bicnhin:
 Nheco-nheco de rede.
 (Será que é uma onomatopeia? Ô nome bunito da gôta, mai agora num tem mai acento não)
Num sei, o que tu achas?
Fiquei sirrindo de pé-de-urêia a pé-de-urêia, mostrando a sola dos beiços de sorriso escancarado.
Né issssso, homi?

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23 de julho de 2014
8. TEMPO CORRENDO

Caro Poeta Admmauro  Gommes, segue um mícron das minhas lembranças de menino-de-jaqueira.
Abraços, 

Riccardo Guerra.

Tempo correndo! Oh! sábio tempo, por que teimais em passar tão depressa? Tantos acontecimentos nessa meia centúria de minha vida. Mas, recordo-me ainda de tudo nitidamente como se tivesse acontecido ontem. Como seria bom pegar um bigu nas asas do tempo e poder voltar!
Eu corria para ver os trens passando. Trens de passageiros, de carga, de cana-de-açúcar, barulho das rodas nos trilhos, apito bonito, tão bonito, a locomotiva chamada de Maria-fumaça-três-rolos, imensa, linda e assustadora a cantar: “vou danada pra Jaqueira com vontade de chegar”.

Tempo correndo, corrido, corrediço na carreira de ladeira a baixo. Oh! sábio tempo, por que teimais em passar tão depressa?

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19 de julho de 2014
7. EU SOU O RIO PIRANGY
Muito prazer, para quem não me conhece, em Jaqueira, eu sou o RIO PIRANGY, escrito com “y” mesmo, devido a minha origem etimológica do tupy, que significa “rio vermelho” ou “rio de barro vermelho”.
Há vários séculos eu corro manso e dengoso serpenteando por este imenso vale, no qual Jaqueira está inserida.
Mas, de umas décadas pra cá eu venho sendo maltratado por algumas pessoas irresponsáveis, que brincam e agridem a Mãe Natureza e esta história começa no início da década de 1980 do século passado, quando eu, no inverno, corria solto como menino ligeiro por dentro de um imenso pomar plantado à minha margem esquerda, por trás da Av. Francisco Pellegrino.
Em 1981, começaram a agredir-me, pois destruíram o meu pomar que servia de mata ciliar, depois inventaram de construir uma escola, conhecida hoje como Miguel Pellegrino, bem no meio do meu antigo leito, depois de alguns anos começaram a aterrar as minhas amigas lagoas que ficavam próximas de mim, e eram minhas irmãs, bem dentro do meu pomar, as quais eu enchia e depositava alguns dos meus habitantes para lá viverem:  peixes, cágados, jacarés etc.
Mais uma vez voltaram a construir casas e prédios públicos no meu antigo leito. Por isso, em 1989, eu vim aborrecido e mostrei pra quem entendeu que eu, Pirangy, estava triste com as pessoas que me agrediam.
Fizeram de conta que não entenderam, depois que eu baixei as minhas águas, novamente voltaram a construir todo tipo de habitação em cima de mim.
Mais na frente, na década de 1990 fui mais agredido ainda, pois o pouco de margem esquerda que de mim ficou, para que eu me espreguiçasse no inverno, foi totalmente aterrada. Centenas de caminhões com barro, retirados das barreiras que margeiam a PE-126, foram despejados nas minhas amigas, as lagoas matando-as por asfixia. Até construíram a Escola Aécio Barros, bem em cima de uma delas.
No começo da década de 2000 foi pior, fizeram até um conjunto residencial, aonde existiu o antigo campo de futebol de Jaqueira e, com um agravante: com dinheiro público e até a maternidade, bem na minha margem, olhando lânguida para mim
Aí eu me zanguei mesmo, e em 2 de agosto enchi tudo de água, mostrando às pessoas que moram em cima de mim que elas estavam erradas e mais ainda, mostrando aos três últimos ex-administradores municipais que eles eram os culpados em consentir esta agressão a Mãe Natureza.
Mais uma vez não fui ouvido e nem respeitado, então resolvi dar um basta nesta bostice e mostrar que comigo, que sou filho da Mãe Natureza, ninguém pode, por isso agora em 18 de junho de 2010 eu resolvi vir com fúria.
Espero que vocês reflitam comigo:
- Eu sempre transbordei nas minhas lagoas, no período de chuvas, e em meu vale.
- Mas, eu dificilmente atingia as residências em Jaqueira, por um simples motivo: Não existiam residências construídas às minhas margens e muito menos elas estavam aterradas.
- Por isso estou zangado com vocês que me agrediram e humilharam-me.
- Vocês, que aterraram as minhas margens, para construir casas em cima de mim.
- Vocês, que me desviaram do meu secular leito.
- Vocês, que me  usam para despejar de suas casas, os seus dejetos humanos (fezes, urinas etc).
- Vocês, que me assoreiam com os mais diversos sedimentos.
- Vocês, que cortaram o meu pomar e as minhas matas ciliares e as queimaram.
- Vocês que me envenenam com produtos tóxicos usados nas plantações de cana-de-açúcar e dos seus derivados, como o álcool e o vinhoto.
- Vocês, meros mortais, que ainda não aprenderam que QUANDO AGREDIDA, A MÃE NATUREZA APENAS SE VINGA.
- Por isso saiam da minha frente que eu estou passando, lavando e levando pra bem longe toda sujeita em mim depositada por vocês.
- E, por favor, me. Respeitem! Se não, da próxima vez eu virei mais furioso ainda.
- Lá na frente, ainda vou me encontrar com os meus irmãos, os Rios Panelas e Una, e então a coisa piora.
- Será que deu pra entender de quem é a culpa por tudo isso? 
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12 de julho de 2014
6. MINHA TERRA

Caro poeta Admmauro:

Estava ouvindo o CD que você me presenteou (Sons da Natureza), mas precisamente  a faixa: "Sons da Mata Atlântica", de repente, veio-me uma tal de Inspiração, danada feito o trem das Alagoas, "vou danado pra Jaqueira, com vontade de chegar" e, resolvi poetar um pouco.
Abraços, Riccardo Guerra. Ei-lo:

A MINHA TERRA
            
Nas matas da minha terra,
Na boca da noite, cantam vozes estranhas,
Talvez as caiporas que moram por lá.

Nas beiras dos rios da minha terra
A meia noite, as águas param,
Não correm nem praqui, nem pra lá.

Nas furnas de pedra da minha terra,
Mora um gato maracajá
Que de madrugada sai pra campear.

Nas ruas da minha terra
vivem meninos alegres a brincar.
Quando chega a noite se sentam debaixo da jaqueira
Pra ouvir a velha Julieta, histórias contar.

Numa casa, no fim da rua, na minha terra,
Vives tu, morena dengosa, pra lá de bonita,
Por quem meu coração palpita, vive a suspirar.

Nas matas da minha terra,
Na boca da noite, cantam vozes estranhas,
Talvez as caiporas que moram por lá.

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9 de julho de 2014
5. A INTRADUÇÃO POÉTICA DE ADMMAURO GOMMES

A literatura brasileira é variada em estilos e tendências. O movimento modernista de 1922, em São Paulo, a chamada Semana de Arte Moderna, tinha como um dos objetivos “tragar” a cultura importada que “encharcava” todas as manifestações artísticas do país.

Portanto, a literatura brasileira contemporânea deixa como herança uma preocupação com os rumos da vida nacional, fiel à compleição e cultura do povo. Por isso, por seu acervo, conteúdo e qualidade editorial, a literatura brasileira tem lugar garantido entre as melhores do mundo.

Dentro desse panorama, pode-se incluir o poeta e cronista, Ademauro Mauricio Gomes, ou como é conhecido no universo das artes, Admmauro Gommes (com o “m” dobrado). Em sua obra: Intradução Poética, ele a inicia com a assertiva: "A poesia, este ser intraduzível, tem na sua essência algo de inclassificável. Por mais que alguém tente entendê-la, isto se apresentará revestido de uma indefinição imensa".

Com apenas esta assertiva poder-se-ia já de pronto entender todo o restante do conteúdo desta obra Intradução Poética, pois o autor define brilhantemente o que é Poesia, diferenciando-a do Poema e da arte de poetar. 



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2 de julho de 2014
4. AS TRÊS FACULDADES ANÍMICAS DO HOMEM:
A VEGETATIVA, A SENSITIVA E A INTELECTUAL

Para começarmos a discussão, poderíamos usar a teoria Tomista, em que Aquino (Santo Tomás de Aquino) afirma que "o homem é composto de corpo (corpus) e alma (anima), sendo o primeiro a matéria perecível que colabora para o aperfeiçoamento da alma, esta criada por Deus." Do mesmo modo como a potência está para o ato, a alma está para o corpo; a alma é incorruptível, imaterial e imortal, enquanto o corpo é corruptível, material e mortal.

A alma, porém, preenche de vida não somente o homem; animais e vegetais também possuem alma, e é esta que, com graus diferenciados, com potências e faculdades diferenciadas, permite se diferenciem os seres entre si na escala natural.

Destarte, a alma vegetativa é a alma dos vegetais, que simplesmente executam as atividades das quais desconhecem a forma e o fim, e sua existência transcorre simplesmente na execução de tarefas fisiológicas; a alma sensitiva é a alma dos animais, que, dotados de sensibilidade, executam e apreendem a forma do agir, diferenciando-se, portanto dos vegetais; a alma intelectual, por sua vez, é inerente ao animal racional (homem), que é capaz, além de sobreviver, de executar atividades, e ainda de apreender a forma e o fim das ações.

Enfim, é o conhecimento das causas, dos meios e dos fins que distingue a categoria da alma racional na escala natural. Percebe-se, portanto, que o homem acumula as três faculdades anímicas: a vegetativa, a sensitiva e a intelectual, das três se servindo, sendo que a última particulariza-o e torna-o capaz de conhecer o fim de suas ações; em suma, é a faculdade intelectual que particulariza o homem em meio aos outros seres dotados de alma.

Creio que esta temática dará uma boa discussão, com José Rodrigues, Coronel Reginaldo, Ricardo Guerra, Vital Corrêa e Admmauro Gommes.

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24 de junho de 2014
3. JAQUEIRA, MINHA AMADA, SUA HISTÓRIA E OS PERSONAGENS QUE TE CONSTRUÍRAM

EVOLUÇÃO HISTÓRICA E DESENVOLVIMENTO.
ANTECEDENTES DA OCUPAÇÃO DE JAQUEIRA.

A ocupação da Mata Úmida de Pernambuco, onde está inserido o município de Jaqueira, está historicamente vinculada à expansão da monocultura açucareira, tendo em vista que suas excelentes terras estavam vinculadas e se constituíram no espaço natural da penetração colonizadora. Destarte, no ano de 1678, foi doada ao Capitão-mor Estévão Pais Barreto uma “data de terras situadas junto à barra do Rio Pirangi que deságua no Rio Una, constantes ditas terras de cinco léguas a contar da barra daquele rio para acima, com outras tantas léguas de largura” (COSTA. 1952). Ademais, existem indicações, de que foi nesta sesmaria doada pelo Governador da Capitania de Pernambuco, Aires de Souza Castro, que surgiram as primeiras frentes de ocupação e suas respectivas unidades de produção, os engenhos.

Embora os documentos disponíveis indiquem que o processo de ocupação das terras da região da Mata Úmida e, consequentemente de Jaqueira tenha começado somente no século XVII, a consolidação deste processo só veio mesmo a se efetivar muito tempo depois. Vários foram os motivos para que a ocupação da área tenha sido lenta e, em alguns momentos, conturbada, não seguindo, com naturalidade, os propósitos da dominação colonial portuguesa.

Dentre os muitos obstáculos prevalecentes à ocupação dessa região, ainda na centúria XVII, há de se supor que importantes foram as restrições impostas pela invasão holandesa em Pernambuco.

A presença e ocupação da Capitania Pernambucana pelos flamengos, concorreu no início, para a desarticulação e destruição da estrutura produtiva açucareira, implicando, em seguida, em sua reconstrução e operação.

Justifica-se, pois, a esse fato, a ênfase que se atribui ao invasor batavo em cuidar menos das terras do interior, por conseguinte, em implantar outras áreas produtoras de açúcar, e se orientar muito mais, objetivando promover a recuperação e a consolidação dos engenhos e plantações que já existiam.

Até porque, militarmente os holandeses não tinham condições efetivas em combater às populações e as forças portuguesas refugiadas no interior, então o que se verifica é que durante o período de dominação holandesa (1630-1654), em termos de sua ocupação efetiva, a região parece não ter se submetido a modificações expressivas.

Dessa forma, no que diz respeito à integração a região em que está inserido o município de Jaqueira, tanto do ponto de vista econômico, como demográfico, somente no século XIX é que passou a desfrutar de uma real expressão político-administrativa. Além disso, há de se entender que, na área, outras formas de ocupação foram tentadas, ainda que desvinculadas do processo colonizador, destacando-se o Quilombo dos Palmares.


A nossa responsabilidade é civilizatória. Não podemos ignorar nossa história. É imperioso resgatá-la e repassá-la aos pósteros. (Riccardo Guerra).


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21 de junho de 2014
2. OS BACAMARTEIROS
                                      (Luiz Gonzaga) 

Ricardo e Vital Corrêa
Chegou São João
É tempo de baque
Do baque do bacamarte
Que o bacarmateiro } bis

Vê quantos guerreiros, granadeiros
A riúna e a columbrina
Aglutina o batalhão
Cobrem-se de cor do infinito
São vistosos, revoltosos
Do começo da Nação

Salvas nas ressalvas do passado
Chega o cheiro da fumaça
Descompassa o seu sofrer
Dança e a descança na lembrança
Do que foi a grande guerra
Ao lutar no Paraguai

Segure a arma, o bacamarte é esta arte
De saber fazer um tiro
De ilusão e tradição
Bacarmateiro, eu quero o coiçe deste tiro
Só assim eu sei que tiro
Tanta dor do meu viver
Um passo à frente que a mistura apura o grito
Carrega o fogo, que tem fogo pra brincar
Bacarmateiro, vê se acerta o meu destino
Este tino em desatino } bis
Sem calibre pra atirar.


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20 de junho de 2014
1. SOBRE A ESSÊNCIA DO SER
                

        Conceituados pensadores contemporâneos, em suas reflexões filosóficas acreditam que: "A Essência do Ser tem a missão de ajudar você a reencontrar o caminho para a sua essência. É na conexão com o Ser interior, que você encontrará tudo o que tem buscado durante toda sua vida: força, coragem, amor, serenidade. E para orientá-lo nesta conquista, a Essência do Ser usa todos os meios que lhe são disponíveis: a palavra, o silêncio, o movimento, o som e a imagem. Tudo isso para que você, finalmente, volte à sua casa interior e reencontre o seu paraíso terreno".
Todavia, e se nos conscientizássemos de que nós, como "Ser material", não existíssemos mais, que tudo não passa de uma ilusão; que "apenas a nossa consciência cósmica" existe de fato presa a esta dimensão e que portanto, já não mais existimos fisicamente? 
Assim como quando você olha o brilho de uma estrela no firmamento, ela pode não mais estar lá, apenas sua luz ainda chega até você, pois ela já virou uma supernova, ou seja, se extinguiu a bilhões de anos.
Pense nisso!

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3 comentários:

  1. O literato Ricardo, que carrega infinita bagagem de historiógrafo, e dos melhores, diga-se de passagem, consegue com suas letras nos reportar ao passado e jogar-nos numa palavra que de tão doída torna-se prazerosa quando vamos ao passado. Essa palavra é a saudade.

    Lendo o linguajar jaqueirez lembro-me de uma frase de Marcos Bagno quando fala: “A língua é como um rio que se renova, enquanto a gramática normativa é como a água do igapó, que envelhece, não gera vida nova a não ser que venham as inundações.”

    O escritor Ricardo Guerra é essa inundação como um rio que se renova gerando vida nova nas maneiras e formas diferenciadas de falar, fazendo valer na comunicação o que é mágico, o entender o outro independente de normas clássicas.

    O jaqueirez traz uma pureza límpida que as academias com sua forma culta jamais alcançarão.

    “Uma receita de bolo não é um bolo, o molde de um vestido não é um vestido, um mapa-múndi não é o mundo... Também a gramática não é a língua.” (Bagno, 1999, p. 123)

    Parabéns generoso amigo pela grande contribuição para nossa história e para nossa língua. Maravilhosos textos!

    Marcondes


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    1. Muito obrigado, caríssimo literato e historiógrafo, Marcondes Calazans.
      Amplexos fraternos de
      Ricardo Guerra

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  2. Que história linda de se ler, o passado da nossa terra. Amo as historias, fico curiosa em saber oq eu não vivi mas meus avós sim, nunca mim canso de ouvir e ler, é uma viajem que não tem preço e é muito bom.

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