24 de outubro de 2014

VITAL CORRÊA MAIS UMA VEZ NA FAMASUL

O POETA VITAL CORRÊA DE ARAÚJO ESTEVE NA FAMASUL MAIS UMA VEZ (23.10.14). Ele participou de uma palestra sobre a literatura contemporânea no primeiro período de Letras. Estiveram presentes Romilda Andrade, Josenildo Barros, Sylvia Beltrão, Genyff Farias, Marry Francyelle, Ricardo Guerra e Marcondes Calazans. Este veio acompanhado de vários universitários de História. O encontro foi promovido e mediado pelo professor Admmauro Gommes. 



















I Período de Letras da FAMASUL (2014.2)










Ler Vital será um grande desafio, pois cada vez mais ele se fecha em um mundo impenetrável de obscura linguagem. (Admmauro Gommes)

Nesse jogo, Vital vem conquistando a todos, e nós, como leitores sentimos cada vez mais a motivação em desvendá-lo, ou melhor: derrotá-lo! (Sylvia de Azevedo Beltrão)

A poesia dele é viva e renovadora, mediante as metáforas cerradas que instigam o cérebro a trabalhar com mais profundidade. (Osani Severina)

Para VCA, a linguagem poética já não tem que imitar a natureza ou explicá-la como a maioria do discurso prosaico ou descrição realista, mas fazer surgir uma realidade nova. (Gabriela Raianne da Silva)

Vital Corrêa busca derrubar vocábulos e significados, transformando suas obras em um conjunto de versos intraduzíveis. Ele defende uma poesia complexa, que leve os leitores a pensar, a “multiplicar neurônios.” (Farlla Caroline Rosendo da Silva)

Qualquer determinismo ou prévio cálculo poético Vital isola. Para ele, não há sentido no finito, ou finito sentido. (Cláudio Veras)

Ricos em metáforas são os poemas de VCA. Ele de fato faz uso exorbitante da metáfora, alguns deles, às vezes, soam como uma denúncia, confissão, apelo, desejo e por que não dizer, uma sublime utopia. (Marta Roberta Ramos da Silva)

Conhecer Vital Corrêa de Araújo é adentrar num mundo oculto, ativar a mente, vomitar os neurônios e engolir algo estranho, arranhento. (Rozineide da Silva Lopes)

As metáforas utilizadas com muita técnica e rigores intrigantes de VCA me causaram uma estranheza. Uma linguagem bastante aguçada, abstrata, densa e, apesar dos poemas serem de versos livres, estamos perante uma obra clássica. (Humberto da Silva Cândido)

Vital afirmou que a expressão através de palavras não pode ser clara, pois assim perde a graça porque o leitor descobre rápido o segredo guardado dentro do texto. (Douglas Henrique Tavares Rocha)

Assim, compreende-se que para VCA, a poesia tem como objetivo compreender o ser, entretanto, homens e mulheres são seres inacabados. (Maria Jailma Galdino de Moura)

Surge-nos a figura ímpar de Vital Corrêa de Araújo, cuja produção literária, poética e prosaica, (principalmente, sua produção poética) corresponde à não-pedagogização, à antioficialização, e à produção anticanônica,  fundamentada no conflito entre dessacralização e ressacralização,  dessublimação e ressublimação das tendências  poéticas neoposmodernas. (João Constantino Gomes Ferreira Neto)

Como entender, por exemplo, um pensamento desconcertante na medida em que VCA, ao derrubar a compreensão da realidade ao “pé da letra”, rompe com os “ideais” da modernidade, colocando-se na contramão de muitos valores que consideramos conquistas imutáveis?  (Marcondes Calazans)

Reajamos, como o pessoal de Letras da FAMASUL está fazendo! (Vital Corrêa de Araújo)

23 de outubro de 2014

POEMAS SINTÉTICOS

Escrevi em um fim de semana (21.10.13) dois poemas sintéticos. O primeiro, a pedido do professor Jailton Ferreira de Oliveira (FAMASUL e Sirinhaém). Ele sugeriu um texto com apenas uma palavra que se repetisse, mudando apenas o sentido; o outro, indicado por Vital Corrêa de Araujo, é uma condensação de uma vida, em um único verso (monóstico).  – Admmauro Gommes




AMARA

Amara!... Amara!...
Amara amara amará?
Amara amara.
Amara?
Amara.


VIVA!

Você está vivo!


Aí, Sylvia disse:


Eu leio “Amara” e não me conformo com esta definição: “poema sintético”. Ora, sintético corresponde a algo resumido. Tudo bem que se pararmos para observar apenas a estrutura do poema, realmente ele não foge da definição de sintético. Mas e outro lado da moeda? Quando falo que não me conformo, na verdade estou me referindo à interpretação do poema. Não existe absolutamente nada de sintético na interpretação de Amara, ela é muito ampla. 

O poeta Admmauro Gommes, como sempre, foi muito engenhoso na sua criação poética. Utilizando apenas uma palavra ele conseguiu o feito de intitular, criar e dar sentido ao poema (este último é o que julgo que há de mais complexo). Como a excelência é parceira dele sempre, o poema de apenas uma palavra, contraditoriamente, não tem apenas um significado. Eu encontrei três interpretações para “Amara” e não duvido que alguém que tenha uma imaginação mais fértil que a minha, seja capaz de encontrar um número maior de sentidos nesse poema tão bem escrito. Falarei sobre a interpretação que mais me fascinou. Para mim, o título corresponde à uma mulher, que se chama obviamente, Amara. 

No primeiro verso, vejo um homem suspirando o nome da mulher amada: “Amara!... Amara!...”. No segundo verso, observo duas perguntas em uma: “Amara amou? Amara vai continuar a amar?”. Dando sequência, vem a confirmação: “Amara amou!”. No quarto verso, uma pontinha de dúvida é colocada: “Amara (a mulher), amou?”, Por fim: “Amara”. “Sintetizando o poema sintético”: Amara amou e sempre amará! Fascinante é ter a plena consciência que toda esta interpretação foi feita tendo como instrumento de estudo, apenas uma palavra. E perturbador é saber como em tão pouco tempo esse desafio foi vencido por Admmauro. 

Observe como ele apresenta o poema: “Escrevi este fim de semana dois poemas sintéticos”. Falou com a tranquilidade de quem sabe o que faz. Isso me impressionou muito, me questionei de imediato: “um final de semana?!”. Sou realista! Se me trancassem em uma sala, me dessem um papel, uma caneta e um desafio desse tamanho, seguido da afirmação: Você só sai dessa sala com um poema sintético, composto por apenas uma palavra e que dê margem à várias interpretações, coitada de mim! Esta sala seria a minha prisão perpétua. 

Tenho sã consciência que uma criação poética de elevadíssimo nível como “Amara” é privilégio para poucos. É por essas e outras que não aceito o título de ex-aluna de Admmauro Gommes nem mesmo na minha lápide, sei que ainda tenho muito para aprender e não posso perder esse meu mestre de vista, afinal: ADMMITO que ADMMIRO ADMMAURO! Com muito orgulho: Parabéns, ilustre poeta!
                                                   Sylvia Beltrão 24 de outubro de 2013 13:49


22 de outubro de 2014

DESMIMESMAMENTO

                                Admmauro Gommes
Não quero que a palavra diga
o que não vem de mim ou me interpretem
desmimesmando.
Portando, crateras de néstogas
e tropel de gímpazos
cordímbula de tráquitos
e moa perdendo suas folhas
no dínamo da última paneta
refigurando a beleza bazela
de Desdêmona injuriada.
Este é o meu retrato mais frazil
feito de liscas e benas maviais.
O mais que disserem de mim será
tráquenas de alguns dorcas retorgentos
ou puramente
a malínea xecônia dos magais. 

10 de outubro de 2014

A POESIA DE WILSON SANTOS

"Existe uma luz que brilha dentro do poeta Wilson Santos, e essa luz chama-se essência, sua altura e profundidade se encontram no que ele consegue materializar quando escreve seus poemas." - Marcondes Calazans


“Wilson Santos agora se mostra domador da alma da Literatura (a poesia)” – Roberto de Queiroz 
Wilson Santos
O professor Wilson tem uma alma poética que vem de longe. Na sua família, registra-se a presença de um grande maestro e ele mesmo é um dos promotores de uma nova metodologia de ensino, quando há mais de duas décadas destacou-se como um inovador ao ensinar a Língua Portuguesa cantando, tomando como base as letras de músicas, ou seja, os grandes poemas da MPB. Não é à toa que percebemos uma carga poética indelével neste Capitão da Poesia. - Admmauro Gommes




DELÍCIAS

Te adoro!
Gosto de te ver
assanhada
dormindo
assoprando
sorrindo
suada
suja
barriga molhada
bonita
arrumada
me abraçando
me dizendo coisas de amor.

E eu
sentindo teu cheiro
teu perfume
tua química
me fazendo homem:
delícia!

Isto tudo
porque és mulher.


AS LETRAS CRIAM ASAS

Meu coração ferve?
chora?
vibra?
chama?
viaja?
Não sei!
É um passado
somado ao presente
brilhando no firmamento do aprender.
É o mundo dos senhores sem senhores
e as letras criam asas
dando sentido a momentos
a histórias
a vida
para hoje
amanhã
sempre!


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9 de outubro de 2014

IMPORTÂNCIA DA LITERATURA



“A literatura é a coisa mais interessante do mundo, talvez mais interessante que o mundo”
Derrida

Se preferir, conheça um texto que aprofundará este tema em


"A importância da literatura está em ser um caminho para interpretação do mundo. Não é o único, mas é o que aguça a capacidade de livre investigação sobre tudo que cerca o homem. Aguça e problematiza, questiona e sugere novos sentidos. Desse modo, Derrida tem razão, pois sem o apoio das metáforas, não seria fácil compreender o significado das coisas." – Admmauro Gommes

"Grande literatura é a palavra carregada de significados até o último grau possível.” - Ezra Pound

Pensar em um mundo sem literatura é pensar no melhor prato sem sabor, um mundo que pode encher os olhos, mas que não se sustenta, é frágil, pois não seduz, não agrega valor emocional, não envolve, não provoca reações sensoriais capazes de produzir arrepios.” - Lourdes Melo (Profª da FAMASUL).


"Dentre todos os modos de se literaturar, o poema, – salvo melhor juízo – é a principal “joia da coroa” do reino encantado intitulado: Literatura.” - Riccardo Guerra (Jaqueira).



6 de outubro de 2014

O CORAÇÃO FERVE

                                                        Cícero Benedito
Cícero CB (2º período de Letras/ FAMASUL )

Sabe-se que poema e poesia são coisas diferentes. Texto estruturado em versos, isso é poema. Porém quando lemos ou ouvimos alguém recitar determinado texto, e sentimos algo 'intraduzível', ocorre a poesia. Salienta-se ainda que a poesia acontece na leitura de uma prosa, na observação da natureza e da pessoa amada. No poema Delícias, o poeta Wilson Santos, estimulado (e não inspirado) por sua amada, externa o eu-lírico, quando escreveu: 'Te adoro! Gosto de te ver... me dizendo coisas de amor'. Já expressamos acima sobre poesia, como algo sem tradução, 'intradução' essa, observada no poema 'As letras criam asas' no qual, Wilson Santos questionou 'Meu coração ferve?...Não sei! É um passado somado ao presente brilhando no firmamento do aprender'. Quem está apto à tradução?


MEU CORAÇÃO TAMBÉM FERVE
Admmauro Gommes

Meu coração ferve até se fartar de chamas
quando me chamas pelo meu nome.
Para não enfartar de tristeza
(quando estás ausente)
é de saudade que eu me alimento
somente.


INCRÍVEL FERVURA
Cida Vilas Boas (São Paulo)

Fervura ou ebulição é um processo em que um corpo aquoso, ao passar por aquecimento constante e gradual, sofre em sua constituição molecular transformando este corpo do estado líquido para o gasoso. Metaforicamente falando, o coração, este pacote de músculos, depósito de sentimentos(?rs), quando se aquece por um estímulo amoroso, agita o sangue de tal forma que este líquido vermelho que dá vida à "vida", se expande em resposta ao compasso frenético do comandante das emoções. Este sangue fervilha (em obediência a ele), ao ponto de sofrer uma sensível mutação.

Bem, como o firmamento para o Professor Wilson não é apenas formado de astros, estrelas, satélites etc, mas também de experiências e aprendizados antigos e atuais, conclui-se que uma alternativa diferenciada vai acontecer.

Os conhecimentos antigos fervilharam a seu tempo e deixaram marcas na medida certa. Estas, acrescidas às do presente, sublimadas e enriquecidas de toda química natural do organismo humano, o sangue ferve sim, pois o coração está flamejante de emoção; mas esse aquecimento não mais o mudará do estado líquido para o gasoso, e sim para um estado especial chamado gozoso... misteriosa alegria, jubilosa felicidade.  
  


2 de outubro de 2014

UM POETA

essência, o ponto de vista, o criador, gnóstico, inspirado, fingidor, iluminado... 

Este debate contou com a participação de 
ADMMAURO GOMMES, ALBANIELLY SOARES, ALEXANDRE FLOREZ, CONSTANTINO GOMES FERREIRA NETO, FARLLA CAROLINE, GABRIELA RAIANNE, JAILTON FERREIRA, MARCONDES CALAZANS, RICARDO GUERRA, ROBERTO DE QUEIROZ, SYLVIA BELTRÃO, VINICIUS DE MORAES, VITAL CORRÊA DE ARAÚJO E FREUD

OS POETAS CONHECEM O CÉU E A TERRA

“Os poetas (...) são aliados preciosos, e o seu testemunho merece a mais alta consideração, porque eles conhecem, entre o céu e a terra, muitas coisas que a nossa sabedoria escolar nem sequer sonha ainda. São, no conhecimento da alma, nossos mestres, que somos homens vulgares, pois bebem de fontes que não se tornaram ainda acessíveis à ciência.”
 FREUD, Sigmund. Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen (1907 [1906]). IN: Obras completas, v.9. Rio de Janeiro: Imago, 1997. 



Poeta Juareiz Correya e Tércio Gommes, na FAMASUL

O POETA ESTENDE A MÃO 
(Admmauro Gommes)
                        
                                                           Para Juareiz Correya

Como quem conhece o destino
o poeta que viveu eras e era
e sempre será bússola e porto
estende a mão a um menino.

Vai pelas madrugadas que caminhei
lentamente enquanto os pássaros
se esqueciam de amanhecer.

Vai, porque nas veredas mais frias
deixei meu coração em chamas.

Vai, aprende minha vida-lição
porque um dia também
precisarás estender tua mão.



Poeta Amigo Admmauro Gommes: 

Este momento, flagrando poetizado e divulgado por você, no blog PROFESSOR DE LITERATURA  é um dos mais felizes que pude vivenciar, no lançamento do AMERICANTO AMAR AMÉRICA E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20, promovido na FAMASUL.  

Há uns quatro anos eu não voltava a Palmares... e essa atividade do Departamento de Letras que você e João Constantino animam me surpreendeu positivamente e muito me agradou mesmo!  E aí aparece o seu filho Tércio! (depois conto umas histórias que essa imagem reavivou na minha memória...) 

Viva você e a sua Poesia!  Muito agradecido pelo poema que você me dedicou e que ainda divulgarei mais abertamente na Internet .

Fraterno abraço panamericano.

Juareiz Correya - Panamérica Nordestal Editora/Panamérica Livraria 




O POETA É...

UM FUNDADOR DE MUNDOS - Admmauro Gommes
O poeta é um fundador de mundos e está sempre dando respostas, como se alguém lhe pedisse explicação dos fatos da vida. Ele descreve o interior das coisas. Não como realmente são, mas como deviam ser. Por isso, o inventor não leva muito em conta os acontecimentos reais. Prefere criar sua própria versão, fazendo do feio bonito, do triste contente e do maldito, bendito.


Ele faz como quer. É por esse motivo que Manoel de Barros, um poeta do Mato Grosso, compreende que se pode tirar poesia até do esgoto. Se o poeta quiser, pode. Veja o exemplo de Augusto dos Anjos: Toma um fósforo. Acende teu cigarro!/ O beijo, amigo, é a véspera do escarro (ANJOS, 1971:146). Que coisa triste, colocar escarro na poesia! Mas é assim mesmo. O que se depreende desses versos não é o sentido frio do dicionário da palavra escarro, mas a grande verdade da vida e que existem pessoas que beijam outras com um beijo traiçoeiro, como Judas, que beijou Cristo para, em seguida, entregá-lo à prisão. Há bajuladores que depois de abraçar os amigos dão-lhe uma punhalada nas costas. Para retratar essa realidade, o poeta diz que o beijo (a parte boa) antecede a parte má (o escarro). Ninguém perguntou, mas ele responde. É assim o mundo visto pela ótica pessimista de quem escreve, embora seja bem mais conhecido dizer que o poeta só fala de amor. O certo é que a tradição não liga muito a ideia de esgoto à poesia. (GOMMES, Admmauro. Intradução poética)


O ENIGMA DO OLHAR DO POETA - Roberto de Queiroz
Roberto de Queiroz
Prezado Admmauro Gommes, são lúcidos seus comentários sobre os textos de Manoel de Barros e Augusto dos Anjos. É perfeitamente possível tirar poesia do esgoto. Também é perfeitamente possível a proximidade entre beijo e escarro. Não no sentido literal (denotativo), mas no sentido literário (conotativo) da palavra. O beijo de Judas e os bajuladores citados em seu texto ilustram muito bem sua linha de raciocínio. Afinal, “[...] o que realmente caracteriza a poesia é o fingimento. Observemos, por exemplo, a primeira estrofe do poema Autopsicografia, de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor./ Finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente.” Esses dois últimos versos revelam claramente que o poeta não anula a existência de uma dor real, mas a dor fingida, a dor que figura no poema, assume uma característica própria e atua com mais intensidade que a dor real.” (QUEIROZ, Roberto de. O poeta e a poesia. In: ____. O enigma do olhar. Olinda: Livro Rápido, 2012, p. 15-16).
      Certos autores definem a poesia como ficção: “Poeta, escreveu Jonson, grande dramaturgo inglês, contemporâneo de Shakespeare e um dos homens mais cultos do seu tempo, é, não aquele que escreve com métrica, mas o que finge e forma uma fábula, pois fabula e ficção são, por assim dizer, a forma e a alma de toda obra poética ou poema.” Já o poeta francês Paul Valéry fez esta definição que se deleita em um belíssimo poema: “Poesia é a tentativa de representar ou de restituir por meio da linguagem articulada aquelas coisas ou aquela coisa que os gestos, as lágrimas, as carícias, os beijos, os suspiros procuram obscuramente exprimir.” “Mas é evidente que a poesia pode nascer também em pleno foco da consciência, e portanto atuar de maneira claramente apreensível. [...] Afinal em poesia tudo é relativo: a poesia não existe em si: será uma relação entre o mundo interior do poeta, com a sua sensibilidade, a sua cultura, as suas vivências, e o mundo interior daquele que o lê” (Manuel Bandeira). (QUEIROZ, Roberto de. In: ____. Meus versos livres e soltos. Recife: Editora do Autor, 1997 [prefácio]).



SER OU NÃO SER POETA - Vital Corrêa de Araújo
VCA
Proverbial a colocação exata do eminente poeta inglês W.H. Auden acerca do trabalho poético e do amor pelo verbo. “Por que você quer escrever poesia? Se a tal questão, jovem poeta, já a braços com fadiga poética, mas entusiasmado com esse novo jogo da vida, responder de chofre: porque tenho importantes coisas a dizer, não é poeta”, fuzila Auden certeiro e exato. Caso responda: porque gosto de curtir as palavras, ouvir o que elas têm a me dizer ou delas algo vou extrair, não sei (ainda) bem o quê; porque gosto de amassar e modelar o verbo como ao barro o oleiro ou ao mármor dar forma ou deformar o escultor. “Então, talvez se torne poeta, conclui Auden”. Então, arguo (Vital), você é poeta?


POETA: SER GNÓSTICO - Riccardo Guerra
Riccardo Guerra
Cuidado, muito cuidado, o "Ser Poeta" é um "Ser Gnóstico" (raríssimo, atualmente), mesmo que nem ele saiba disso, independe do seu credo. O Poeta é um místico que transita livremente entre as sete dimensões e enxerga o mundo com outro olhar. O seu olhar, aquele que ninguém o tem, apenas ele: O POETA. 





A IMORTALIDADE DO POETA - Marcondes Calazans
Marcondes Calazans
O poeta é alguém que pensa. A ideia de poesia é ausente quando ele se encontra de lápis na mão e papel sobre a mesa. Ele (o poeta) escreve o que pensa sobre tudo. Na maioria das vezes, sobre dilemas e agruras existenciais. Poesia e poética são a ética do poeta por vezes na absoluta certeza de que sua dialética é a felicidade e a tristeza, é nutrir-se para quem sabe sorrir ou ficar triste.
Os ingredientes do poeta para compor seus poemas oscilam entre os termos saudade, ausência e solidão. O poeta é o alquimista do poema, às vezes sem rima, sem vírgula, sem interrogação ou exclamação. Ele escreve e independe da razão. Expõe apenas o que se encontra em sua essência, que é o imaterial a conduzi-lo à imortalidade. O poeta não morre jamais! O poeta fala do coração, do que será... Da mulher que passa, como Vinicius de Moraes:

“Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!”

Ou da mulher que fica: “Fica comigo esta noite/E não te arrependerás.” (Adelino Moreira e Nelson Gonçalves). Do amigo que se embriaga por causa dessa mesma mulher. Do amigo que, apenas chora sem uma razão de ser. De quem partiu simplesmente (Admmauro Gommes/
Pelos sete mares):
  
“As pessoas que partem
parecem que partem
alguma coisa dentro de nós.”

O poeta é o único ser cercado de ingredientes suficientes para apenas em algumas linhas transformar uma palavra em verso, bem como uma pedra em poesia (“Tinha um apedra no meio do caminho – CDA). 
O poeta é, simplesmente. Com a poesia, ele tenta tornar possível a transmutação da vida material para o imaterial e, por fim, para a imortalidade (“Cansado de ser moderno/agora serei eterno” - Drummond), que é capaz de prolongar a vida indefinidamente.
O que mais poderia dizer?


PROCURA-SE UM  POETA!
Um poeta não são todos os poetas, essência de iluminados que por virtude ou dom, carrega o cerne transcendental das profundezas da eternidade, de um estado de espírito sem limites entre o mundo que vive e adota e o espaço infinito que cria, recria e inventa.
Se fosse falar do poeta viria em minhas lembranças uma infinidade de nomes, de títulos, de personagens, do mais inusitado na forma de poetizar ao mais previsível na maneira de escrever versos.
Um poeta é essencialmente e igualmente um ser na subjetividade existencial, quando em seus pensamentos se misturam as rimas, os ritmos e os encontros vocálicos e consonantais dos seus versos, na junção de uma vogal, de duas vogais, de uma semivogal mais vogal, mais semivogal de onde simplesmente se origina a sílaba.
Um poeta  é um só ser, embora com várias vertentes em permanente movimento, do agnóstico ao crente, do sonhador ao pragmático, do absoluto ao finito, do restrito ao limitado, do relativo e parcial ao imperfeito, misturado e impuro.
O poeta se encontra fácil, basta se deparar diante de alguém que escreva ou rabisque algumas linhas e defina o que escreveu de poesia, mas Um Poeta não se encontra em qualquer lugar, por ser um ser indivisível na particularidade da sua existência e na infinitude de sua imortalidade.

Procura-se UM  POETA!



O POETA ENXERGA ALÉM DO HORIZONTE  - Albanielly Soares (História/FAMASUL)


Albanielly Soares
Por si só, a palavra poeta já traz uma ideia de algo precioso, de beleza e arte. Nada tão simples, mas também nada tão complexo, pois na verdade a poesia está dentro de cada um, a única diferença está em saber deixar esta criação fluir naturalmente da alma. E como são poucas as pessoas que conseguem fazer isso, os que conseguem, são raros poetas. José de Alencar, diz que: "O cidadão é o poeta do direito e da justiça; o poeta é o cidadão do belo e da arte". Vemos que, como cidadãos, os indivíduos INVENTAM, CRIAM suas leis, regras de convivência e buscam seus direitos. O poeta é alguém que possui características plenas de um ser que ENCANTA e SEDUZ através de suas invenções, de seu vocabulário intenso e de uma fantástica maneira de, a partir destas, expor suas opiniões, seus sentimentos ou tratar da realidade de forma crítica e super ousada. Sua alma é livre para sentir, falar, escrever, criar. E por isso ele enxerga além do horizonte, faz do belo, feio e do feio, belo.


O POETA É UM FINGIDOR
- Gabriela Raianne/Letras (FAMASUL)

Ser poeta é um fingidor de suas dores, é gritar o que sente através das palavras descritas em versos ou poemas, traduz o que pensa do mundo ou das coisas. Poeta, homem tradutor de belas palavras, que invadem os ouvidos das pessoas que leem de forma silenciosa.


O PRIMEIRO OVO FECUNDADO
Vinicius de Moraes
Quantos somos, não sei... Somos um, talvez dois, três, talvez, quatro; cinco, talvez nada
Talvez a multiplicação de cinco em cinco mil e cujos restos encheriam doze terras
Quantos, não sei... Só sei que somos muitos - o desespero da dízima infinita
E que somos belos como deuses mas somos trágicos.
(...)
E enquanto o eterno tirava da música vazia a harmonia criadora
E da harmonia criadora a ordem dos seres e da ordem dos seres o amor
E do amor a morte e da morte o tempo e do tempo o sofrimento
E do sofrimento a contemplação e da contemplação a serenidade imperecível

Nós percorríamos como estranhas larvas a forma patética dos astros
A tudo assistindo e tudo ouvindo e tudo guardando eternamente
Como, não sei... Éramos a primeira manifestação da divindade
Éramos o primeiro ovo se fecundando à cálida centelha. 

Fragmento do poema O POETA. MORAES, Vinicius de. 
Antologia poética. São Paulo: Cia. das Letras, 1994. pp. 32-35.




INDEFINÍVEL - Jailton Ferreira/FAMASUL
Difícil a missão de definir o indefinível. Mas, um poeta é um ser que pensa, que reflete, que inventa, que sabe... e mistura tudo com uma maestria que o eleva ao estado da arte. Que cria, que recria, que atinge os mais altos planos do dizível e do indizível. Nesse último caso, o faz com palavras; e isso o que lhe torna POETA.



NINGUÉM NASCE POETA – Admmauro Gommes

Ninguém nasce poeta. Aos poucos é que o desencanto ou o reencanto da vida apresenta-se sob outra face do entendimento e vai-se compondo o novo mundo do ser que vê os fatos com o olho torto (como diria Manoel de Barros). A percepção aguçada (e incômoda) sobre o corriqueiro, o comum, é que torna o objeto poético interessante seja por sua novidade, estranheza ou elevada carga metafórica, quando em sua forma definitiva no poema. Há, ainda, que comentar a condição de que a arte poética se voltará para o interior do poema ou denunciará o exterior? Como eu disse em outro momento, “Agudas sensações são indizíveis. Dores crônicas, alegrias demasiadas e angústias vitais são amorfas. E por não se traduzir o sentimento profundo, não se admite que o ego atravesse tamanho lamaçal, assim como não se aceita que a poesia absoluta não seja retrato das coisas, mas a “coisa” em si.” Se o elemento poético tiver um olhar mais para fora do texto, que para dentro, será confundido com uma escritura qualquer, jornalística, biográfica, histórica, afastando-se assim da literariedade, condição que revela a força da poesia e do poeta.






É UMA AMEAÇASylvia Beltrão


Ser poeta é conseguir pegar o sol com as mãos nuas e colocá-lo em um pedaço de papel, ao ponto de cegar os olhos do leitor com seus raios metafóricos, ou abrilhantar de emoção um coração sofrido. É tirar de dentro de si aquilo que grita e ninguém consegue escutar, e este grito passa a se chamar verso.

Nas estrelinhas, o poeta consegue sussurrar seus mais íntimos segredos, e a elas prometem ao leitor: “Te provocarei a cada instante!”. É ainda se desligar do mundo, esquecendo que se tem amigos e confiar apenas em um pedaço de papel, como bem disse Machado de Assis: “Tenho a alma feita em maneira que dou apreço ao mínimo, uma vez que seja sincero. Não diria isto a ninguém cara a cara, mas a ti, papel, a ti que me recebes com paciência, e algumas vezes com satisfação, a ti, amigo velho, a ti digo e direi, ainda que me custe, e não me custa nada”. 

Realmente, não custa, basta ser absoluto e dizer sem dizer. Ser poeta é inventar néstogas, e fazer com que esta palavra inaudita, contagie a todos e passe a ser adotada pelo nosso vocabulário diário (e entenda quem puder!). É estar entre o real e o imaginário e muitas vezes fazer com que se pense que o imaginário é real. É uma constante confusão de ideias, ids descompassados, superegos enlouquecidos, loucuras cometidas sem parar para pensar nem por um milésimo de segundo nas consequências sofridas. É ser Vital (com trocadilhos!). Tudo isso são sintomas da doença crônica do poeta. Ser poeta é uma ameaça... apaixonante!



ACUJELÊ BANZAI!  - Alexandre Florez (Cachoeira do Sul/RS)
Alexandre Florez
O poeta, ah o poeta. Mário de Andrade dizia que o poeta "come amendoim!" Certamente o amendoim do poeta lhe confere poderes a lá Super Pateta, e, infelizmente, poderes com prazo de validade (tempo/circunstância) pré determinado... Ferreira Gullar afirma ironicamente que: "O preço do feijão não cabe no poema". O fingidor mor da língua Pátria Fernando Pessoa se auto descreve definindo a temporalidade geográfica de si no singelo poema Eu Sou do Tamanho do que Vejo, pela voz de seu alter ego Alberto Caieiro: "sou do tamanho do que vejo/e não, do tamanho da minha altura". O poeta, ah o poeta. Manuel Bandeira enseja: "Acujelê Banzai!" Seja o que for, ou como for expressa não o caráter mítico dionisíaco sei lá mais que do cerne do poeta & do poema. Mas é bonito pra danar! Poetas, fingidores, autores, autodidatas & outras palavrices... Ah ppoeta eu tenho certeza de que não conheces as respostas. Apenas perguntas. Amontoados de perguntas. Vale a Pena??? Fico com Fernando Pessoa: Tudo vale a pena se alma não é pequena!



O MUNDO SERIA BEM MAIS VULNERÁVEL E TRISTE SEM ELES - João Constantino Gomes Ferreira Neto 
João Constantino
Talvez um arquiteto das palavras; um artesão (Melhor, um ourives...). Sua ferramenta pode ser o lápis; a caneta; o grafite; o giz; o carvão ou será o coração? Não importa. O poeta é mais que isso (bem mais). Mais até do que este “mais”.
Ser poeta é ser um, dois, três....mil. É procurar entender e não ser entendido; convencer, sem estar convencido...provocar, e aceitar provocações. A propósito disto, mais uma vez, vimo-nos impelidos pelo nosso amigo e poeta (poeta, dos bons!), Admmauro Gommes, a tergiversar sobre o tema “O que é um poeta?” Sem dúvida, uma provocação que suscita uma série de divagações.
Segundo a professora Madalena Oliveira, “O poeta é aquele que pensa com a alma e a deixa falar”. Não sei, não...(e os concretistas?)
Poeta é um ser diferenciado, travestido de homem (ou de mulher) que, antecipando-se às reações mais diversas, invoca e provoca pessoas e instituições. São indivíduos que se surpreendem e nos surpreendem, com suas palavras, direcionadas ou não; ordenadas ou não, objetivamente ou não.
E são esses construtores de sonhos (às vezes, medonhos...) que nos permeiam o imaginário; que nos levam, e se deixam levar, pelas propostas e temas, por eles, os poetas, criados.
Seja ou não um fingidor, cheio de vontades, livre... o poeta rompe com as convenções e também nos liberta, porque consegue dizer, de maneira harmoniosa e melodiosa (ou não) aquilo que sentimos, mas não conseguimos externar, ou seja, o poeta nos desnuda e nos traduz. E, com isso, muda nossa forma de pensar, de agir, de falar...
Seriam eles, os poetas, serem iluminados, que irradiam uma energia que se espalha e atinge corações e mentes, fazendo-nos refletir nossa própria condição incondicional de seres propensos e vulneráveis às suas manipulações e maniqueísmos? Pois é.
E o que dizer dos intraduzíveis?
Esses sujeitos maravilhosos, os quais, com a sensibilidade mais (e melhor) aguçada, registram e refletem, em forma de poesia, o universo caótico que nos circunda. O que são esses homens (e essas mulheres?)
Artífices das nossas mais diversas quimeras, os poetas criam e evocam temas que emocionam, e que se encaixam (ou não) dentro de nós, causando-nos atração ou repulsa, através de seus versos diversos, que dão vida aos textos, e criam pretextos para, assim, justificar (ou não) suas emoções e suas reações diante de um mundo, cada vez mais complexo, reflexo da intraduzibilidade e da insensibilidade de algumas de suas camadas mais significantes.
As efusões emotivas da poesia do nosso tempo tentam reverter a opacidade e tristeza dos corações e mentes, sendo eles, os poetas encarregados de reverter (ou não) essas circunstâncias inusitadas, que se espalham pelo imaginário do dia a dia.
O mundo seria bem mais vulnerável, triste, e sem perspectiva, sem esses paladinos, defensores dos sentimentos, dos egos e abnegos que se instalaram em nós e que, muitas vezes, não nos deixam alternativas, senão sonhar como eles e/ou através deles, esses seres abençoados (ou amaldiçoados) que nos encantam, ao se encantarem com tudo o que transformam (e só eles) em poesia.   



FINGE QUE ESTÁ FINGINDO - Farlla Caroline

Farlla Caroline
O que é um poeta? Descrevê-lo não é uma tarefa tão fácil. Isto porque ele é um fingidor, ou seja, finge que está contente, finge que está triste, finge que está fingindo e finge até que não é capaz de fingir. Ele brinca com as palavras, a ponto de descrever o que para as pessoas comuns é indescritível. Sua missão é criar novos mistérios, encantar as pessoas a ponto de fazê-las acreditarem em um mundo utópico, cheio de fantasias.
Como disse Florbela Espanca em um de seus poemas: “Ser poeta é ser mais alto, é ser maior./Do que os homens!”. Cada poeta é único e possui a necessidade de transformar coisas simples e corriqueiras em poesia. Melhor dizendo, o verdadeiro poeta enxerga poesia em tudo a sua volta, até mesmo em uma pedra, como Drummond: “No meio do caminho tinha uma pedra./Tinha uma pedra no meio do caminho.”

Na verdade, poeta é todo aquele que se sente capaz de se “desligar” da realidade e de criar seu próprio universo, com a finalidade de desvendar o infinito por meio dos mais belos poemas.




MUITO GRATO PELA PARTICIPAÇÃO DE TODOS